terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Age quod agis

Faça aquilo que você faz.
Se você faz alguma coisa, faça isso bem.

Escolhas são uma parte complicada da vida. Precisar escolher e seguir enfrente com uma escolha não é fácil. Mais difícil ainda é ter de re-escolher, i.e escolher novamente algo que já estava escolhido, no sentido de fazer uma escolha que traga melhores consequências em relação a que já havia sido feita.

"Abyssus abyssum invocat", escolhas erradas produzem mais escolhas erradas, mas uma escolha certa quebra o círculo e propõe um novo caminho. É importante considerar que não se "apaga" a escolha anterior mas exatamente um outro caminho é trilhado.

O fato de uma escolha anterior ter sido avaliada negativamente não pode fazer com que ela seja apagada, senão não haveria nexo com a próxima escolha nem se pensaria na hipótese de escolher novamente. Errar é humano, é característica da existência e o drama é que atrai telespectadores.

Essa reflexão é comum para nós humanos, principalmente quando nos deparamos com situações amplas e eventos/estímulos frequentes. Com mais ou menos pesar e pensar, as escolhas vão sendo feitas, até para que se escolha que não se tenha mais escolhas a serem feitas.

Quando se diz "faça bem aquilo que você faz", essa lógica que tem lá suas relativizações fica no meio do caminho. Quanta coisa podemos fazer mas não fazemos bem e até tentamos. Seguir o provérbio fica inviável. Daí que as escolhas tornam-se bolas de neve e começam a tomar fôlego de discussão ética, hum.

Agravantes? Ter de fato uma outra coisa que se faz e muito bem ou ter outras maneiras não pensadas ou mais complexas para conseguir finalmente fazer aquilo que parecia inviável. Aí a questão volta pra dimensão da escolha.

Dá pra escolher? Dá e o caminho vai sendo trilhado, legal perceber que ele nem existia, é você que tá trilhando, com a escolha que você fez você alterou todo o rumo!

Com essa mudança de rumo, nem sempre ficamos totalmente satisfeitos ou mantemos muitos resquícios das escolhas anteriores. Difícil perceber que a vida não tem borracha, as marcas vão ficando no corpo. As escolhas feitas anteriormente já estão feitas com seu devido caminho traçado e trilhado.

Fala-se que leva uma vida para alcançar algumas coisas mais demoradas, mas existe uma parte menos agradável disso: assumir que é possível ter passado envolve assumir escolhas independente do valor que a elas se atribui. Alguns até tentam fragmentar, só ter traçado a parte boa, mas eu considero mais produtivo considerar as escolhas "boas e ruins" como um todo, sem precisar esmiuçar, fazer barreiras, analisar cada escolha e dizer "hum, essa pode". Quando se faz a escolha, não temos como pegar uma parte de nós e dizer: essa vai e essa fica.

Ao mesmo tempo que nos dominam totalmente, pela sua caraterística de todo, sem fragmentação, elas não nos dominam em nada, pelo contrário, confirmam quanto de indeterminado é fazer essas escolhas. Taí a graça do ser humano, dá pra perceber porque ele vai se fazendo, escolhendo, enfim, sendo.

Pensando bem, eu devo ter errado escrevendo esse monte de texto. Eu vou fazer então uma outra escolha e desviar o caminho que eu estava com a anterior: vou publicar.

Cuiusvis hominis est errare, nullius nisi insipientis in errore perseverare.
Marcus Tullius Cicero, Philippica XII, ii, 5

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