sábado, 6 de dezembro de 2008

Determinismo x Indeterminismo

Existir "livre-arbitrio" ou não é um tema ultrapassado. A única coisa que diferencia os humanos dos outros animais é liberdade, como tal, seu fundamento é o nada. Nada explica o ser humano, não sou um cérebro, não sou um receptor de neurotransmissor, nem sou uma explicação da sociedade ou do meu "psiquismo". Só sou enquanto me faço ser, sou tão-somente um conjunto dos meus atos, engajamentos, escolhas. Liberdade é a característica de nossa consciência. Projetiva, ou seja, se direciona, e transcendental, para o mundo. Não há nada "dentro", tudo o que nós somos (e o que nós sabemos), apenas somos em relação ao mundo. Como ser humano, não somos explicados, somos compreendidos. Não temos uma causa direta, como uma bola que bate na outra e esta se movimenta, tudo que se passa conosco depende de nossa intencionalidade, o significado que atribuimos às coisas.

Isso é basicamente existencialismo sartriano, daseinanalise de Boss e Heidegger e fenomenologia de Merleau-Ponty e Husserl.

Agora, a questão está em "de que forma somos influenciados?" Por mais que uma pessoa controle a outra e que as professoras psicanalistas insistam que o "adolescente não percebe as coisas para o futuro", não há como ter domínio absoluto sobre uma outra pessoa. Podemos influenciar, manipular, iludir, tentar de várias formas, mas a escolha de meramente de existir já é totalmente da própria pessoa. O que se discuti, principalmente na sócio-histórica, é "com $ se dá uma educação para o seu filho, com $$$ se dá outra educação". Ou seja, a iniquidade como fomentadora de restrição na relação que o indivíduo estabelece com o mundo. Enquanto uns se formam e vão viajar para países da Europa, outros nem se formam para carpir mato com os pais.

Psicanálise é determismo total pelo inconsciente, "determinismo psíquico", essa foi a forma que Freud encontrou para "quebrar" uma ontologia do homem, "ele não é dono de sua própria casa", contra o princípio cartesiano de racionalidade, razão como iluminadora e faculdade humana, engraçado que se saiu de um determinismo para entrar em outro. Agora eu não sou determinado pelo consciente, mas pelo "in"consciente. Boss crítica muito essa idéia, principalmente em análise de sonhos, não sabe/comprova o inconsciente, mas ele é utlizado na fabricação dos símbolos, afastando ainda mais o cliente de sua própria experiência e significados atribuídos.

Sobre a sócio-histórica, eu ACHO que ela é determinista, uma vez que somos um produto da sociedade, da cultura em que vivemos. Não sei se podemos pensar em linha meio determinista, apenas uma parte do indivíduo é "livre", a outra é "aprisionada". Poderia se pensar que o indivíduo é o que faz na sua relação com o mundo e a cultura o moldando, reciprocamente. O que eu considero delicado é o uso do marxismo para a construção da teoria, o uso do materialismo dialético, explicando as "funções psicológicas superiorores" pela história e pela cultura do indivíduo, iso superar então os dualismos mentalistas e naturalista. Assim, eu sou a cultura onde estou inserido e o que modifico nessa cultura se reflete em mim e no próximo, as minhas relações com outras pessoas me determinam, conforme vou "interiorizando".

Albert Bandura, linha social cognitiva, derivada do cognitivismo, pensa em "determinismo triádico", somos uma relação entre o que pensamos, nosso comportamento e o ambiente. Cada um influencia o outro bidirecionalmente. 'Revelando' então o papel da cognição no nosso comportamento, inicialmente na aprendizagem.

A teoria sistêmica, a autopoiese principalmente, tem uma abordagem interessante, somos conjunto de relações, dentro de um sistema. Como uma nota, sozinhos temos um significado, em conjunto, temos outro significado, não posso me considerar isolado. o ser humano como um todo, que é um dos fundamentos do conjunto de idéias "humanísticas", o humanismo. Assim, a tal "teia de relações". Uma peça fora do sistema altera o funcionamento das outras, então há um princípio de circulariedade, interdependência.


Até agora, o que me pareceu mais coerente é o indeterminismo sartriano. É uma das poucas que não pensa o ser humano como um eletrodoméstico, não se fala em "processos", "mecanismos", "aparelho", "sistemas", "instâncias". Só sou na minha relação com o mundo, nada determina o indivíduo, somos uma multiplicidade de possibilidades, não há determinismo no humano uma vez que ele é livre, é aberto ao mundo, aceitar qualquer tipo de determinismo é negar existência, é colocar o "ente" no lugar do "nada". Antes de saber que eu tenho bastonetes para captar luz e cones para definir a qualidade das cores, eu simplesmente vejo (não meus olhos vêem), eu não preciso ser científico para saber isso, nem a minha percepção é uma ciência de mundo, não é um ato deliberado, eu não escolho perceber agora e deixar pra perceber um pouco mais depois. Somos imanentemente ligados ao mundo e somente nos conhecemos nesse mundo, meu cérebro não tem nome nem você conversa com meu cérebro, você conversa com o que eu sou, com o que eu me faço ser, com o que eu faço como conjunto de atos. Quem dói sou eu, não meu dente, minha perna. Meu dente não é existência. Eu sou existência, eu sou um projeto direcionado ao mundo.

Este texto pode ser lido na íntegra:

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