segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Comportamento de filhos e tendências

"Crianças tendem a ter o mesmo comportamento dos pais."

Assim como não repetem em nada o comportamento. Se a generalização fosse verdadeira não existiria a rebeldia e as revoluções.

Na ditaruda, havia uma parte da população de pais que era conivente com a repressão, enquanto seus filhos já criticavam o "cálice".

Atualmente a propaganda é forte no sentido de alucinar os filhos e a partir destes os pais, de forma que sigam seus desejos e comportamento.

Existem algumas estatísticas mostrando por exemplo que filhos de mães esquizofrênicas têm 4 vezes mais chances de serem esquizofrênicos.

O psicólogo canadense Albert Bandura em meados do século XX já pesquisava a influência da observação pela criança do comportamento de adultos no comportamento da criança, o que foi denominado aprendizagem social, por meio do condicionamento vicário ou indireto, sem que a pessoa precise se engajar num comportamento (operar) para aprendê-lo ou modelá-lo.

Ainda assim, a concepção de homem nessa psicologia cognitiva parte do princípio que os humanos são auto-conscientes, podem se colocar como objeto de sua reflexão, ou seja, não é determinista.

Também é importante dizer que há muitos comportamentos que as crianças podem observar sem ser os dos pais, há muita tecnologia disponível dificultando essa limitação.

É comum ouvir esse discurso de pais que pretendem educar seus filhos em casa, sem escola, de forma que passem seus valores para a criança, o que é protegido pela constituição. Na escola a criança tem acesso a outras pessoas e culturas, ampliando sua percepção de mundo.

Mais no orkut.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Dúvidas sobre ética

Se a pessoa não se apresenta como psicólogo, ela não está ferindo o código de ética, não temos como denunciá-la. Não está atuando como profissional da Psicologia, mas "terapeuta", exceto nas atribuições privativas.

E minha dúvida vai nesse sentido: participo de uma comunidade sobre Sonhos Lucidos, nela eu comento sobre os sonhos relatados, o processo do sono e até tiro dúvidas. Certas vezes me sinto "privilegiado" pois tenho acesso a informações obtidas como graduando de psicologia que facilitam meus questionamentos.

Para tentar separar, tenho respondido de forma genérica e limitado ao contexto científico. Frequentemente respondo com uma pergunta "terapêutica", com o intuito de provocar reflexão e até escrevo para não responder ao meu questionamento alegando que seria anti-ético e que isso poderia ser levado numa sessão de análise. Se perguntarem formação, respondo que sou graduando de psicologia ou fã do tema.

Daí tenho me questionado se isso não caracteriza uma intervenção terapêutica, principalmente quando se propõe algo próximo a um início de uma análise de algum relato de sonho, e se essa postura não prejudica a categoria como um todo no momento em que informações e questionamentos possíveis de serem utilizados numa terapia (cobrados) estariam sendo veiculados via orkut. O que vai contra isso é o apoio científico fornecido "prontamente" no momento em que uma pergunta simples é realizada.

Seria isso suficiente para caracterizar aconselhamento?
O questionamento do relato inicial de um sonho via orkut é anti-ético?

Só estaria liberado se me apresentasse como "terapeuta", mas digamos que eu fosse psicólogo formado e com CRP, isso não configuraria uma falta ética mesmo com essa apresentação "dissociativa"?

São questões que envolvem mais a minha ética pessoal e que alcançam a valorização da profissão de psicólogo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Dúvida sobre ocorrência de sonhos lucidos

O que você fazia antes (técnicas, hábitos, vivência) e o que você fez depois?

Bons hábitos na vida desperta influenciam na qualidade de sono e consequentemente na ocorrência de sonhos. (James Maas)

Você pode ter sonho tanto no início do sono, como na fase não-REM e na REM. O melhor sonho se dá na fase REM, em que há desmodulação da atividade neural e ativação de algumas áreas do cérebro que trazem mais emoção e vivacidade pra vivência onírica.

Texto integral no orkut.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

"Dreaming", o sonhar.

Sintetizado a partir de: Enciclopédia de Ciências Cognitivas do MIT

- Atividade mental não cessa no sono;

- Não é contínua, varia nível e intensidade conforme estado do cérebro de REM para Não-REM.

- Até descoberta do REM em 1953 por Aserinsky e Kleitman, era limitado à especulações dos esforços de interpretá-los esquematicamente.

- Freud: bizarrice do sonho é por causa de "censor" da mente que modifica desejos inconsciente liberados no sono para não acordar.

- Depois 1953, objetivo é explicar atividade neural embasando o fenômeno.

- Sonhos em REM: sete vezes mais longos, mais perpceções sensoriais e imagens visuais mais vividas. Mais provável de ser animado, com descrições de andar, correr, fazer esportes ou até voar. Cenários acompanhados de forte emoções como ansiedade, elação e raiva em relacionamento próximo à trama.

- Sonhos em Não-REM: mais pensativos e chatos/entediantes [dull].

- Ativação cerebral é um determinante para tamanho do sonho e intesidade visual, pois Não-REM tem baixa atividade de onda cerebral.

- Aumenta-se o limite para estimulação de sensorial externa, o que permite estímulos internos dominarem o cérebro, este até proteje o cérebro do primeiro no sono REM.

- Com mais estimulo, informação externa pode ser incorporada na trama do sonho, mas possibilidade é pequena e pode interromper sonho e acordar. Quando se acorda assim, se em sono REM, lembrança do sonho é de 95%.

- 1977: hipótese da ativação-sintese, sonho ativado pelo sono REM. Vivência vívida associada a sinais das regiões límbicas, visual e motor da parte superior do cérebro. Bizarrice por causa da natureza caótica do processo de autoativação e falha da memória de curto prazo por causa da mudança química do sono REM.

- Técnicas de gravação por microeletrodos: sistema neuromodulatório cerebral bem diferente do sono REM para acordado. Acordado as celulas noradrenérgicas e serotonérgicas estão ativas, em sono REM, desligadas. Assim, cérebro aminergicamente desmodulado e não pode processar informação da mesma forma que acordado, amnésia e bizarrice vem daí. Neurônios pontine colinérgicos intensamente ativados e ativam outras áreas sensorias, motores e amidala.

- Pode ocorrer sonhos no início [onset] do sono e no sono Não-REM.

- Teoria do Modelo Tridimensional do Local e Espaço, i.e., Ativação cerebral, Fonte de Entrada e força e Modo de processamento (Activation, Input and Mode, AIM). Acordado, máximo de AIM, AIM intermediário para Não-REM e máximo de Ativação e zero de Input e Modo no REM.

- Bloqueadores psicofarmacológicos que suprimem neurotransmissores aminérgicos diminiuem sono e sonho em REM. Depois de tirados, intensifica-se sonhos e até psicose pode ocorrer. Sonhos em REM são potencializados por impedidores colinérgicos.

Discutindo sonhos III

Psychology: Themes and Variations Por Wayne Weiten

Cinco pontos relacionados à Psicologia do Sono e Sonhos
- Contexto socio-histórico
- Subjetividade da experiência
- Herança cultural
- Causação multifatorial
- Diversidade teorética

Discutindo sonhos II

Se eu eu tenho um sonho bom eu quero sonhá-lo até não aguentar mais rs

Mas quando eu fico lucido no sonho eu consigo reverter a situação, normalmente é mais fácil quando já temos alguma ideia de como lidar com a situação (outra coisa que pode ser usada e extraída dos sonhos: criatividade).

Por exemplo, hoje eu sonhei que estava com uma companhia muito agradável, foi muito prazeroso, mas ela dizia que estava com problemas, eu tentava contorná-los (mesmo que a minha resposta fosse absurda de ser aplicada), até um ponto que simplesmente desapareceu, não consegui mais fazê-la voltar e mudei de sonho.

Pretendo retornar nele hoje ou até conseguir, mas lucidamente. Uma coisa que eu tenho dificuldade nos sonhos é quando as pessoas não conseguem mudar, é até uma dúvida: vocês também sentem algo como livre-arbítrio nas pessoas dos sonhos? rs Vou tentar fazer uma mágica qualquer e ver o que dá. Apesar de que isso está mais relacionado a minha abertura com os outros no meu mundo do sonho (característica do meu Dasein onírico, ser-com-os-outros-no-mundo [das Mitsein]).

Essa é uma vivência que tentamos lidar nos sonhos e que os resultados obtidos podem ser aplicados na vigília, pelo menos para termos mais confiança, e eu me sinto mais seguro quando já tive algo similar a experiência que estou vivendo no momento, algo que os psicólogos sociais cognitivos chamariam "motivação epistêmica", relacionada à procurarmos obter informações dos locais e das pessoas para melhor nos relacionar.

Acho que podemos avançar muito cientificamente no que se refere às possibilidades existenciais no sonho. Só porque não é compartilhado não implica dizer que é inútil e seja esgotável de motivação.

Quem alcança o sonho lucido tem uma ferramenta a mais pra lidar com essas situações. Apesar de que nesse caso os fins justificam os meios, realmente depende da pessoa, casuísmo.

Discutindo sonhos

Há uma distinção entre as ciências naturais e humanas. Como o Merleau-Ponty escreveu no prefácio da Fenomenologia da Percepção:
"a ciência não tem e não terá jamais o mesmo sentido de ser que o mundo percebido, pela simples razão de que ela é uma determinação ou uma explicação dele."

Tem uma análise dessas considerações e outras no artigo A geografia e a experiência do mundo - Profa. Dra. Amélia Regina. Descobri procurando esta frase no google e achei bem interessante esse artigo. O prefácio desse livro do Merleau-Ponty é muito bem escrito, didático e pega o cerne da questão metafísica.

Isso envolve dizer que não podemos meramente considerar que uma vai substituir a outra pois mesmo que a neurociência descubra que os sonhos são feitos "disso e disso" e servem pra "isso e isso", continuaremos com a discussão do "die Traumdeutung" ou entendimento dos sonhos, que pra Freud é "die Traumauslegung", interpretação.

O método fenomenológico envolve acima de tudo uma atitude fenomenológica, resultando na redução fenomenológica, que seria, enfim, "colocar em parenteses" as considerações prévias sobre o fenômeno, assim como os achados neurocientíficos que seriam uma explicação do fenomeno, daí que permanecemos na análise da experiência vivida e sua compreensão. As explicações científicas então são secundárias e têm isso como base.

A diferença está na questão que Boss levanta: interpretar envolve verificar a simbologia, descriptar a bizarrice do sonho (no caso de Freud) ou utilizar a bizarrice como componente da simbologia e não algo a ser deixado de lado (Jung). Boss partindo do "zu Sachen selbst" de Husserl, "às coisas mesmas", atem-se ao que está lá, à experiência e intencionalidade da pessoa, dessa forma, um chapeu não quer dizer um símbolo fálico, mas de fato, um chapéu, nada "realmente" além disso.

Sobre o aspecto no consciente, foi por meio do "Waking Life" que eu entrei em contato com a teoria de que a atividade neural que "cria" o mundo em vigília é a mesma do sonho, com diferença que a reação e veracidade no sonho não é a mesma acordado, consequencia da adaptação ao meio.

O que eu considero incrível dos sonhos lúcidos é exatamente poder criar o que quiser. Quanta coisa que eu nunca tive na vida eu já pude experienciar sonhando, até mais do que esperava e ainda voltar pro sonho e conseguir viver de novo e mais intensamente (interessantemente eu conseguia isso bem facilmente quando era criança e tinha muita criatividade) Não obstante, são me fornecidas dicas para como aplicar isso na minha vida desperta e compartilhada.

Acho que essa é uma característica que temos a oportunidade de fazer e considero essencial: fazer dos sonhos realidade, uma espécie de Epicurismo, "fazer da vida uma obra de arte". Pois se fazemos arte em tetos de igreja e telas de pano, por que não com nós mesmos?

Eu já tive sonhos muito bons mas que não lembro detalhes que sejam suficientes para recriá-los, o que eu lembro é que eu me senti muito bem. Que mais podemos querer? Não existe droga melhor rs

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Comentando texto na coluna do Prof. Luiz Pondé

Leia o texto do Pondé aqui.

Sou ateu e muito feliz por isso. Também sou FÃ DO PONDÉ e já tive oportunidade de falar isso pessoalmente pra ele. Gente que tem "as sacadas" como ele tem merece respeito.

O Pondé é pós-doc em epistemologia. Ele manja mais que muita gente que o criticou ad hoc nesse assunto. Só lamento.

O texto é bom e segue o estilo despojado dele. Foi escrito para um público-alvo acostumado a sua escrita e criticando um tipo específico de ateu que ele mesmo vivenciou.

O que eu tiro pra mim do texto é: de tão presos no ateísmo, perdemos a noção de considerar o todo e a experiência religiosa, rancoroso e cafona nesse sentido eu mesmo já pensei antes.

Todos no fim tem o mesmo objetivo: mais ou menos segurança, amor, comida e blá blá blá. O que difere é o método e a diversidade características da condição humana.

E sinto muito, é função de um ateu atualizado ir além das críticas às mazelas religiosas (e não são poucas) e já que estamos juntos nessa, tentar tirar logo algo de proveitoso e produtivo das pessoas crentes pois é muito reducionista e pode ser egoista agir baseado no ateísmo como "única coisa vai fazer sua vida mudar". Pode melhorar e com certeza ser agente transformador, mas não só isso, temos outros métodos eficientes. Se fosse tão limitado seria impossível trabalhar em grupos rs Nesse sentido, eu tô com o Pondé.

Agora, criticando o prof. Pondé, acreditar em si mesmo pode ser cafona mas na hora do aperto é o que sobra na prática né. Por isso que nessas horas tiro Ray-ban da gaveta rs

Questionando fraqueza II

Religião é bem mais complexa do que dizer que há um "inferno" e um "céu". Envolve uma experiência religiosa de êxtase. Nem sempre a própria identidade se mantém, obedecendo então aos ordenamentos do líder.

Eu como ateísta percebo que algumas pessoas têm consciência dos nossos argumentos, estão cientes e críticas, mas uma questão que eu sempre trago é: por que então essas pessoas permanecem acreditando sendo que não são burras, têm cultura, têm crítica?

Para Sartre, desenvolveria-se a angústia derivada da nossa liberdade e sua escolha e responsabilidade, algo ininterrupto pela nossa imanência no mundo, "podemos tudo menos deixar de ser livres". Dessa forma, haveria brecha para a instauração de um "ser necessário", causa de si mesmo, sua existência.

Por isso que é tão difícil de se desenvolver epistemológicamente em Psicologia. Heidegger bateu direto nessa "questão de ser", obscurecida pela história da filosofia como questão fechada, já determinada. O humano tem uma volatilidade muito grande, muda mas pode ficar preso com a mesma força que teria para mudar.

Assisti a um filme recentemente que aborda melodramaticamente essa concepção, The Watchmen ou "Os Vigilantes", em que super-heróis tem muitos poderes mas não podem mudar as escolhas que os seres humanos fazem. Isso desperta um conceito existencial: não podemos mudar as pessoas mas dar os motivos para que elas mudem, uma vez que elas e apenas elas fazem por si mesmas.

E a discussão ética volta: "maquiavelianicamente", eu prefiro que uma pessoa então acredite que Deus existe, faça o que é certo e bom pra sociedade, se isso é o que a manterá. Importante é que haja crítica para que se perceba que a sua não-existência não implicaria em ruína do que é humano, isso é natural.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Questionando fraqueza

Evolutivamente, os mais adaptados e fortes sobrevivem. Nós estamos aqui hoje porque fomos/somos fortes para resistir e manter nossa saúde.

Quanto se entra na questão do VALOR, quem é o melhor, fraco ou forte, daí começa a ficar relativo, pois se estamos fracos momentaneamente significa dizer que não somos bons?

Fraqueza não é algo "integral", TUDO fraco. Esse tipo de generalização que se critica. O Yoga do Star Wars andando parece que tá morrendo, quando alguém tem que lutar pra valer ele que é o mestre. É um exemplo de como fica incoerente a generalização.

Se eu não sou bom numa coisa, ou seja, sou fraco, isso então me desvaloriza como existência? Não é porque uma pessoa precisa tomar antidepressivo para lidar com uma situação que isso faz dela uma pessoa melhor ou pior, mas que fez uma escolha em relação à si mesma.

É mais interessante e produtivo criticar se houve criatividade, se se considerou o contexto, daí, se ela foi a mais adequada e coerente. O mesmo vale pra religião: se a pessoa precisa acreditar que há algo além pra fazer alguma coisa, entramos numa discussão ética: um resultado não foi obtido? Será que realmente ela foi fraca ou então esperta?

Outra questão ainda na percepção é relacionada à capacidade potencial da pessoa, aquilo que ainda não é, mas vai ser, projeto. Como humanos, sempre estamos assim, direcionados às coisas e daí nos vêmos imersos num mundo.

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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Raiva

As pessoas "tranquilas", que dificilmente ficam irritadas, estão reprimindo sua raiva, ou estão fazendo certo em não irritar-se com qualquer coisa?

Nesta pergunta temos duas questões:

- As pessoas "tranquilas", que dificilmente ficam irritadas, estão reprimindo sua raiva?
- As pessoas "tranquilas" estão fazendo certo em não irritar-se com qualquer coisa?

Há muitas formas de se expressar raiva. Podemos inclusive expressá-la de modo que passemos a informação e sem que o outro sinta-se ofendido ou tenha intenção de revidar também agressivamente.

Será que podemos considerar que há algo sendo reprimido uma vez que não encontramos reações físicas e emocionais?

Um pai ao lado do filho que fica nervoso com uma pessoa na rua e ao invés de bater na pessoa expressa tranquilidade e contorna a situação com um comportamento mais aceitável e criativo, fica a questão se isso é uma repressão ou uma resposta inteligente.

No contexto podemos perceber se a tranquilidade é coerente. Se o comportamento é de tranquilidade quando "internamente" há algo "pulsando", precisamos considerar também o porquê de sentir a raiva e o porquê de expressar tranquilidade, se é de fato uma forma adequada de expressar os sentimentos negativos. Não apenas a pessoa considera essa reposta como menos ruim, mas sim como um produto social valorizado.

Importante não confundirmos uma resposta tranquila com passividade. Com certeza seria possível considerar algo não expressado nem tematizado como fonte de descontentamento com nossa ação no mundo e nos outros.

Para a segunda pergunta, "não irritar-se com qualquer coisa", o tipo de humor que procura encarar as situações de modo sereno, risonho, de bem com a vida se apresenta como o mais saudável para nossa saúde mental.


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Psicologia e Mídia II

Satre consideraria "ilusão de completude" como má-fé, uma vez que se refugia por detrás de paixões e determismo. Felizmente não temos completude, somos enquanto nos fazemos ser, sempre projeto. Foucault também criticaria esse dispositivo e a falta de inovação do homem. Nietzsche tem uma frase direta nesse sentido: "estamos cansados do homem".

Enfim, há várias formas de análisar a questão e a problematização que eu faço caminha para uma discussão ética e um projeto de civilização.

Perceba que fazer um comercial e a programação televisiva justifica um compromisso ético da televisão. Pedrinho Guaresci aborda isso no documentário "Criança, a alma do negócio" do Instituo Alana, comentando a influência da mídia na constituição da subjetividade. O CFP tem trocentos livros abordando isso, o Conselho aqui de SP tem mais trocentos livros com as sistematizações e resultados dos eventos preparatórios e congressos sobre o assunto.

Há uma literatura muito vasta abordando esse assunto e a primeira impressão pode ser sim "é algo comum, está atrelado" mas investigando um pouco melhor dá pra perceber vários constituintes que definitivamente tendencionam para o aspecto da violência. O próprio Ronaldo mudou sua fala num comercial da Brahma, até então "guerreiro" para "brahmeiro", uma vez que estava envolvido em situações delicadas e envolvendo sua imagem e personalidade.

Nos testes psicológicos projetivos esses conteúdos são utilizados para se considerar condições limitantes no indivíduo e a desculpa mais usada "foi sem intenção" não funciona.

Quem diria que poderíamos considerar a televisão uma produtora cultural da nossa sociedade? Isso implica deveres para com o cidadão e é uma prerrogativa constituicional. Às empresas de televisão é concedido com prazo de validade um espaço para veiculação de sua programação e o caráter educativo é dever.

Não é por causa do comercial mas compõe a representação que temos. E eu não preciso me limitar a esse evento no Couto Pereira pra criticar não só o futebol e sua representação que temos atualmente como as propagandas de bebidas alcoolicas como um todo. É diferente de criticar a prática do futebol.

É comum ouvirmos desculpas como "politicamente correto" para defender a suposta liberdade de expressão. Vai na mesma ondas dos promotores que querem o direito de condenar publicamente homossexualISMO, ou os extremistas religiosos que usam a liberdade de expressão para deteriorar e limitar a liberdade de expressão.

É um erro da nossa parte considerar "apenas esse comercial" uma vez que há uma indústria que se utiliza das brechas na nossa legislação pra propagar a ignorância e alienação. Eu não sei você mas eu não estou satisfeito.


Criança, a Alma do Negócio - Documentário do Instituto Alana


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Psicologia e Mídia I

Numa propaganda de uma empresa de bebida alcoólica tem-se a comparação do futebol a uma guerra. O que tem a ver transformar torcedores de futebol numa rua em soldados ensandecidos armados com espadas e escudos? Nem relação com o futebol nem com a cerveja.

O que queremos? Vender bebida ou incitar violência? Ouça um pouco o vídeo do CFP. Tem um trecho da Ana Bock exatamente comentando como as produtoras desses comerciais aproveitam algo de expressão ampla e popular para associar à venda de seus produtos e a Goffmann comentando a naturalização desses produtos e campanhas ("sempre foi assim"). Dá pra se questionar bastante quem está ganhando com o futebol: enquanto as emissoras de TV batem recorde de lucros os torcedores ideologizados sentem mais raiva e depressão.

É tão alucinante que os torcedores se armam, brigam e se matam e quem faz alguma coisa efetiva são os jogadores no campo. É o cúmulo da alienação.

Isso porque só estamos considerando em relação ao futebol. O forte dos produtores está no machismo e exploração das mulheres. "Tome uma cerveja e você terá tudo o que deseja na sua vida, principalmente mulheres gostosas. É incrível como elas caem de quatro por uma pessoa que bebe cerveja, instaneamente elas se tornam apaixonadas e burras, fáceis de serem exploradas."

Vale lembrar: não apenas bebidas alcoolicas mas brinquedos. Na bebida, o enfoque na valorização do indivíduo EM grupo (coerente com o modo de beber masculino), nos brinquedos, o enfoque na valorização do indivíduo DO grupo (coerente com o mundo restrito e autocentrado da criança).

Tudo ingenuamente, claro, questão de "gosto".

Proposta do CFP para a 1ª Conferência Nacional de Comunicação
Pelo Fim das Publicidade de bebidas alcoolicas

domingo, 6 de dezembro de 2009

"A simples expressão de condenação ao homossexualismo"

Lendo as consequências da PL 122/06 eu cheguei em alguns sites religiosos. Um deles, que critica a PL, traz um link: Totalitarismo Gay, no qual consta a conclusão (e que pra dizer a verdade fomentou este post todo) de um promotor de justiça:

Os homossexuais usam e abusam do termo "preconceito", com que rotulam qualquer opiniăo que recrimine sua conduta sexual. No entanto, a simples expressăo de condenaçăo moral, filosófica ou religiosa ao homossexualismo năo se constitui em discriminaçăo, mas exercício da liberdade de conscięncia e opiniăo. Os gays năo tęm qualquer direito de exigir que sua conduta sexual seja mais digna de respeito e consideraçăo que as crenças alheias a respeito da homossexualidade.


Fui procurar um FAQ sobre a lei no Não Homofobia e obtive:

1. É verdade que o PLC 122/2006 restringe a liberdade de expressão?

Não, é mentira. O projeto de lei apenas [b]pune condutas e discursos preconceituosos[/b]. É o que já acontece hoje no caso do racismo, por exemplo. Se substituirmos a expressão cidadão homossexual por negro ou judeu no projeto, veremos que não há nada de diferente do que já é hoje praticado.

É preciso considerar também que a liberdade de expressão não é absoluta ou ilimitada - ou seja, ela não pode servir de escudo para abrigar crimes, difamação, propaganda odiosa, ataques à honra ou outras condutas ilícitas. Esse entendimento é da melhor tradição constitucionalista e também do Supremo Tribunal Federal.

Posteriormente, temos:

Concessões públicas (como rádios ou TV's), manifestações públicas ou outros meios não podem ser usados para incitar ódio ou divulgar manifestações discriminatórias – seja contra mulheres, negros, índios, pessoas com deficiência ou homossexuais. A liberdade de culto (religioso) não pode servir de escudo para ataques a honra ou a dignidade de qualquer pessoa ou grupo social.


Daí que ficam as dúvidas:

- Restringe ou não restringe a liberdade de expressão?
- Como se aborda a crítica "năo tęm qualquer direito de exigir que sua conduta sexual seja mais digna de respeito e consideraçăo que as crenças alheias"?
- O que é uma conduta ou discurso preconceituoso? Como isso é medido?
- Que tipo de conduta é constitucional e possível de expressar seus desgosto pelos homossexuais, se é que isso possa co-existir, de forma que um possa não continuar gostando e outro possa continuar sendo sem sentir-se ofendido?


Digo isso pois a PL é bem firme, e como pune até proprietários de estabelecimentos comerciais em que ocorreu a discriminação, essas dúvidas aumentam. Se sou um proprietário, tenho um excelente funcionário e ele tem um relacionamento agradável com todos funcionários, mas numa situação específica, papo descontraído, de grande extroversão de um colega gay, este funcionário reprime e impulsivamente denigre sua imagem, "vê se vira homem seu afrescalhado". O colega gay vai na delegacia amparado pela PL e o estabelecimento numa falha de sua defesa termina por pegar 3 meses de suspensão do funcionamento. Que rolo.


Em quase todos os lugares em que eu frequento, seja faculdade, ruas, locais religiosos, comércios, chats, o que for, há situações de desvalorização do homossexual e até de uma forma bem simples e espontânea, abrangindo várias idades e culturas, como nos comentários de adultos "O filho dele tem 7 anos e já tem trejeito...Poutz, vai se ferrar pra cuidar", de adolescentes "Olha que bichona, vai dá na zona", "já era, tá afrescalhado, deixou de ser homem", de mulheres "que desgraça, ele é bonito, inteligente, tem dinheiro e é gay", de crianças "professora, ele é gay...hahahaha (geral)". Se eu for numa igreja católica ou numa Universal (que estão abrindo várias filiais perto de casa), subir no palanque e dizer "os gays são grandes pessoas e vão trazer o progresso para nação" vão rir e até ficar nervosos comigo (se eu já não tiver corrido).


Ou seja, é um baque.


Pergunta polêmica e irônica: Podemos considerar a lei uma parte fundamental no desenvolvimento do pensamento, mas é possível considerar uma situação em que se dê valorização do homossexual sem necessitar de cadeia para quem não concorda? E o que há nessa "condenadinha básica de cada dia"?


O que vocês acham?


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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Mentiras e limitação no relacionamento

Existem formas de se responder a algumas questões que não são comuns para uma pessoa, quem tem relacionamento de longa data percebe isso, normalmente uma fala mais retraída, tom mais fraco, volume mais baixo, expressão lacônica. Não apenas mentiras são observadas nessa situação, mas pensamentos, memórias que passam pela cabeça e alteram o humor, enrijecimento dos músculos, repetição de movimentos.

Perguntas ou um simples questionamento socrático podem penetrar nesses pensamentos e verificar sua autenticidade.

Um ponto a se considerar: crianças mentirosas são inteligentes, pois mentira envolve criatividade e raciocínio, é mais difícil mentir, criar contextos que se encaixam numa forma de manipular a percepção do outro. Refletir a moral do ato não envolve destruir a capacidade de fazê-lo, pois caímos naquela discussão se devemos mentir ou não, e entramos numa discussão ética.

Quando se comenta "Sou tímido e olho pra baixo não conseguindo olhar no olho pra responder, mas não estou mentido", o problema está em não conseguir olhar, ser restringindo no seu relacionamento com o outro. Olhar por olhar é relativo, mas ser incapaz de olhar no olho com necessidade de se responder a uma pergunta, é algo que precisa ser refletido.

Importante lembrar também que temos uma representação dos olhos. Quem não deixa de sentir alguma coisa quando vê uma foto em que há alguém com olhos em direção a quem está olhando a foto (olhando para a lente)? Alguns estudos científicos nessa área mostram que o comportamento das pessoas é alterado em função desse olhar, inclusive com sensação de ser observado, vergonha, timidez, inibição.

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