terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Mentiras e limitação no relacionamento

Existem formas de se responder a algumas questões que não são comuns para uma pessoa, quem tem relacionamento de longa data percebe isso, normalmente uma fala mais retraída, tom mais fraco, volume mais baixo, expressão lacônica. Não apenas mentiras são observadas nessa situação, mas pensamentos, memórias que passam pela cabeça e alteram o humor, enrijecimento dos músculos, repetição de movimentos.

Perguntas ou um simples questionamento socrático podem penetrar nesses pensamentos e verificar sua autenticidade.

Um ponto a se considerar: crianças mentirosas são inteligentes, pois mentira envolve criatividade e raciocínio, é mais difícil mentir, criar contextos que se encaixam numa forma de manipular a percepção do outro. Refletir a moral do ato não envolve destruir a capacidade de fazê-lo, pois caímos naquela discussão se devemos mentir ou não, e entramos numa discussão ética.

Quando se comenta "Sou tímido e olho pra baixo não conseguindo olhar no olho pra responder, mas não estou mentido", o problema está em não conseguir olhar, ser restringindo no seu relacionamento com o outro. Olhar por olhar é relativo, mas ser incapaz de olhar no olho com necessidade de se responder a uma pergunta, é algo que precisa ser refletido.

Importante lembrar também que temos uma representação dos olhos. Quem não deixa de sentir alguma coisa quando vê uma foto em que há alguém com olhos em direção a quem está olhando a foto (olhando para a lente)? Alguns estudos científicos nessa área mostram que o comportamento das pessoas é alterado em função desse olhar, inclusive com sensação de ser observado, vergonha, timidez, inibição.

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domingo, 15 de novembro de 2009

O caso da aluna agredida dentro da faculdade

Eu fico pensando se ela teria recebido as ameaças e xingamentos se ela fosse tão bela quanto as moças que fazem ensaios sensuais ou pornográficos.

Eu admito que fiquei decepcionado quando vi a moça e o vestido. Não só o vestido não era tão curto quanto havia pensando como ela não é sensacionalmente bela.

Mas, ainda assim, algo precisa ser admitido: se eu estivesse entrando na faculdade, caminhando para a catraca e alí visse uma mulher usando uma minissaia, eu iria olhar, bonita ou mesmo feia, especialmente se a minissaia fosse curta, e isso iria me fazer pensar depois no que eu vi.

Daí que isso mostra como usar uma minissaia realmente chama atenção e uma bem curta mais ainda, tanto a atenção de homens quanto de mulheres. O que eu não tinha muita consciência antigamente era que a atenção das mulheres também era "despertada". O que elas querem ver alí? Algo muito diferente do que vêem todo dia? Isso me faz lembrar a situação de um colega (que também já aconteceu comigo) que estava caminhando com a namorada num shopping e viu uma moça olhar sua namorada dos pés à cabeça e posteriormente fazer o mesmo com ele, isso de uma forma bem discarada. Mulheres olham bastante outras mulheres.

Já vi mulheres de biquini nessas lojinhas da Baixada Santista, às vezes usando uma camiseta e o bíquini, ás vezes de tanga e top, outras só de camiseta e farol aceso, lá é algo normal, mesmo nos supermercados perto da praia de grande movimento (apesar que entrar de biquini num lugar desses já é mais raro de se ver, ao não ser as tiazonas que vão de top mesmo todo dia). É de se pensar se numa faculdade de lá isso teria ocorrido, o "acesso visual real" a grande parte do corpo é possível o ano inteiro.

Precisamos saber se a moça em questão era alvo de piadas, se ela fazia competição com outras colegas, problemas relacionais, se ela tinha uma vida sexual diversificada, se já "caiu na rede" um coleção de fotos comprometedoras. Enfim, investigação comum para crimes de bullying, que é o que aconteceu nesse caso.

Por que xingaram ela logo de puta? Eu dúvido que a metade dos caras que gritaram isso nunca foi num inferninho, nunca foi numa balada beijar bêbada, nunca ficou contando quantas minas já beijou e transou. Isso me faz lembrar do senso comum "mina pra ficar, mina pra casar". Daí que a resposta feminista tem que ser massissa (como aconteceu no dia em que voltaram atrás na expulsão).

Eu gostaria de ouvir o outro lado dessa história. O que a rapaziada tinha na cabeça quando fez isso? Por que denegriram a mulher? Eles vêem isso todo dia na televisão. O mesmo vale se a moça "batalha programa": já é profissão regulamentada. E que moralidade é essa que só vale para os corredores da faculdade? Fico pensando se o desrespeito dos agressores com a moça não seria uma forma de expressar o medo em ser desrespeitado, no caso dos homens, e o medo em não ser amada, no caso das mulheres, mas isso são só hipóteses.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

´´Roupas e Contexto II``

Eu estava caminhando pela calçada , em meu trajeto de retorno da faculdade para casa , como faço habitualmente me dirigiando ao ponto de ônibus , quando percebi e a isso me detive alguns instantes, deitado no chão um mendigo,ele parecia dormir tranquilamente, ao seu lado um carrinho de mão manufaturado aparentemente com pedaços de madeira aleatórios, dentro dele alguns objetos e sacolas, objetos conseguidos creio eu no decorrer de sua caminhada que de exaustão o levou a deitar-se onde o avistei, objetos que tomam nova forma de instrumento em lugar do lixo que ocupavam anteriormente.
Deitado lateralmente com a cabeça recostada sobre seu braço como em um travesseiro, parecia invisível ou pelo menos as pessoas o deixavam em paz em virtude de sua aparência disconexas com uma demanda de atenção, precisamos de um eliciador para nos preocupar com o outro, que tal suas roupas?
O sentimento que me assombrou naquele momento foi o de que talvez este a quem me refiro, não lhe fosse pertinente ilusões, talvez sua vivência o demonstrou que ninguem está disposto ( e mesmo não lhes é possivel) a ocupar-se com a angústia alheia.
Talvez seja uma ótima psicoterapia ser mendigo e lidar com a inospitalidade do mundo.

*Quando escrevi o texto de volta para casa não tinha um titulo ao Ler o post do Marcelo achei que havia uma certa interligação a questão da roupa e do contexto esta presente em ambos .

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Roupas e Contexto

Uma mulher vestindo uma minissaia entra numa faculdade bem movimentada. Ao longo do percurso dentro da instituição, os frequentadores da faculdade vêem as pernas, coxas e culote da mulher. Essas pessoas começam a desvalorizar, ofender e ameaçar a mulher. A manifestação atinge grande proporção e as atividades escolares são interrompidas. A mulher retira-se da instituição sob escolta policial e xingamento por parte da multidão que se aglomera para vê-la sair.

1. Por que ela foi para a faculdade vestindo uma minissaia?
2. Por que ela foi xingada?
3. Por que houve grande participação na manifestação?
4. Por que especificamente essa mulher foi alvo de manifestação por causa da roupa que vestia, sendo que outras mulheres também usam o mesmo tipo de vestido?

Há de se considerar o acontecimento dentro de um contexto. Uma roupa não tem "poder" para movimentar tantas pessoas e de forma tão agressiva.

sábado, 31 de outubro de 2009

As duas escolhas.

Na vida nós temos duas escolhas: escolher e escolher.

É difícil considerar uma inevitabilidade de escolha, mas é aquela velha "meta-algumacoisa-ção". Não escolher já é por si só uma escolha.

Mesmo que se pondere sobre não termos responsabilidade sobre algo que nos é feito propositalmente ou não, anteriormente já escolhemos alguma coisa que permitiu a escolha de outra sobre a nossa escolha.

Por exemplo, estar vivo. Só é possível a morte para aqueles que escolhem anteriormente viver. Mesmo que você não tenha como evitar a sua morte, você escolhe estar vivo para morrer, a cada segundo da sua vida. Isso é profundamente reflexivo quando se considera nosso "escambo de cada mínimo momento", em que aceitamos a troca de uma parte de nós (tempo, condições físicas, mentai) pelo mero existir, até onde pudermos, até onde nem sabermos mais "onde vai dar".

Pois é. Escolher, a ação, processo de escolher é inexorável. Não dá pra parar de escolher. Não escolher uma coisa implica em escolher outra, a negativa se limita ao conteúdo, não à ação. Posso escolher não realizar uma possibilidade mas não deixar de exercer minha escolha. Isso quer dizer, escolher é humano.

Quem sabe esse tipo de reflexão desperte, então, responsabilidade.