segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Comportamento de filhos e tendências

"Crianças tendem a ter o mesmo comportamento dos pais."

Assim como não repetem em nada o comportamento. Se a generalização fosse verdadeira não existiria a rebeldia e as revoluções.

Na ditaruda, havia uma parte da população de pais que era conivente com a repressão, enquanto seus filhos já criticavam o "cálice".

Atualmente a propaganda é forte no sentido de alucinar os filhos e a partir destes os pais, de forma que sigam seus desejos e comportamento.

Existem algumas estatísticas mostrando por exemplo que filhos de mães esquizofrênicas têm 4 vezes mais chances de serem esquizofrênicos.

O psicólogo canadense Albert Bandura em meados do século XX já pesquisava a influência da observação pela criança do comportamento de adultos no comportamento da criança, o que foi denominado aprendizagem social, por meio do condicionamento vicário ou indireto, sem que a pessoa precise se engajar num comportamento (operar) para aprendê-lo ou modelá-lo.

Ainda assim, a concepção de homem nessa psicologia cognitiva parte do princípio que os humanos são auto-conscientes, podem se colocar como objeto de sua reflexão, ou seja, não é determinista.

Também é importante dizer que há muitos comportamentos que as crianças podem observar sem ser os dos pais, há muita tecnologia disponível dificultando essa limitação.

É comum ouvir esse discurso de pais que pretendem educar seus filhos em casa, sem escola, de forma que passem seus valores para a criança, o que é protegido pela constituição. Na escola a criança tem acesso a outras pessoas e culturas, ampliando sua percepção de mundo.

Mais no orkut.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Dúvidas sobre ética

Se a pessoa não se apresenta como psicólogo, ela não está ferindo o código de ética, não temos como denunciá-la. Não está atuando como profissional da Psicologia, mas "terapeuta", exceto nas atribuições privativas.

E minha dúvida vai nesse sentido: participo de uma comunidade sobre Sonhos Lucidos, nela eu comento sobre os sonhos relatados, o processo do sono e até tiro dúvidas. Certas vezes me sinto "privilegiado" pois tenho acesso a informações obtidas como graduando de psicologia que facilitam meus questionamentos.

Para tentar separar, tenho respondido de forma genérica e limitado ao contexto científico. Frequentemente respondo com uma pergunta "terapêutica", com o intuito de provocar reflexão e até escrevo para não responder ao meu questionamento alegando que seria anti-ético e que isso poderia ser levado numa sessão de análise. Se perguntarem formação, respondo que sou graduando de psicologia ou fã do tema.

Daí tenho me questionado se isso não caracteriza uma intervenção terapêutica, principalmente quando se propõe algo próximo a um início de uma análise de algum relato de sonho, e se essa postura não prejudica a categoria como um todo no momento em que informações e questionamentos possíveis de serem utilizados numa terapia (cobrados) estariam sendo veiculados via orkut. O que vai contra isso é o apoio científico fornecido "prontamente" no momento em que uma pergunta simples é realizada.

Seria isso suficiente para caracterizar aconselhamento?
O questionamento do relato inicial de um sonho via orkut é anti-ético?

Só estaria liberado se me apresentasse como "terapeuta", mas digamos que eu fosse psicólogo formado e com CRP, isso não configuraria uma falta ética mesmo com essa apresentação "dissociativa"?

São questões que envolvem mais a minha ética pessoal e que alcançam a valorização da profissão de psicólogo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Dúvida sobre ocorrência de sonhos lucidos

O que você fazia antes (técnicas, hábitos, vivência) e o que você fez depois?

Bons hábitos na vida desperta influenciam na qualidade de sono e consequentemente na ocorrência de sonhos. (James Maas)

Você pode ter sonho tanto no início do sono, como na fase não-REM e na REM. O melhor sonho se dá na fase REM, em que há desmodulação da atividade neural e ativação de algumas áreas do cérebro que trazem mais emoção e vivacidade pra vivência onírica.

Texto integral no orkut.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

"Dreaming", o sonhar.

Sintetizado a partir de: Enciclopédia de Ciências Cognitivas do MIT

- Atividade mental não cessa no sono;

- Não é contínua, varia nível e intensidade conforme estado do cérebro de REM para Não-REM.

- Até descoberta do REM em 1953 por Aserinsky e Kleitman, era limitado à especulações dos esforços de interpretá-los esquematicamente.

- Freud: bizarrice do sonho é por causa de "censor" da mente que modifica desejos inconsciente liberados no sono para não acordar.

- Depois 1953, objetivo é explicar atividade neural embasando o fenômeno.

- Sonhos em REM: sete vezes mais longos, mais perpceções sensoriais e imagens visuais mais vividas. Mais provável de ser animado, com descrições de andar, correr, fazer esportes ou até voar. Cenários acompanhados de forte emoções como ansiedade, elação e raiva em relacionamento próximo à trama.

- Sonhos em Não-REM: mais pensativos e chatos/entediantes [dull].

- Ativação cerebral é um determinante para tamanho do sonho e intesidade visual, pois Não-REM tem baixa atividade de onda cerebral.

- Aumenta-se o limite para estimulação de sensorial externa, o que permite estímulos internos dominarem o cérebro, este até proteje o cérebro do primeiro no sono REM.

- Com mais estimulo, informação externa pode ser incorporada na trama do sonho, mas possibilidade é pequena e pode interromper sonho e acordar. Quando se acorda assim, se em sono REM, lembrança do sonho é de 95%.

- 1977: hipótese da ativação-sintese, sonho ativado pelo sono REM. Vivência vívida associada a sinais das regiões límbicas, visual e motor da parte superior do cérebro. Bizarrice por causa da natureza caótica do processo de autoativação e falha da memória de curto prazo por causa da mudança química do sono REM.

- Técnicas de gravação por microeletrodos: sistema neuromodulatório cerebral bem diferente do sono REM para acordado. Acordado as celulas noradrenérgicas e serotonérgicas estão ativas, em sono REM, desligadas. Assim, cérebro aminergicamente desmodulado e não pode processar informação da mesma forma que acordado, amnésia e bizarrice vem daí. Neurônios pontine colinérgicos intensamente ativados e ativam outras áreas sensorias, motores e amidala.

- Pode ocorrer sonhos no início [onset] do sono e no sono Não-REM.

- Teoria do Modelo Tridimensional do Local e Espaço, i.e., Ativação cerebral, Fonte de Entrada e força e Modo de processamento (Activation, Input and Mode, AIM). Acordado, máximo de AIM, AIM intermediário para Não-REM e máximo de Ativação e zero de Input e Modo no REM.

- Bloqueadores psicofarmacológicos que suprimem neurotransmissores aminérgicos diminiuem sono e sonho em REM. Depois de tirados, intensifica-se sonhos e até psicose pode ocorrer. Sonhos em REM são potencializados por impedidores colinérgicos.

Discutindo sonhos III

Psychology: Themes and Variations Por Wayne Weiten

Cinco pontos relacionados à Psicologia do Sono e Sonhos
- Contexto socio-histórico
- Subjetividade da experiência
- Herança cultural
- Causação multifatorial
- Diversidade teorética

Discutindo sonhos II

Se eu eu tenho um sonho bom eu quero sonhá-lo até não aguentar mais rs

Mas quando eu fico lucido no sonho eu consigo reverter a situação, normalmente é mais fácil quando já temos alguma ideia de como lidar com a situação (outra coisa que pode ser usada e extraída dos sonhos: criatividade).

Por exemplo, hoje eu sonhei que estava com uma companhia muito agradável, foi muito prazeroso, mas ela dizia que estava com problemas, eu tentava contorná-los (mesmo que a minha resposta fosse absurda de ser aplicada), até um ponto que simplesmente desapareceu, não consegui mais fazê-la voltar e mudei de sonho.

Pretendo retornar nele hoje ou até conseguir, mas lucidamente. Uma coisa que eu tenho dificuldade nos sonhos é quando as pessoas não conseguem mudar, é até uma dúvida: vocês também sentem algo como livre-arbítrio nas pessoas dos sonhos? rs Vou tentar fazer uma mágica qualquer e ver o que dá. Apesar de que isso está mais relacionado a minha abertura com os outros no meu mundo do sonho (característica do meu Dasein onírico, ser-com-os-outros-no-mundo [das Mitsein]).

Essa é uma vivência que tentamos lidar nos sonhos e que os resultados obtidos podem ser aplicados na vigília, pelo menos para termos mais confiança, e eu me sinto mais seguro quando já tive algo similar a experiência que estou vivendo no momento, algo que os psicólogos sociais cognitivos chamariam "motivação epistêmica", relacionada à procurarmos obter informações dos locais e das pessoas para melhor nos relacionar.

Acho que podemos avançar muito cientificamente no que se refere às possibilidades existenciais no sonho. Só porque não é compartilhado não implica dizer que é inútil e seja esgotável de motivação.

Quem alcança o sonho lucido tem uma ferramenta a mais pra lidar com essas situações. Apesar de que nesse caso os fins justificam os meios, realmente depende da pessoa, casuísmo.

Discutindo sonhos

Há uma distinção entre as ciências naturais e humanas. Como o Merleau-Ponty escreveu no prefácio da Fenomenologia da Percepção:
"a ciência não tem e não terá jamais o mesmo sentido de ser que o mundo percebido, pela simples razão de que ela é uma determinação ou uma explicação dele."

Tem uma análise dessas considerações e outras no artigo A geografia e a experiência do mundo - Profa. Dra. Amélia Regina. Descobri procurando esta frase no google e achei bem interessante esse artigo. O prefácio desse livro do Merleau-Ponty é muito bem escrito, didático e pega o cerne da questão metafísica.

Isso envolve dizer que não podemos meramente considerar que uma vai substituir a outra pois mesmo que a neurociência descubra que os sonhos são feitos "disso e disso" e servem pra "isso e isso", continuaremos com a discussão do "die Traumdeutung" ou entendimento dos sonhos, que pra Freud é "die Traumauslegung", interpretação.

O método fenomenológico envolve acima de tudo uma atitude fenomenológica, resultando na redução fenomenológica, que seria, enfim, "colocar em parenteses" as considerações prévias sobre o fenômeno, assim como os achados neurocientíficos que seriam uma explicação do fenomeno, daí que permanecemos na análise da experiência vivida e sua compreensão. As explicações científicas então são secundárias e têm isso como base.

A diferença está na questão que Boss levanta: interpretar envolve verificar a simbologia, descriptar a bizarrice do sonho (no caso de Freud) ou utilizar a bizarrice como componente da simbologia e não algo a ser deixado de lado (Jung). Boss partindo do "zu Sachen selbst" de Husserl, "às coisas mesmas", atem-se ao que está lá, à experiência e intencionalidade da pessoa, dessa forma, um chapeu não quer dizer um símbolo fálico, mas de fato, um chapéu, nada "realmente" além disso.

Sobre o aspecto no consciente, foi por meio do "Waking Life" que eu entrei em contato com a teoria de que a atividade neural que "cria" o mundo em vigília é a mesma do sonho, com diferença que a reação e veracidade no sonho não é a mesma acordado, consequencia da adaptação ao meio.

O que eu considero incrível dos sonhos lúcidos é exatamente poder criar o que quiser. Quanta coisa que eu nunca tive na vida eu já pude experienciar sonhando, até mais do que esperava e ainda voltar pro sonho e conseguir viver de novo e mais intensamente (interessantemente eu conseguia isso bem facilmente quando era criança e tinha muita criatividade) Não obstante, são me fornecidas dicas para como aplicar isso na minha vida desperta e compartilhada.

Acho que essa é uma característica que temos a oportunidade de fazer e considero essencial: fazer dos sonhos realidade, uma espécie de Epicurismo, "fazer da vida uma obra de arte". Pois se fazemos arte em tetos de igreja e telas de pano, por que não com nós mesmos?

Eu já tive sonhos muito bons mas que não lembro detalhes que sejam suficientes para recriá-los, o que eu lembro é que eu me senti muito bem. Que mais podemos querer? Não existe droga melhor rs

Mais no orkut.

Comentando texto na coluna do Prof. Luiz Pondé

Leia o texto do Pondé aqui.

Sou ateu e muito feliz por isso. Também sou FÃ DO PONDÉ e já tive oportunidade de falar isso pessoalmente pra ele. Gente que tem "as sacadas" como ele tem merece respeito.

O Pondé é pós-doc em epistemologia. Ele manja mais que muita gente que o criticou ad hoc nesse assunto. Só lamento.

O texto é bom e segue o estilo despojado dele. Foi escrito para um público-alvo acostumado a sua escrita e criticando um tipo específico de ateu que ele mesmo vivenciou.

O que eu tiro pra mim do texto é: de tão presos no ateísmo, perdemos a noção de considerar o todo e a experiência religiosa, rancoroso e cafona nesse sentido eu mesmo já pensei antes.

Todos no fim tem o mesmo objetivo: mais ou menos segurança, amor, comida e blá blá blá. O que difere é o método e a diversidade características da condição humana.

E sinto muito, é função de um ateu atualizado ir além das críticas às mazelas religiosas (e não são poucas) e já que estamos juntos nessa, tentar tirar logo algo de proveitoso e produtivo das pessoas crentes pois é muito reducionista e pode ser egoista agir baseado no ateísmo como "única coisa vai fazer sua vida mudar". Pode melhorar e com certeza ser agente transformador, mas não só isso, temos outros métodos eficientes. Se fosse tão limitado seria impossível trabalhar em grupos rs Nesse sentido, eu tô com o Pondé.

Agora, criticando o prof. Pondé, acreditar em si mesmo pode ser cafona mas na hora do aperto é o que sobra na prática né. Por isso que nessas horas tiro Ray-ban da gaveta rs

Questionando fraqueza II

Religião é bem mais complexa do que dizer que há um "inferno" e um "céu". Envolve uma experiência religiosa de êxtase. Nem sempre a própria identidade se mantém, obedecendo então aos ordenamentos do líder.

Eu como ateísta percebo que algumas pessoas têm consciência dos nossos argumentos, estão cientes e críticas, mas uma questão que eu sempre trago é: por que então essas pessoas permanecem acreditando sendo que não são burras, têm cultura, têm crítica?

Para Sartre, desenvolveria-se a angústia derivada da nossa liberdade e sua escolha e responsabilidade, algo ininterrupto pela nossa imanência no mundo, "podemos tudo menos deixar de ser livres". Dessa forma, haveria brecha para a instauração de um "ser necessário", causa de si mesmo, sua existência.

Por isso que é tão difícil de se desenvolver epistemológicamente em Psicologia. Heidegger bateu direto nessa "questão de ser", obscurecida pela história da filosofia como questão fechada, já determinada. O humano tem uma volatilidade muito grande, muda mas pode ficar preso com a mesma força que teria para mudar.

Assisti a um filme recentemente que aborda melodramaticamente essa concepção, The Watchmen ou "Os Vigilantes", em que super-heróis tem muitos poderes mas não podem mudar as escolhas que os seres humanos fazem. Isso desperta um conceito existencial: não podemos mudar as pessoas mas dar os motivos para que elas mudem, uma vez que elas e apenas elas fazem por si mesmas.

E a discussão ética volta: "maquiavelianicamente", eu prefiro que uma pessoa então acredite que Deus existe, faça o que é certo e bom pra sociedade, se isso é o que a manterá. Importante é que haja crítica para que se perceba que a sua não-existência não implicaria em ruína do que é humano, isso é natural.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Questionando fraqueza

Evolutivamente, os mais adaptados e fortes sobrevivem. Nós estamos aqui hoje porque fomos/somos fortes para resistir e manter nossa saúde.

Quanto se entra na questão do VALOR, quem é o melhor, fraco ou forte, daí começa a ficar relativo, pois se estamos fracos momentaneamente significa dizer que não somos bons?

Fraqueza não é algo "integral", TUDO fraco. Esse tipo de generalização que se critica. O Yoga do Star Wars andando parece que tá morrendo, quando alguém tem que lutar pra valer ele que é o mestre. É um exemplo de como fica incoerente a generalização.

Se eu não sou bom numa coisa, ou seja, sou fraco, isso então me desvaloriza como existência? Não é porque uma pessoa precisa tomar antidepressivo para lidar com uma situação que isso faz dela uma pessoa melhor ou pior, mas que fez uma escolha em relação à si mesma.

É mais interessante e produtivo criticar se houve criatividade, se se considerou o contexto, daí, se ela foi a mais adequada e coerente. O mesmo vale pra religião: se a pessoa precisa acreditar que há algo além pra fazer alguma coisa, entramos numa discussão ética: um resultado não foi obtido? Será que realmente ela foi fraca ou então esperta?

Outra questão ainda na percepção é relacionada à capacidade potencial da pessoa, aquilo que ainda não é, mas vai ser, projeto. Como humanos, sempre estamos assim, direcionados às coisas e daí nos vêmos imersos num mundo.

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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Raiva

As pessoas "tranquilas", que dificilmente ficam irritadas, estão reprimindo sua raiva, ou estão fazendo certo em não irritar-se com qualquer coisa?

Nesta pergunta temos duas questões:

- As pessoas "tranquilas", que dificilmente ficam irritadas, estão reprimindo sua raiva?
- As pessoas "tranquilas" estão fazendo certo em não irritar-se com qualquer coisa?

Há muitas formas de se expressar raiva. Podemos inclusive expressá-la de modo que passemos a informação e sem que o outro sinta-se ofendido ou tenha intenção de revidar também agressivamente.

Será que podemos considerar que há algo sendo reprimido uma vez que não encontramos reações físicas e emocionais?

Um pai ao lado do filho que fica nervoso com uma pessoa na rua e ao invés de bater na pessoa expressa tranquilidade e contorna a situação com um comportamento mais aceitável e criativo, fica a questão se isso é uma repressão ou uma resposta inteligente.

No contexto podemos perceber se a tranquilidade é coerente. Se o comportamento é de tranquilidade quando "internamente" há algo "pulsando", precisamos considerar também o porquê de sentir a raiva e o porquê de expressar tranquilidade, se é de fato uma forma adequada de expressar os sentimentos negativos. Não apenas a pessoa considera essa reposta como menos ruim, mas sim como um produto social valorizado.

Importante não confundirmos uma resposta tranquila com passividade. Com certeza seria possível considerar algo não expressado nem tematizado como fonte de descontentamento com nossa ação no mundo e nos outros.

Para a segunda pergunta, "não irritar-se com qualquer coisa", o tipo de humor que procura encarar as situações de modo sereno, risonho, de bem com a vida se apresenta como o mais saudável para nossa saúde mental.


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Psicologia e Mídia II

Satre consideraria "ilusão de completude" como má-fé, uma vez que se refugia por detrás de paixões e determismo. Felizmente não temos completude, somos enquanto nos fazemos ser, sempre projeto. Foucault também criticaria esse dispositivo e a falta de inovação do homem. Nietzsche tem uma frase direta nesse sentido: "estamos cansados do homem".

Enfim, há várias formas de análisar a questão e a problematização que eu faço caminha para uma discussão ética e um projeto de civilização.

Perceba que fazer um comercial e a programação televisiva justifica um compromisso ético da televisão. Pedrinho Guaresci aborda isso no documentário "Criança, a alma do negócio" do Instituo Alana, comentando a influência da mídia na constituição da subjetividade. O CFP tem trocentos livros abordando isso, o Conselho aqui de SP tem mais trocentos livros com as sistematizações e resultados dos eventos preparatórios e congressos sobre o assunto.

Há uma literatura muito vasta abordando esse assunto e a primeira impressão pode ser sim "é algo comum, está atrelado" mas investigando um pouco melhor dá pra perceber vários constituintes que definitivamente tendencionam para o aspecto da violência. O próprio Ronaldo mudou sua fala num comercial da Brahma, até então "guerreiro" para "brahmeiro", uma vez que estava envolvido em situações delicadas e envolvendo sua imagem e personalidade.

Nos testes psicológicos projetivos esses conteúdos são utilizados para se considerar condições limitantes no indivíduo e a desculpa mais usada "foi sem intenção" não funciona.

Quem diria que poderíamos considerar a televisão uma produtora cultural da nossa sociedade? Isso implica deveres para com o cidadão e é uma prerrogativa constituicional. Às empresas de televisão é concedido com prazo de validade um espaço para veiculação de sua programação e o caráter educativo é dever.

Não é por causa do comercial mas compõe a representação que temos. E eu não preciso me limitar a esse evento no Couto Pereira pra criticar não só o futebol e sua representação que temos atualmente como as propagandas de bebidas alcoolicas como um todo. É diferente de criticar a prática do futebol.

É comum ouvirmos desculpas como "politicamente correto" para defender a suposta liberdade de expressão. Vai na mesma ondas dos promotores que querem o direito de condenar publicamente homossexualISMO, ou os extremistas religiosos que usam a liberdade de expressão para deteriorar e limitar a liberdade de expressão.

É um erro da nossa parte considerar "apenas esse comercial" uma vez que há uma indústria que se utiliza das brechas na nossa legislação pra propagar a ignorância e alienação. Eu não sei você mas eu não estou satisfeito.


Criança, a Alma do Negócio - Documentário do Instituto Alana


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Psicologia e Mídia I

Numa propaganda de uma empresa de bebida alcoólica tem-se a comparação do futebol a uma guerra. O que tem a ver transformar torcedores de futebol numa rua em soldados ensandecidos armados com espadas e escudos? Nem relação com o futebol nem com a cerveja.

O que queremos? Vender bebida ou incitar violência? Ouça um pouco o vídeo do CFP. Tem um trecho da Ana Bock exatamente comentando como as produtoras desses comerciais aproveitam algo de expressão ampla e popular para associar à venda de seus produtos e a Goffmann comentando a naturalização desses produtos e campanhas ("sempre foi assim"). Dá pra se questionar bastante quem está ganhando com o futebol: enquanto as emissoras de TV batem recorde de lucros os torcedores ideologizados sentem mais raiva e depressão.

É tão alucinante que os torcedores se armam, brigam e se matam e quem faz alguma coisa efetiva são os jogadores no campo. É o cúmulo da alienação.

Isso porque só estamos considerando em relação ao futebol. O forte dos produtores está no machismo e exploração das mulheres. "Tome uma cerveja e você terá tudo o que deseja na sua vida, principalmente mulheres gostosas. É incrível como elas caem de quatro por uma pessoa que bebe cerveja, instaneamente elas se tornam apaixonadas e burras, fáceis de serem exploradas."

Vale lembrar: não apenas bebidas alcoolicas mas brinquedos. Na bebida, o enfoque na valorização do indivíduo EM grupo (coerente com o modo de beber masculino), nos brinquedos, o enfoque na valorização do indivíduo DO grupo (coerente com o mundo restrito e autocentrado da criança).

Tudo ingenuamente, claro, questão de "gosto".

Proposta do CFP para a 1ª Conferência Nacional de Comunicação
Pelo Fim das Publicidade de bebidas alcoolicas

domingo, 6 de dezembro de 2009

"A simples expressão de condenação ao homossexualismo"

Lendo as consequências da PL 122/06 eu cheguei em alguns sites religiosos. Um deles, que critica a PL, traz um link: Totalitarismo Gay, no qual consta a conclusão (e que pra dizer a verdade fomentou este post todo) de um promotor de justiça:

Os homossexuais usam e abusam do termo "preconceito", com que rotulam qualquer opiniăo que recrimine sua conduta sexual. No entanto, a simples expressăo de condenaçăo moral, filosófica ou religiosa ao homossexualismo năo se constitui em discriminaçăo, mas exercício da liberdade de conscięncia e opiniăo. Os gays năo tęm qualquer direito de exigir que sua conduta sexual seja mais digna de respeito e consideraçăo que as crenças alheias a respeito da homossexualidade.


Fui procurar um FAQ sobre a lei no Não Homofobia e obtive:

1. É verdade que o PLC 122/2006 restringe a liberdade de expressão?

Não, é mentira. O projeto de lei apenas [b]pune condutas e discursos preconceituosos[/b]. É o que já acontece hoje no caso do racismo, por exemplo. Se substituirmos a expressão cidadão homossexual por negro ou judeu no projeto, veremos que não há nada de diferente do que já é hoje praticado.

É preciso considerar também que a liberdade de expressão não é absoluta ou ilimitada - ou seja, ela não pode servir de escudo para abrigar crimes, difamação, propaganda odiosa, ataques à honra ou outras condutas ilícitas. Esse entendimento é da melhor tradição constitucionalista e também do Supremo Tribunal Federal.

Posteriormente, temos:

Concessões públicas (como rádios ou TV's), manifestações públicas ou outros meios não podem ser usados para incitar ódio ou divulgar manifestações discriminatórias – seja contra mulheres, negros, índios, pessoas com deficiência ou homossexuais. A liberdade de culto (religioso) não pode servir de escudo para ataques a honra ou a dignidade de qualquer pessoa ou grupo social.


Daí que ficam as dúvidas:

- Restringe ou não restringe a liberdade de expressão?
- Como se aborda a crítica "năo tęm qualquer direito de exigir que sua conduta sexual seja mais digna de respeito e consideraçăo que as crenças alheias"?
- O que é uma conduta ou discurso preconceituoso? Como isso é medido?
- Que tipo de conduta é constitucional e possível de expressar seus desgosto pelos homossexuais, se é que isso possa co-existir, de forma que um possa não continuar gostando e outro possa continuar sendo sem sentir-se ofendido?


Digo isso pois a PL é bem firme, e como pune até proprietários de estabelecimentos comerciais em que ocorreu a discriminação, essas dúvidas aumentam. Se sou um proprietário, tenho um excelente funcionário e ele tem um relacionamento agradável com todos funcionários, mas numa situação específica, papo descontraído, de grande extroversão de um colega gay, este funcionário reprime e impulsivamente denigre sua imagem, "vê se vira homem seu afrescalhado". O colega gay vai na delegacia amparado pela PL e o estabelecimento numa falha de sua defesa termina por pegar 3 meses de suspensão do funcionamento. Que rolo.


Em quase todos os lugares em que eu frequento, seja faculdade, ruas, locais religiosos, comércios, chats, o que for, há situações de desvalorização do homossexual e até de uma forma bem simples e espontânea, abrangindo várias idades e culturas, como nos comentários de adultos "O filho dele tem 7 anos e já tem trejeito...Poutz, vai se ferrar pra cuidar", de adolescentes "Olha que bichona, vai dá na zona", "já era, tá afrescalhado, deixou de ser homem", de mulheres "que desgraça, ele é bonito, inteligente, tem dinheiro e é gay", de crianças "professora, ele é gay...hahahaha (geral)". Se eu for numa igreja católica ou numa Universal (que estão abrindo várias filiais perto de casa), subir no palanque e dizer "os gays são grandes pessoas e vão trazer o progresso para nação" vão rir e até ficar nervosos comigo (se eu já não tiver corrido).


Ou seja, é um baque.


Pergunta polêmica e irônica: Podemos considerar a lei uma parte fundamental no desenvolvimento do pensamento, mas é possível considerar uma situação em que se dê valorização do homossexual sem necessitar de cadeia para quem não concorda? E o que há nessa "condenadinha básica de cada dia"?


O que vocês acham?


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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Mentiras e limitação no relacionamento

Existem formas de se responder a algumas questões que não são comuns para uma pessoa, quem tem relacionamento de longa data percebe isso, normalmente uma fala mais retraída, tom mais fraco, volume mais baixo, expressão lacônica. Não apenas mentiras são observadas nessa situação, mas pensamentos, memórias que passam pela cabeça e alteram o humor, enrijecimento dos músculos, repetição de movimentos.

Perguntas ou um simples questionamento socrático podem penetrar nesses pensamentos e verificar sua autenticidade.

Um ponto a se considerar: crianças mentirosas são inteligentes, pois mentira envolve criatividade e raciocínio, é mais difícil mentir, criar contextos que se encaixam numa forma de manipular a percepção do outro. Refletir a moral do ato não envolve destruir a capacidade de fazê-lo, pois caímos naquela discussão se devemos mentir ou não, e entramos numa discussão ética.

Quando se comenta "Sou tímido e olho pra baixo não conseguindo olhar no olho pra responder, mas não estou mentido", o problema está em não conseguir olhar, ser restringindo no seu relacionamento com o outro. Olhar por olhar é relativo, mas ser incapaz de olhar no olho com necessidade de se responder a uma pergunta, é algo que precisa ser refletido.

Importante lembrar também que temos uma representação dos olhos. Quem não deixa de sentir alguma coisa quando vê uma foto em que há alguém com olhos em direção a quem está olhando a foto (olhando para a lente)? Alguns estudos científicos nessa área mostram que o comportamento das pessoas é alterado em função desse olhar, inclusive com sensação de ser observado, vergonha, timidez, inibição.

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domingo, 15 de novembro de 2009

O caso da aluna agredida dentro da faculdade

Eu fico pensando se ela teria recebido as ameaças e xingamentos se ela fosse tão bela quanto as moças que fazem ensaios sensuais ou pornográficos.

Eu admito que fiquei decepcionado quando vi a moça e o vestido. Não só o vestido não era tão curto quanto havia pensando como ela não é sensacionalmente bela.

Mas, ainda assim, algo precisa ser admitido: se eu estivesse entrando na faculdade, caminhando para a catraca e alí visse uma mulher usando uma minissaia, eu iria olhar, bonita ou mesmo feia, especialmente se a minissaia fosse curta, e isso iria me fazer pensar depois no que eu vi.

Daí que isso mostra como usar uma minissaia realmente chama atenção e uma bem curta mais ainda, tanto a atenção de homens quanto de mulheres. O que eu não tinha muita consciência antigamente era que a atenção das mulheres também era "despertada". O que elas querem ver alí? Algo muito diferente do que vêem todo dia? Isso me faz lembrar a situação de um colega (que também já aconteceu comigo) que estava caminhando com a namorada num shopping e viu uma moça olhar sua namorada dos pés à cabeça e posteriormente fazer o mesmo com ele, isso de uma forma bem discarada. Mulheres olham bastante outras mulheres.

Já vi mulheres de biquini nessas lojinhas da Baixada Santista, às vezes usando uma camiseta e o bíquini, ás vezes de tanga e top, outras só de camiseta e farol aceso, lá é algo normal, mesmo nos supermercados perto da praia de grande movimento (apesar que entrar de biquini num lugar desses já é mais raro de se ver, ao não ser as tiazonas que vão de top mesmo todo dia). É de se pensar se numa faculdade de lá isso teria ocorrido, o "acesso visual real" a grande parte do corpo é possível o ano inteiro.

Precisamos saber se a moça em questão era alvo de piadas, se ela fazia competição com outras colegas, problemas relacionais, se ela tinha uma vida sexual diversificada, se já "caiu na rede" um coleção de fotos comprometedoras. Enfim, investigação comum para crimes de bullying, que é o que aconteceu nesse caso.

Por que xingaram ela logo de puta? Eu dúvido que a metade dos caras que gritaram isso nunca foi num inferninho, nunca foi numa balada beijar bêbada, nunca ficou contando quantas minas já beijou e transou. Isso me faz lembrar do senso comum "mina pra ficar, mina pra casar". Daí que a resposta feminista tem que ser massissa (como aconteceu no dia em que voltaram atrás na expulsão).

Eu gostaria de ouvir o outro lado dessa história. O que a rapaziada tinha na cabeça quando fez isso? Por que denegriram a mulher? Eles vêem isso todo dia na televisão. O mesmo vale se a moça "batalha programa": já é profissão regulamentada. E que moralidade é essa que só vale para os corredores da faculdade? Fico pensando se o desrespeito dos agressores com a moça não seria uma forma de expressar o medo em ser desrespeitado, no caso dos homens, e o medo em não ser amada, no caso das mulheres, mas isso são só hipóteses.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

´´Roupas e Contexto II``

Eu estava caminhando pela calçada , em meu trajeto de retorno da faculdade para casa , como faço habitualmente me dirigiando ao ponto de ônibus , quando percebi e a isso me detive alguns instantes, deitado no chão um mendigo,ele parecia dormir tranquilamente, ao seu lado um carrinho de mão manufaturado aparentemente com pedaços de madeira aleatórios, dentro dele alguns objetos e sacolas, objetos conseguidos creio eu no decorrer de sua caminhada que de exaustão o levou a deitar-se onde o avistei, objetos que tomam nova forma de instrumento em lugar do lixo que ocupavam anteriormente.
Deitado lateralmente com a cabeça recostada sobre seu braço como em um travesseiro, parecia invisível ou pelo menos as pessoas o deixavam em paz em virtude de sua aparência disconexas com uma demanda de atenção, precisamos de um eliciador para nos preocupar com o outro, que tal suas roupas?
O sentimento que me assombrou naquele momento foi o de que talvez este a quem me refiro, não lhe fosse pertinente ilusões, talvez sua vivência o demonstrou que ninguem está disposto ( e mesmo não lhes é possivel) a ocupar-se com a angústia alheia.
Talvez seja uma ótima psicoterapia ser mendigo e lidar com a inospitalidade do mundo.

*Quando escrevi o texto de volta para casa não tinha um titulo ao Ler o post do Marcelo achei que havia uma certa interligação a questão da roupa e do contexto esta presente em ambos .

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Roupas e Contexto

Uma mulher vestindo uma minissaia entra numa faculdade bem movimentada. Ao longo do percurso dentro da instituição, os frequentadores da faculdade vêem as pernas, coxas e culote da mulher. Essas pessoas começam a desvalorizar, ofender e ameaçar a mulher. A manifestação atinge grande proporção e as atividades escolares são interrompidas. A mulher retira-se da instituição sob escolta policial e xingamento por parte da multidão que se aglomera para vê-la sair.

1. Por que ela foi para a faculdade vestindo uma minissaia?
2. Por que ela foi xingada?
3. Por que houve grande participação na manifestação?
4. Por que especificamente essa mulher foi alvo de manifestação por causa da roupa que vestia, sendo que outras mulheres também usam o mesmo tipo de vestido?

Há de se considerar o acontecimento dentro de um contexto. Uma roupa não tem "poder" para movimentar tantas pessoas e de forma tão agressiva.

sábado, 31 de outubro de 2009

As duas escolhas.

Na vida nós temos duas escolhas: escolher e escolher.

É difícil considerar uma inevitabilidade de escolha, mas é aquela velha "meta-algumacoisa-ção". Não escolher já é por si só uma escolha.

Mesmo que se pondere sobre não termos responsabilidade sobre algo que nos é feito propositalmente ou não, anteriormente já escolhemos alguma coisa que permitiu a escolha de outra sobre a nossa escolha.

Por exemplo, estar vivo. Só é possível a morte para aqueles que escolhem anteriormente viver. Mesmo que você não tenha como evitar a sua morte, você escolhe estar vivo para morrer, a cada segundo da sua vida. Isso é profundamente reflexivo quando se considera nosso "escambo de cada mínimo momento", em que aceitamos a troca de uma parte de nós (tempo, condições físicas, mentai) pelo mero existir, até onde pudermos, até onde nem sabermos mais "onde vai dar".

Pois é. Escolher, a ação, processo de escolher é inexorável. Não dá pra parar de escolher. Não escolher uma coisa implica em escolher outra, a negativa se limita ao conteúdo, não à ação. Posso escolher não realizar uma possibilidade mas não deixar de exercer minha escolha. Isso quer dizer, escolher é humano.

Quem sabe esse tipo de reflexão desperte, então, responsabilidade.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Por quê nos acostumamos?

Chega uma hora em que nem apreciamos mais o raiar do dia , a beleza dos raios solares que irradiam -se por todos os lados misturando se às multiplicidades de azul no céu , nem observamos os movimentos das àrvores com o vento , o que dirá das filas de formiguinhas operárias que carregam alimentos com o triplo de seu tamanho em uma fila organizada (isso quando não as esmagamos).
Chega uma hora em que nos acostumamos com as pessoas , isso é triste , elas não nos causam mais nenhum deslumbramento , nem uma interrogação , dizemos :Ah estou acostumada com tal pessoa...ela é assim e pronto (como se soubessemos algo à respeito).
Parece muito igual todo dia , trabalho , faculdade , obrigações e mais obrigações , e a vida vai passando .Como vai seu dia? -Ah está tudo igual , vai indo!
Como podemos inventar um mundo estático e sem transformações , sem admiração? esse sim é um mundo que não existe .Como poderia uma experiência humana ser vivênciada duas vezes?já dizia um filósofo que não me recordo o nome no momento:´´Ninguém que entre em um rio poderá sair dele`` , isso por que ao sair a pessoa não será a mesma e o rio também não será o mesmo.
Quem já leu O mundo de sofia pode perceber como a atitude filosófica esta pautada no deslumbramento da vida , no olhar curioso , no despertar de uma criança que tudo quer saber e habita dentro de nós.
A vida é da ordem do acaso , a admiração é da ordem do belo , e pra quem tiver olhar é possível encontrar belo em tudo, em todos .
Todo dia , toda experiência , toda sensação , todo sentimento , cada segundo , é sempre novo , viver é a arte de apreciar aquilo que se nos mostra .

domingo, 27 de setembro de 2009

Há amor na terapia?

Nós somos máquinas de amor, amamos até o que não tem interação alguma conosco. É mais fácil encontrar as coisas em que não colocamos amor e ainda assim considerar investidas indiretas.

Só o fato da pessoa fazer psicoterapia, ir até o consultório, fazer o tratamento já implica amor, amor próprio. Ainda que não seja psicoterapia, mas terapia, como qualquer atividade que tenha como fundamento o "cuidar da alma", [i]terapon[/i], no sentido grego da palavra, já há amor subjacente.

sábado, 26 de setembro de 2009

Quando o que era relacionamento termina em suicídio


Algo que eu encontrei de muito interessante estudando sobre o suicídio, e que vale para outros comportamentos é: SE a pessoa precisa chegar ao nível de pensar em suicídio, já é motivo para precoupação.

Ainda que a pessoa não tivesse a capacidade de concretizar o ato, no mínimo pode ser entendido como um pedido de atenção. Aqui que ocorre o grande erro nos relacionamentos: "não vou dar o braço a torcer". Quando o intercâmbio não encontra complemento, começa esse jogo "quem prova mais?". Esse tipo de atitude foi a mesma que a namorada desse jovem chileno fez. Inclusive, para se chegar no pensamento de suicídio, já é prova cabal que não há diálogo de forma que se explicite as necessidades individuais, o que cada um quer e como se faz para alcançar isso. Considero boa prática ir além da "tacitacidade" dessas (de)limitações e falar abertamente sobre o que se quer no relacionamento.

É comum relativizar esses comportamentos, menosprezar, "psicologizar". Daí que vem a fala "as brigas são normais no relacionamento, nenhum é perfeito". E o que é discutido nas brigas? "Po***, eu odeio que vc fique fazendo isso e isso, que m****, por que que vc vive fazendo isso e isso? Já falei (na nossa última briga) que eu quero isso e isso".

Importante que essa prática não implica de maneira alguma voltar a ter/constituir o relacionamento, mas como pode algo que se estrutura ao longo de anos repentinamente terminar e as pessoas acharem que "tudo bem"? As pessoas utilizam o relacionamento como motivação, embasamento para ações, planos de vida, memória de momentos íntimos ou coisas em comum e para o lado negativo, co-dependência, muleta, culpado. Não há quem aguente essa mudança brusca e é interessante notar também que o rapaz tinha 26 anos, provavelmente formado, pelo menos com alguma profissão na carteira. Faixa alvo das estatísticas de suicídio.

É preciso segurar a onda e perceber que não foi fácil ter o relacionamento nem vai ser fácil sair (considerando relacionamento de vínculo forte, pois o "fast-relate" é tarefa artística levada a cabo pelos jovens nos encontros de massa via ranking de beijadas e encoxadas).

Respeitada as proporções, pensar e falar em se suicidar não é uma "cantada". Mesmo que isso se mantenha no relacionamento, não é "legal" nem de longe sinal de qualidade de um relacionamento ter a necessidade desse tipo de atitude, mostra inclusive como foi e se dá fracamente a forma como os envolvidos fomentam o bem estar do parceiro.

Tópico também no orkut.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Amizade entre homem e mulher

Um colega pergunta: Como a sociedade vê a amizade entre homem e mulher, sendo os dois heterossexuais? Há preconceito?

Engraçado que se pensa isso quando a questão é em relação ao sexo oposto.

Amizade já é uma situação em que há investimento de tempo, disposição, atenção, movimento, as "energias", pulsões, etc, seja qualquer for a ótica, científica ou não. Se pensarmos mais radicalmente, há relacionamentos de "amizade" para o qual o relacionamento conjugal da pessoa fica no chinelo.

Por que tal atividade humana só é considerada sob o prisma da "possibilidade de relacionamento de alto nível" (as 2,3,4,5 intenções) quando é para o sexo oposto? Quer dizer, partindo desse preconceito, uma pessoa que tem todo esse investimento para uma pessoa do mesmo sexo não trará considerações dos outros sobre a possibilidade de algo além da amizade.

Já na pergunta temos esse preconceito (que não é unanimamente negativo) implícito..."sendo os dois heterossexuais".

Essa amizade homem e mulher toma os contornos de algo "que pode mais" principalmente nos relacionamentos em que há "brechas" da parte de pelo menos um dos envolvidos. Existem situações em que não há nem a necessidade de se ter a amizade, um vínculo mais íntimo, tamanha a desconfiança, conflitos internos e carência de comunicação no relacionamento conjugal da pessoa.

Se formos considerar que a maioria dos casais encontraram seus parceiros no ambiente de trabalho, e iniciaram como colegas de trabalho, o pensamento é totalmente justificável.

Rogers no livro "Sobre o poder pessoal" relata um caso com uso da ACP em que o marido estava insatisfeito com o relacionamento e tinha interesse em se relacionar amorosamente com mais pessoas que tinham interesse também. Com o trabalho do Rogers, não só o marido como a esposa conseguirem outros relacionamentos e de quebra melhoraram o próprio relacionamento. Diálogo nesse caso fez toda diferença.

Eu faço parte de uma sala com 37 pessoas, sendo eu e mais dois "cuecas". Ou seja, tenho 34 mulheres como colega de sala. Chega a um ponto em que precisamos vencer as "determinações culturais" para o bom andamento do curso rs

Texto também em tópico no orkut.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Críticas ao texto da virtualidade nos relacionamentos


Crítica: "hoje em dia não precisamos mais dos inconvenientes de pessoas "reais" para vivenciar nossas fantasias"

Aí que tá a questão: as pessoas não precisam considerar o que o outro traz como inconveniente, vivendo as fantasias a dois, três, quantos forem, sem precisar ficar isolado em máquinas, exceto no caso em que a pessoa deliberadamente queira vivê-la "secretamente".

Ainda assim, há uma diferença entre querer vivê-la só e utilizar um instrumento para simular vivendo-a em conjunto, já considerando pela "via patológica", como restristo na sua relação com o outro, que é o que tentei empreender com o texto. A pessoa conhece perfeitamente uma modelo, ou seja, ele tem capacidade de conhecer e se relacionar com uma pessoa, mas essa pessoa ele jamais teve contato físico, jamais trocou palavras, sequer ela sabe de sua existência, ainda que ele conheça todos os meios de manuseá-la via o instrumento que a simula. Mas quando essas possibilidades são acessíveis e os únicos instrumentos são a própria pessoa, como no relacionamento eu-tu comum em que há reconhecimento da singularidade, desenvolvimento da sensibilidade, esse comportamento é simplesmente inexistente e inesperado.

domingo, 20 de setembro de 2009

Dever e solução como repressão de instintos

Numa pergunta de um usuário do orkut: Devemos reprimir nossos instintos? Reprimir nossos instintos primitivos resolve?

Há uma questão para o "dever de reprimir" e outra questão para a repressão ser a solução de algo que você não especificou mas que subentende-se por civilização.

Dever envolve um sistema ético e princípios morais, desenvolvido por Kant e é o fundamento do Direito atual, tem suas vantagens e desvatangens.

Na teoria do dever kantiano, devemos agir de tal que forma que nossas máximas sejam universalizáveis, tenham valor universal, sejam aplicáveis a todos, a humanidade, sem distinção de conteúdo, o chamado imperativo categórico. Respeitadas as críticas à teoria kantina (como conflitos de prioridades e conteúdo), para o princípio moral de repressão dos instintos para que se dê a boa convivência do grupo, eu devo reprimir meus instintos e os outros devem fazer o mesmo. "Deves porque deves" e não "Deves porque queres".

Nós da psicologia entramos aqui e na sua segunda questão, a repressão como solução para a civilização. Eu considero lacunar falar sobre isso sem assistir a alguns filmes que abordam esse assunto, como Ensaio sobre a Cegueira, Filhos da Esperança e Regras da Vida. Filmes que retratam a nossa civilização frágil e completamente sistêmica. Além da dificuldade já no conceito de instinto, principalmente após os estudos de Freud.

A repressão dos instintos resolve parcialmente. Parcialmente pois seria um erro considerar nossa evolução de forma restritiva e reducionista, sob o prisma da "doença" e "onde ela não se manifesta". E se formos pensar em civilização, repressão de instintos não é um conceito muito próximo de guerras, violência, sangue, destruição, ditadura, subjugação, desigualdade.


Numa outra pergunta dele sobre sermos personagens e não respeitarmos ninguém.

Uma premissa contradiz a outra. Viver como personagem teoricamente indicaria que seríamos todos falsos e suscetíveis.

Temos um monte de leis e dispositivos repressivos, respeitamos diferenças até demais, a tal ponto que desenvolvemos "doenças culturais" como o niilismo, estagnação cultural. Enfim, há conflito de deveres.

Inclusive, se nós fossemos menos "personagens" talvez respeitaríamos menos alguns absurdos e teríamos menos problemas com o niilismo.


Numa outra pergunta sobre o que fazer para quem não reprime...

Seja um "experimentador" e leia filosofia pré-socrática, Schopenhauer e Nietzsche rs


Texto integral no orkut.

sábado, 19 de setembro de 2009

Fatores filogenéticos e ontogenéticos

A grande dúvida que tem me batido esses anos é o quanto podemos atribuir de causas para o ser humano. Alguns genes não se manifestam no fenótipo, seja por questão de penetrância ou expressividade. Utiliza-se influência ambiental como critério nesses conceitos, em coerência ao conceito de adaptação ao meio via seleção natural da teoria darwiniana.

Mas até que ponto podemos nos delimitar nesse conceito uma vez que obtemos a capacidade de abstração elevada? Cada época cai por terra alguns paradigmas. A adoção, por exemplo, qualquer pessoa (respeitados os critérios) solteira acima de 18 anos pode adotar uma criança aqui no BR. Essa possibilidade de cria não mais direciona a matar as outras espécies humanas (os outros tipos de "homo" que não sapiens, não mais existentes) para território ou outros animais para comer pois não precisamos de carne na nossa dieta (considerando as exceções como vitamina B12). Nem o cuidado da cria visto que as babás e vós passam mais tempo com a prole do que os próprios pais. Nem sequer utilizamos métodos naturais (papai-mamãe) em função da probabilidade de erros genéticos, má formação.

Ok, mas aí você pode me perguntar sobre a tendência natural das pessoas se agruparem e desses grupos se institucionalizarem e buscarem/manterem o poder, desviando dos objetivos originais, no caso da guerra, ou de um hospital (mais preocupação com o salário e seguro-saúde do que salvar vidas), ou de uma escola (campo de treinamento para o vestibular), não seria isso resquício/nossas origens/causa?

Fiquei impressionado quando descobri que nascemos com uma cabeça (cérebro de 1300cm³) tão grande que nem conseguimos nos equilibrar até desenvolver força nos membros de sustentação. É uma "posição ontológica" considerar mais um fator do que o outro.

Este texto (com a participação de grandes colegas da área) também no orkut.

Determinismo e Homossexualidade

Existem vários determinismos: espiritual, racional, biológico, econômico, psíquico, ambiental, cultural, sistêmico, cognitivo. A interdisciplinaridade desses conceitos é praticamente impossível ou muito difícil pois nenhuma se firmou até agora nem foram pensadas de forma a interagirem. OU SEJA, se a biologia fala que é genético, mostra-se o gene gay e toma-se isso por base. Se for provado que o complexo triádico intrafamiliar é o que "causa gay" daí quem partilha dessa instrução e ontologia fala isso. Se for provado que existem gays por causa das propagandas de cerveja e brinquedos infantis, e assim por diante.

Atualmente pelo menos conseguimos impor leis e dispositivos repressivos que estabelecem a conduta a ser seguida de forma que se almeje universalidade e coerência aos princípios que regem o homem moderno (direitos humanos). ISSO QUER DIZER, há espaço para o gay independentemente de determinismos, ficando a critério das ciências e da filosofia o desenvolvimento desses conceitos.

ASSIM, partindo desses pressupostos e da pergunta "é escolha ou é determinado?", entra-se numa questão que tem fundamento no campo da teoria do conhecimento e sua discussão sobre a ontologia humana. Vale lembrar que é marcada por complexidade e conflituosidade, com consequências no campo da ética e da moralidade, principalmente com o fim das grandes narrativas e a contemporaneidade.

PORTANTO, ainda que se responda essas perguntas, já se estará implicado esse contexto filosófico, e para estudantes de psicologia e profissionais, tornam-se lacunares e até inúteis sem ter consciência desses fundamentos.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Comunicação entre homens e mulheres

Na teoria da comunicação, temos um axioma (cinco ao todo) que estabelece que toda comunicação tem aspectos referenciais (ou do conteúdo) e conativos (motivação/empenho/vontade/desejo), sendo que os conativos definem os referenciais. OU SEJA, a forma como se enuncia/interpreta a mensagem pode trazer outros significados. ASSIM, um conteúdo que nós homens entendemos como inútil e "fugaz" no caso das palavras singelas de uma mulher podem ter outro significado completamente diferente, de alta intensidade e utilidade para ela. Essa distinção de gênero não é regra, ainda que reforçada socialmente.

Cabe ressaltar que todos nós, não apenas fala, mas usa do chamado "não-verbal". Desde a forma de se vestir ao movimentar dos dedos e do corpo como um todo podem trazer vários significados.

Então, o que o senso comum tem por "Querer dizer uma coisa e fazer outra", "gostar e se fazer de difícil", "não tolerar erros iniciais", "ser ritualista e complexa", e assim por diante podem ser analisados sob esse enfoque de que todos são uma forma de comunicação (outro axioma, é impossível não comunicar), estão dentro de um contexto e antes de observar essas ações pela prisma da vantagem ("o que ganham"), do narcisismo ("o que querem"), da rigidez ("nunca toleram nada"), da sinuosidade ("outra coisa totalmente diferente") procurar perceber que nós (do ponto de vista masculino) temos parte nessa comunicação e nesse contexto, nós interagimos, a forma como nós damos continuidade/lidamos interfere nessa comunicação e no desenrolar do contato (outros 2 axiomas, a influência da pontuação na conversa e o intercâmbio de simetria ou oposição)

Nós também poderíamos analisar essas ações sob outras óticas, seja pelas competências interpessoais ou então por princípios "maquiavelianicos", mas eu acho essa muito mais positiva e engrandecedora, além de não precisar chegar aos excessos sexistas que abrem margem para várias intepretações e incoerências.



quinta-feira, 17 de setembro de 2009

´´Afinal qual o papel do Psicanalista em Lacan?``

Ultimamente tenho pensado muito no Luto que deve ser elaborado por parte do analista.
Se o analista tem que dar conta do recado do outro(ouvir , digerir e devolver) sem intervir com suas próprias questões subjetivas , ainda que faça análise e supervisão ele deve elaborar em sí sempre a morte do desejo . O desejo de responder exatamente de onde o analisando pede e não exatamente de onde o analisando precisa.
O fato é que de onde o analisando quer que o analista responda não necessáriamente significa o mesmo lugar de seu desejo( do analisando) , já que ele quer algo conscientemente e deseja outro algo que é o não dito , o analista vai fazer o trabalho de escutar exatamente aquilo que o analisando esta impossibilitado de dizer e intervir de onde o analisando precise para que possa falar , e em seguida perlaborar , ou mesmo o contrário.
O engraçado é que ao seguir o desejo inconsciente do analisando (sempre da ordem do não simbolizado ainda) o analista vai de encontro ao não querer consciente do analisando.
Seu trabalho deve ser o de implicar o sujeito com seu desejo , o de fazer o analisando que uma vez mal possuia saber ( consciente) sobre seu desejo , venha a poder se implicar com ele à fim de que não o precise repetir e possa o flexibilizar .
Pragmaticamente pode se parecer um trabalho bem cruel o do analista , e realmente assim pensando o é! Mas assim o é por ser necessário , de que outra maneira poderia o sujeito se haver com um mal gozar do inconsciente?Em um gozo que faz o Eu do sujeito sofrer?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"Patologia mental"

São necessárias 2 pessoas para existir as patologias mentais. Não podemos identificá-las via exame de sangue, nem por autopsia ou EEG no cérebro, menos ainda por alguma célula contaminada. Enquanto uma patologia biológica seria uma tosse, um catarro, na patologia mental isso ficaria circunscrito ao contexto das pessoas que se relacionam, especialmente uma querendo estigmatizar a outra pelo que ela pensa ou fala.

Não vejo que a "saída" seja abolirmos classificações como a do DSM (Manual Estatísticos e Diagnóstico de Doenças Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria) ainda que haja crítica suficiente para isso (doenças ali contidas como inventadas e não descobertas) pois elas nos são um norte e não tem a intenção de definir o conceito, apesar de ser usado assim e funcionarem como instrumentos repressivos, servindo por anos e anos como forma de maçonar indivíduos ao bel prazer dos senhores da razão e calcarem-se sobre solo epistemológico/ontológico lamacento.

Há uma grande diferença entre utilizar dados quantitativos e qualitativos para denominar os comportamentos comuns que caracterizam um contingente de pessoas, e outra é afirmar que as pessoas que se enquadram nesses quesitos são doentes. "Doenças são um mal funcionamento do corpo, nenhum comportamento é doença". Thomas Szasz

É interessante notar a única forma de se justificar o uso de tanta medicação, punições e a pseudomoralidade seja pelo diagnóstico de doenças mentais. Parte-se do pressuposto de que há algo dentro da pessoa doente, modelo que é herdado das ciências naturais. Há outras formas de ver a patologia, sem que seja necessário assumir esse pressuposto incoerente e determinista.

Recentemente, li sobre a teoria da comunicação humana, no contexto da teoria sistêmica, em que a patologia seria oriunda não de distúrbios e mal funcionamento do corpo e "da cabeça", mas da consequência de informações contraditórias passadas ao indivíduo, lógicamente impossíveis de serem obedecidas, como no caso do duplo vínculo, em que uma informação posterior é negativa e contrária à anterior, por exemplo, a situação em que uma mãe ameaça o filho: "se fizer isso vou te bater", e posteriormente dizendo ou agindo de modo a informar "eu não sou repressora", ou então a mãe pedindo "vá brincar com seus amigos" e posteriormente segurando o filho fisicamente ou pelo significado das palavras. Vale notar também que a teoria da comunicação propõe alguns axiomas, como a impossibilidade de não comunicar, a forma de dar continuidade e interpretar a comunicação.

Partindo desse aspecto que normalmente é introduzido pelo contexto da prática humanista seja por Rogers ou pela Daseinanalise, por que não procuramos ver todos nossos comportamentos sejam eles "diagnosticáveis" ou não pelo DSM como antes de tudo, uma forma de nos comunicar e interagir? Um pensar que é desaprovado socialmente tem fundamentos que por meio do "diagnóstico" são estigamatizados, como por exemplo, a homossexualidade que até pouco tempo atrás era doença como diabetes (¬¬) e até hoje tem seus resquícios.

Vídeo de referência - CCHR Speach:
http://www.youtube.com/watch?v=-P6_FwpVo_s

domingo, 13 de setembro de 2009

´´Perder o que sequer se possui``

A minha curta experiência Psicanalítica ( como estudante e como analisante) , cada vez mais me leva a perceber que fazer análise é perder algo que sequer se possui.Lacan fala do furo do real , e é neste furo do real que a análise se encontra , é nesta imcapacidade de o real conter um objeto imáginário, simbolizado pelo sujeito que a experiência analítica irá se dar . A frustração é tema central , ou seja o dano no imaginário causado por um agente real (analista). O dano no imáginário é exatamente este , a perda de algo que sequer se possui , este algo parece se materializar na pessoa do analista , ao que Lacan denomina de´´ objeto a `` causa do desejo.
Pode se pensar , pra que fazer análise se a perda , ou dano no imaginário é tão grande , visto que o esvaziamento de libido do ´´objeto a`` (final da análise) , é o resultado da própria perda deste objeto (imaginário)?Bom os ganhos também são grandes com certeza , e sentidos através de pequenas e grandes mudanças , ´´no discurso antes(mais) disconexo da vida`` , o analista esta fora da cadeia de significantes do analisando (objeto real), podendo intervir quando este mal-goza , atraves do corte da sessão.
O corte da cessão não é apenas uma barragem ao discurso desgovernado , ou repetido , o discurso ao qual o sujeito nem se dá conta , ela é o impulso que levará o sujeito a perlaborar seus sintomas , criando novas vias de acesso ao desejo , posto que ele sempre existirá , mesmo ao final da análise , o desejo é e sempre será a denuncia da falta do sujeito.
Se a análise realmente leva o sujeito a perder o que ele ao menos possui , o leva tambem a poder desejar , a se implicar com seu desejo e escolher de forma menos sintomatica os objetos parciais de acesso ao ´´bom gozo`` , este sim ignorado pelo analista .
Frente ao mau gozo o analista diz não , frente ao bom gozo o analista nada diz , este bom e mal não devem ser entendidos à maneira maniqueísta , eles devem ser entendidos como gozo perlaborado e gozo arcaico fruto da privação e desistituídos de uma implicação por parte do sujeito.
Por mais que seja um TRABALHO ao pé da letra se empenhar em um processo de análise , o ganho ( a despeito das perdas dos ´´lucros secundários da neurose``)tambem é muito grande , é o ganho de se implicar diretamente com a vida , o empoderamento , alem disso não entendo outra maneira de levar o sujeito ao auto-conhecimento que não seja o trabalho interior.

Tipos de abraço

É interessante perceber que há vários tipos de abraço. Cada um deles pode ter um significado e só ser executado para uma determinada pessoa. O abraço "de ombro" de pai/irmão, o abraço apertado para namorada, o abraço aconhegante da vó/mãe, o abraço mais extrovertido para os amigos, o abraço "político" para autoridades. Todos estes abraços têm sentimentos em comum e sentimentos particulares que expressam uma forma de se relacionar, de intimidade, de conduta (i.e., comportamento já culturalmente delineado).

O abraço envolve nós todos como corpo. Tudo o que sou e uso para me relacionar no mundo é usado no abraço. Mas nem sempre "sentimos" tudo que tocamos. Pensando em Augusto Boal, nossos sentidos vão sendo "atrofiados" na medida em que nos estabelecemos condições adversas e modos de nos relacionar limitados. Palavras têm tanto significado quanto o abraço, talvez até significados que não conheçamos significantes, mas deixamos escapar toda essa gama de expressividade, na medida em que nos tornamos mais automáticos, processados, "abstraindo seletivamente". Isso não se limita ao abraço. Será que realmente escutamos tudo o que ouvimos?

Provavelmente, meramente aprendemos a replicar o abraço pois queremos estabeceler algum rapport ou empatia. Não paramos para pensar sério sobre ele. Eu já tive experiências interessantes nesse sentido. Não sabemos a influência que exercemos no outro, e mesmo com algo que não tem muito som, ou use de elementos super decorativos, conseguimos obter efeitos invejáveis, como eu consegui com o primeiro abração na minha ex rs Num momento de despedida, sem conhecer muito bem a pessoa ou querer maiores comentários, abraços dão conta do recado.

Tópico com bons posts no orkut.

sábado, 12 de setembro de 2009

Para ter um sentido na vida é preciso co-existir?

"O único sentido íntimo das coisas / É elas não terem sentido íntimo nenhum". Alberto Caeiro (FP)

Isso para mim soa como ideologia. O fato de sermos "animais gregários", ou seja, deliberadamente nos juntarmos para facilitar as coisas que estão ao nosso redor, não justifica dizer que por isso teremos sentido de vida. O erro já começa do fato de não termos "vida", ainda que se convém usar o termo, pois somos existência. Utilizemos vida para os animais que são aprisionados numa única forma de viver e se relacionar. Eu, como humano, não passo a existir porque alguém está existindo comigo, agora, ainda que eu fosse sozinho no mundo, eu teria toda a forma de me relacionar com o outro, pois ontológicamente somos abertura.

Nascemos sós e morremos sós, e alguns entendem isso como abandono, com Sartre definindo esta forma de se relacionar como irresponsável. Quando se fala em sentido de vida e que isso envolveria "precisar de alguém", já definimos algo que não é inerente do humano que se caracteriza exatamente por não precisar de alguém para existir, se faz como existência independentemente do outro e sua vontade, e ter o nada como seu fundamento, daí então o conceito de intencionalidade, ele só é à medida em que é projeto, em que sua consciência é consciência DE alguma coisa.

Existe independemente do outro para ter moral e agir éticamente, conceito esse desenvolvido por alguns autores como Kant, Hegel, e os gregos clássicos, humano como autonomo, com capacidade de por ele mesmo e por meio de sua faculdade humana superior, a razão, ser dotado de princípios e uma conduta baseada com e pelo dever ou numa luta interior, "agonismo". Para Kant, a razão sozinha é suficiente para determinar e subjugar a vontade, agindo então não apenas de acordo mas pelo dever, de forma que sua máxima seja universalizável.


E o inconsciente? Já não é uma forma do relacionamento amoroso?

É importante deixar claro que aqui parte-se do pressuposto de que há uma entidade, um Eu alheio, dominante e encodificador que nos determinaria pelo que se constitui então psíquico. Até no mito intrafamiliar triádico, não há necessidade da presença física de um pai castrador ou de uma mãe acolhedora, pois, já em coerência com o contexto da Psicanálise, o que importa é representantes psíquicos.

Texto na íntegra no orkut.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O sentido da resistência ( se é que existe sentido )

´´O desejo é uma verdade para ninguêm até que seja decifrado``
Jacques Lacan
Ao iniciarmos o trabalho analítico , estudando ou fazendo Psicálise pessoal , logo nos deparamos com o conceito de resistência no primeiro caso e com sua vivência no segundo.
Podemos nos questionar por que tal resistência ocupa um lugar tão privilegiado na constituição de sujeito.Bom , porque inicialmente sem resistência o sujeito daria vazão aos seus instintos sexuais de forma desgovernada , a resistência é o reflexo da interdição do primeiro desejo que foi impossibilitado na tenra infância , o desejo de internalizar um objeto e aniquilar o outro . À isso Freud denomina complexo de édipo , fazendo alusão à tragédia grega de Sófocles èdipo Rei .Caso o sujeito não tivesse cursado naturalmente a interdição deste primeiro desejo , isso resultaria em um não sujeito , posto que a concepção de sujeito verifica seu inicio com o declinio do édipo dando lugar a uma gama de possibilidades ao sujeito para dar vazão ao desejo.
Embora o trabalho da Psicanálise precise´´ vencer as resistências uma a uma ``como nos diz Freud em as´´ Neuropsicoses de defesa -1894``, o sentido disto está em chegar ao núcleo arcaico do complexo edipiano que precisa ser resignificado , um núcleo patológico de projeção ou identificação que impossibilita o sujeito de viver seu desejo de forma menos sintomática.
As resistências não são ruuins em sí como podem parecer (um ultraje à própria análise) , elas são ontológicas do sujeito , e caso o analista saiba como manejar a transferência estabelecida à sua pessoa ele conduzirá a análise naturalmente , não vendo tais transferências como algo antagônico à analise , mas como a própria análise.

Papel do aluno, papel do professor

Paulo Freire desenvolveu a Pedagogia da Libertação em que há aprendizagem pelo diálogo e interação entre o professor e o aluno, utilizando-se temas contextualizados às vivências dos alunos.

Para mim, a aprendizagem tem de ser pautada na autonomia e no desenvolvimento de competências, ou seja, o aluno capaz de desempenhar um determinado papel em um determinado momento, eu ouso dizer, até sem o professor, ou mesmo nas deficiências deste. Isso quer dizer que um professor "ruim" não poderia ser desculpa para não aprender um conteúdo, nem que este falte na aula, ou que a metodologia de ensino não agrade, por mais difícil e desgastante emocionalmente que isso seja pois agora não há alguém guiando o caminho, e é claro que um professor que já tem experiência na matéria facilita e muito o percurso, além de mostrar uma visão do todo coerente de principio. Estudar por conta própria envolve mais responsabilidade, em decorrência da grande liberdade e autonomia visando o desenvolvimento da competência.

A aprendizagem não pode ser limitada a um professor, senão, como ficariam os autodidatas? Até me lembro de Bruce Lee numa entrevista dizendo que a melhor didática é aquela que você mesmo desenvolve, pois ela tem suas características. E isso está em coerência com sua metáfora "Be the water", "Seja a água!", em que a xícara seria limitada e a água se adaptaria à forma da xicara, ou seja, não seria fixa, rígida, mas seria flexível, indo por conta própria onde ela pudesse ir.

O aluno precisa ser a água. Isso passa longe de algumas instituições em que moldam o aluno de tal forma que se não houver professor, e acima de tudo, um bom professor, simplesmente não ocorrerá aprendizagem e pior, ocorrerá indignação, desilusões, perda na disposição, até selvageria. Apesar desses sentimentos serem perfeitamente compreensíveis e totalmente justificáveis, toda essa disposição em brigar, criticar, até essa vontade em fazer a pessoa desistir, toda essa vontade poderia ser melhor destinada se a pessoa a utilizasse para ler, simplesmente, ler. Nada muito complexo, até na própria língua em que a pessoa se alfabetizou. Até quem sabe, partindo para uma reunião, fazendo debates, usando a fala, escuta e posteriormente passando isso para escrita. Quem diria que algo tão simples fosse apelidado de "ideal".

Só o EAD já dá uma bela chacoalhada na necessidade de aulas presenciais, pois, o aluno lê, e sozinho. Nos bons cursos há audiovisual para tudo, ainda assim, sem ter o professor presente, fisicamente.

As críticas que eu já ouvi são inúmeras, e considero coerentes. Se pago, é pra ter aula. Ou seja, isso mostra o conceito que a pessoa tem de aula é institucionalizado. Eu pago e quero receber. Nada mais. Autonomia aqui não tem espaço, nada de adiantar conteúdo, pesquisar e debater previamente. Eu recebo na medida em que eu pago, coerente com o conceito de mercadoria, a aula como um produto adquirido, assim como a música e os livros comerciais. Aula é função do professor. Seminário nesse ponto já é um grande passo, daí o aluno "dá aula", recebendo o que deve receber. Novamente, considero coerente, tanto na crítica como no modelo. O que é importante destacar é o que eu chamo de "institucionalização voluntária" em que o aluno não tem como obter o conhecimento pelo simples fato de não ter tempo e no pouco tempo que tem, não há disposição. Novamente, coerente com o tipo de cidadão que queremos ter, limitado, cansado, dependente, endividado.

Papel do professor: acima de tudo, saber o que a classe dele quer, contextualizar. Não adianta passar algo super avançado, vangloriando-se de ter tal conhecimento se ninguém acompanha ou se o contexto de sua sala é limitado. Ele até pode fazer isso, mas sabendo que é nesse nível que ele quer que os alunos dele se dediquem e oferecendo as bases para chegar lá. Ou seja, um avanço consciente e coerente. Já mostrando inclusive o outro lado da moeda, não adianta o professor nivelar por baixo e porque a sala inteira está contente e acomodada, isso é ensino. Quanto de conteúdo não se está mostrando? É até legal pensar que o professor tem o papel de mostrar o tanto que o aluno não sabe e despertá-lo para o próprio aluno correr atrás, pois ele não vai ser professor pela resto da vida dele para aquela mesma sala, nas mesmas condições, sempre que surgir uma dúvida.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Medo ou Paixão ?

Para Jacques Lacan (Psicanalista Francês), o que faz do outro desejável é justamente a falta que ele denuncia ao sujeito . Podemos pensar ao Ler´´ Sobre o Narcisismo : uma introdução`` do Dr. Sigmund Freud -1914, que o sujeito enquanto fálico é a causa do desejo ´´o ego deseja incorporar este objeto ``.
Ao discorrer do mesmo texto Freud salienta que ´´A separação dos instintos sexuais dos instintos do eu , reflete a função dúplice do sujeito. Tal função dúplice seria a de dar vazão tanto aos instintos de plusão de vida quanto aos instintos de pulsão de morte.
Ao ler os textos de Freud , e através da própria reflexão que chegou como convite à minha psicanálise pessoal , tiro algumas conclusões precipitadas à partir daí ; A busca do sujeito pelo outro caso esteja direcionada à somente uma dessas duas instâncias que regem o desejo seria uma aniquilação das pulsões naturais .Ainda que saibamos que só é desejavel o que não se possui , aqui concordo com o texto de Marcelo Shiavo (postado no dia 7 de setembro) , o ser enquanto tal será sempre a denuncia da falta e não da posse do outro , ainda assim quanto mais amplamente o outro sugestionar que realizo no simbólico tais pulsões podemos crer que esta suprindo tal falta .

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Egocentrismo? Humanos individualistas?

Pra mim, egocentrismo seria considerar o humano como um ser faltante, carente, determinado pelas posses, que só se relaciona porque supostamente adquiriria posse e preencheria essa falta que se não fosse ontológica seria instalada pelos outros, daí então saber quem é feliz e quem não é. Essa concepção toma o ser humano por causa e estaria coerente com a afirmativa "eu TENHO relacionamento", "eu TENHO amor", "eu TENHO sexo". Uma maquina ideológicamente processada e enquadrada.

Eu parto de um princípio existencialista em que cada um faz para si mesmo, ser humano como projeto, transcendental, intencional. "Existência não é a necessidade. Existir, já está aí, simplesmente". Agir de forma individualista está numa dimensão "ôntica", contingencial a existência, relacionada à forma como a pessoa se relaciona com o mundo. Não posso ser eu e ela ao mesmo tempo, não haveria temporalidade e espacialidade que caracterizam a existência humana. Da forma como propõe, relacionamento estaria mais para um imperativo categórico, um dever universal, inquestionável sem qualquer distinção de conteúdo.

Relacionamento amoroso nem pela ética helenística (prazer) seria coerente considerá-lo uma vontade ou necessidade indispensável.

Este texto também no orkut.

"tranformam-no ao que lhes bem agrade."

Hoje, ao voltar de São Paulo, eu experienciei um desses momentos que as pessoas chamam de "mágico". Pra variar, fugaz, repentino, lacônico.

Uma vez, numa situação oportuna, a professora doutora Maria Tereza Nappi, junguiana, disse-me que percebeu um conceito de Jung chamado "sincronia" acontecer comigo. Basicamente, ela descreveu como numa mesma noite e horário, sem que houvesse um motivo claro, uma palestra sobre neuropsicologia e a minha palestra sobre Bandura, com assuntos um tanto relacionados, aconteceram uma após a outra, num mesmo local, sem que isso tivesse sido combinado, e ainda mais pela conhecidência de ocorrem tão proximamente para que fosse suficiente uma saber da outra.

Pois bem, ao ler o comentário da colega graduanda de Psicologia, Luciana Moutinho, sobre a ação humana manipuladora, eu pensei "por que não ampliar esse conceito para a ação humana manipuladora em massa, a instituição?" O momento mágico que eu introduzi na primeira fase do post se encaixa perfeitamente aqui.

Enquanto estava olhando as construções na Bernadino de Campos, perto da Paulista, próximo de parar em função do vermelho no faról, eu avistei um mendigo começando a atravessar a rua. Ele não atravessou na faixa, bem antes. O suficiente para ter de diminuir a velocidade do carro antes do normal. Daí que, pra mim, nesses momentos de contemplação, há as grandes oportunidades de trazer à tona uma grande reflexão. O mendigo...acho que eles se cadastram e recebem uma carteirinha para conseguir serem tão distintos. Esse mendigo que eu vi e me fez reduzir antes do normal não era normal. Andar sinistro, cabisbaixo, lento, com passos duros e cambaleantes, cabelo (bem) grande (para cima), carregava uma lata de tinta média e azul sem tinta com alguns utensílios indicerníveis dentro, um saco de batata cheio sem batata, beje com um fio branco e longo saindo pelo fundo do saco, um cobertor preto com listras brancas dobrado, vestindo uma roupa simples, jeans sujo com uma camiseta preta. A única coisa que veio espontaneamente no pensamento: "ele tá carregando a casa nas costas". Esse é livre, ele não tem uma casa pra ir, ele é um andarilho, vagando de cantos em cantos, jogado na natureza de pedra, não precisando de carro pra se locomover, nem de chave para abrir o que lhe pertence. Daí os "biases" cognitivos começaram a interferir no pensamento:

O índio é totalmente independente. Ele planta e faz sua própria comida, sua própria casa, tem a sua própria forma de se divertir, de se ritualizar e contemplar. Mas, e já direcionando para o objetivo do tópico, como pode o mendigo que partilha desse mesmo tipo de liberdade do índio estar numa condição totalmente diferente de saúde e vida? Por quê? A instituição.

Estamos mais dependentes do que nunca no meio social urbano. Parece até que continuamos como quando nascemos, com a cabeça maior que nosso corpo e não conseguindo nos equilibrar, precisando da papinha dos outros para sobreviver. Essa é a mesma condição do mendigo. Totalmente instituicionalizado, olhando para ele sinto como se visse um castelo de areia, esperando um vento para se desfazer.

O mendigo está como dependente, e no fundo, todos nós estamos como ele. Dependentes mais ou menos de salário e do que construímos, explorando ou não os outros, e ainda conseguimos dizer que somos "independentes", seja financeiramente ou amorosamente. Não, não somos. Nós nos desenvolvemos de forma dependente, de tudo o que nos cerca, estabelecendo ainda, ideológicamente, essas condições como necessárias, faltantes. Vamos sendo moldados, um explorando um pouco do outro e cada um se equillibrando com seus pedaços.

O que é irônico, pois nascemos só, e morreremos só. Essa é condição ontológica humana, Heidegger a descreve bem. Nosso estado de natureza é a simplicidade. Mas conseguimos à medida que crescemos, não apenas perder esse estado de natureza para um estado de dependência, como conseguimos a proeza de abandonar o que nós tivemos por bom na infância, por sonhos, por desejos e curiosidades. Diz-se até que isso é "infantil" para o adulto. Quer dizer, crescemos para deixar os sonhos para trás, para manter uma condição limitada, centrada, estressada, medrosa, preocupada. Eu pensava que crescer fosse exatamente fazer esses sonhos se tornarem realidade...

Sobre a instituição, utilizamos seus dispositivos para definir os outros, pior, para avaliar o humano. Isso não se limita ao relacionamento como abordei nos posts anteriores, mas a tudo que o indivíduo desenvolve em sociedade. Isso é basicamente a avaliação pelas posses. Imagine o quanto é necessário de ideologia para transformar a experiência numa posse. É a única forma de fazer com que a pessoa se limite e desconheça suas potencialidades.