domingo, 31 de janeiro de 2010

Porque eu entrei na faculdade de Psicologia.

Eu ainda estou cursando Psicologia, então falo como estudante. 

Entramos com uma percepção limitada da Psicologia no seu aspecto prático, tanto que não é raro aparecer as dúvidas como "o que o psicólogo faz", "pra que serve psicólogo", "isso dá dinheiro". Temos uma ideia, que também é ingênua apesar de mais embasada, do aspecto teórico, circundada por algo que fez muito sentido de algum autor ou uma palestra e que despertou o interesse para cursar a faculdade e se aprofundar.

Ao longo do curso, pelo menos para quem não está nas faculdades top top com poder de pesquisa acadêmica e inclusão no mercado, fora delas parece que a Psicologia está com a plaquinha "under construction" (em construção). Quanto mais a gente estuda mais percebe que o trabalho vai ficar na versão beta além do tempo esperado. Isso pode não ser exclusivo das "mais modestas", mas a forma de lidar é bem outra.

Começando pelo fim da minha resposta, mas isso me fez pensar bastante nos motivos pela qual comecei: além de ser uma segunda opção (tinha intenção de cursar música - regência), sempre me interessei pelo conhecimento que psicologia proporciona na vida humana, ou seja, o que me fez entrar e me mantém na faculdade é o "tesão acadêmico" se é que eu posso dizer assim, a vontade de conhecer, de ser curioso sobre o tema, principalmente no que se refere aos "potenciais humanos", portanto um "motivo teórico". 

Há uma espécie de transição, como existe na ciência da psicologia atual, ou seja, é possível constantemente encontrar algo de novo, interessante nas pesquisas e usar na prática, daí, impressinado e satisfeito com o resultado.

Deve ser estranho não dizer o chavão "queria ajudar as pessoas", "quero entender a mente", "quero ter controle sobre as mulheres na cama", mas o tesão era tanto que nas aulas de piano eu levava um capítulo de Psicologia Experimental da editora Wiley para ler ao invés das partituras. lol

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Psicologia e Epistemologia II

Se formos pensar em "bases neurológicas", as representações mentais da cognitiva estão no mesmo barco da segunda tópica freudiana. São várias estruturas criadas, hipotetizadas (com bases em filósofos ou em tecnologia) para se pesquisar como o produto biológico (mente) funciona.

Acho que nesse contexto a discussão vai até além da epistemologia pois o tempo passa e a prática vai se moldando/articulando independentemente das lacunas epistemológicas. Então eu fico pensando se vale a pena não considerar também o que está encima. Ou seja, onde se insere a psicologia, mas quanto mais se afasta deste aspecto orgânico, mais se aproxima da filosofia, das poltronas e de uma guerra sem fim.

Como eu tenho proximidade com uma linha que não parte do estudo controlado do laboratório, mas da reflexão de filósofos (humanista - daseinsanalyse), esses "desafios de cientificidade" me fazem por a prova as psicologias e a consequencia é sempre rever os métodos.

Como se pratica a psicologia? Todos podemos "dar uma de psicólogo/médico/advogado". No caso dos psicólogos, a prática é muito voltada para o diálogo e quando precisamos de algo escrito, "oficial" (também) utilizamos um teste psicológico, não usamos bisturis, remédios, nem aprendemos a analisar telas com sinais vitais, neurológicos (você pode até ter aprendido, lido mas não usa).

Daí que se eu proponho "cadê a organicidade?" eu estou indo além desta prática verbal ou não verbal (seria neuropsicologia junto com a cognitiva uma forma de reverter isso?). Então se a minha teoria ou qualquer outra que não esteja preocupada com os milisegundos da onda cerebral que dão consciência, eu posso ser acusado de não científico e vai ter algum sentido pois eu não vou estar mesmo fazendo a ciência "dura".

Ao mesmo tempo que pedimos cientificadade estamos reclamando dos aspectos existencias e os "alternativos" sabem muito bem disso que fazem uma graduação de naturologia com mensalidade exorbitante com boa procura (Naturologia - Anhembi Morumbi).

Enquanto os "naturólogos" dizem que a ciência é fraca os cientistas retrucam dizendo que ainda não chegaram lá. Quando conseguirmos encontrar um ponto comum (psicologia com psicologia rs), esse é um problema que espero esteja resolvido.

Texto também no orkut.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Epistemologia e Psicologia

Nas aulas mais teóricas na faculdade, a discussão a que eu tive acesso foi limitada no sentido de separar psicologias compreensivas (intenção) e psicologias objetificantes (causa). Praticamente o mesmo fundamento do dualismo "filosófico" e "científico" mas com outros nomes.

O que eu ainda tento encontrar (e o que deveria direcionar de acordo com o contexto cultural-etc-etc que temos hoje) são as bases comuns e pontos de apoio em que se possa caminhar firmemente, pelo menos no aspecto prático, da prática profissional.

O que vemos em comum pela história da Psicologia é o movimento que parte para ampliação da subjetividade. Mais valor, mais problema, mais estímulo, uma expansão "pra dentro e pra fora". Mas nunca determinante e sempre fluido. Os valores vão se alterando, coisas que não são mais problemas criam outros problemas e a experiência ou impacto desses eventos tem relação direta com o contexto das pessoas.

Contextualização é algo que podemos considerar como básico para avançar cientificamente. Exemplos: o índio tem mais independência do que nós numa selva. Ele sabe o que comer, como comer e o que fazer e depende menos dos outros, da institucionalização, numa situação de caos, ele lida melhor do que nós. Se colocarmos o índio numa Wall Street ele teria grandes dificuldades, provavelmente o mesmo tipo de dificuldade que teríamos para comer se não houvesse supermercado :D

Não há sentido fazer uma ciência humana como é a Psicologia e não utilizar esse principio nas pesquisas. Aí está uma das grandes críticas à Psicologia no decorrer da sua história.

Daí que contextualizar também envolve todo, e todo envolve sistema. Partimos para mais princípios e vêm os problemas epistemológicos: a ciência "numérica" tem um substrato rígido, fixo e isolável mas uma ciência como a Psicologia tem um substrato pouco palpável, complexo e "indissociável". Avançar científicamente é avançar filosoficamente. Aqui eu penso em unificação.

Mais no orkut.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Tempo, produtividade e consumo

Lembra daquela discussão sobre escolhas?
Produtividade é algo diretamente relacionado. Estar produzindo alguma coisa é uma excelente forma de considerar se estamos avançando em direção a um objetivo. O problema é quando essa produção fica limitada a feitos amplos ou mais comumente, financeiros.

Cifras e quantidade. Deve ser muito difícil conseguir consumir e dar conta de tanta coisa pra se consumir. Mesmo aquilo não temos necessidade de consumir fica consumível. Tudo é consumível e passível de ser comercializável, daí todos consomem. Inventamos meios para tornar isso permanente e a ética fica guardada na gaveta nessas horas.

Como é bom as pessoas dependerem dos produtos que produzimos, dos nossos serviços, até do que não se tem uma noção material.

Situações bizarras como passar um tempo com outra pessoa precisam render muito, aliás, o suficiente para compensar tanto tempo perdido. Pelo menos conseguimos inventar formas de isso render alguma coisa, como sexo, dinheiro ou algumas gargalhadas.

Então se você produz, pode estar no caminho certo, no máximo vão te criticar que você não está rendendo mais do que poderia, mais.

Antigamente, numa época em que eu pensava em fazer faculdade de economia, vinha-me uma pergunta ingênua na mente: o que vou fazer com tanto dinheiro? Mal sabia eu que alguns anos depois estaria pendurado com contas a pagar, triste por não ter mais poder e dinheiro para consumir, nem que seria considerado inferior porque outra pessoa teria algo que eu não tenho e ela teria todos os créditos, Geld macht Geld.

Acho que não aprendi direito todas as regras do jogo Banco Imobiliário. A principal é assim: junte a maior quantia de dinheiro e poder que puder. A regra é essa, pra quê complicar.

Mas ainda vamos inventar um dinheiro que é mais caro que o dinheiro e só existe e pode ser usado se for para menos, não para mais.

Age quod agis

Faça aquilo que você faz.
Se você faz alguma coisa, faça isso bem.

Escolhas são uma parte complicada da vida. Precisar escolher e seguir enfrente com uma escolha não é fácil. Mais difícil ainda é ter de re-escolher, i.e escolher novamente algo que já estava escolhido, no sentido de fazer uma escolha que traga melhores consequências em relação a que já havia sido feita.

"Abyssus abyssum invocat", escolhas erradas produzem mais escolhas erradas, mas uma escolha certa quebra o círculo e propõe um novo caminho. É importante considerar que não se "apaga" a escolha anterior mas exatamente um outro caminho é trilhado.

O fato de uma escolha anterior ter sido avaliada negativamente não pode fazer com que ela seja apagada, senão não haveria nexo com a próxima escolha nem se pensaria na hipótese de escolher novamente. Errar é humano, é característica da existência e o drama é que atrai telespectadores.

Essa reflexão é comum para nós humanos, principalmente quando nos deparamos com situações amplas e eventos/estímulos frequentes. Com mais ou menos pesar e pensar, as escolhas vão sendo feitas, até para que se escolha que não se tenha mais escolhas a serem feitas.

Quando se diz "faça bem aquilo que você faz", essa lógica que tem lá suas relativizações fica no meio do caminho. Quanta coisa podemos fazer mas não fazemos bem e até tentamos. Seguir o provérbio fica inviável. Daí que as escolhas tornam-se bolas de neve e começam a tomar fôlego de discussão ética, hum.

Agravantes? Ter de fato uma outra coisa que se faz e muito bem ou ter outras maneiras não pensadas ou mais complexas para conseguir finalmente fazer aquilo que parecia inviável. Aí a questão volta pra dimensão da escolha.

Dá pra escolher? Dá e o caminho vai sendo trilhado, legal perceber que ele nem existia, é você que tá trilhando, com a escolha que você fez você alterou todo o rumo!

Com essa mudança de rumo, nem sempre ficamos totalmente satisfeitos ou mantemos muitos resquícios das escolhas anteriores. Difícil perceber que a vida não tem borracha, as marcas vão ficando no corpo. As escolhas feitas anteriormente já estão feitas com seu devido caminho traçado e trilhado.

Fala-se que leva uma vida para alcançar algumas coisas mais demoradas, mas existe uma parte menos agradável disso: assumir que é possível ter passado envolve assumir escolhas independente do valor que a elas se atribui. Alguns até tentam fragmentar, só ter traçado a parte boa, mas eu considero mais produtivo considerar as escolhas "boas e ruins" como um todo, sem precisar esmiuçar, fazer barreiras, analisar cada escolha e dizer "hum, essa pode". Quando se faz a escolha, não temos como pegar uma parte de nós e dizer: essa vai e essa fica.

Ao mesmo tempo que nos dominam totalmente, pela sua caraterística de todo, sem fragmentação, elas não nos dominam em nada, pelo contrário, confirmam quanto de indeterminado é fazer essas escolhas. Taí a graça do ser humano, dá pra perceber porque ele vai se fazendo, escolhendo, enfim, sendo.

Pensando bem, eu devo ter errado escrevendo esse monte de texto. Eu vou fazer então uma outra escolha e desviar o caminho que eu estava com a anterior: vou publicar.

Cuiusvis hominis est errare, nullius nisi insipientis in errore perseverare.
Marcus Tullius Cicero, Philippica XII, ii, 5