domingo, 14 de dezembro de 2008

A Psicologia dá conta?

Em setembro deste ano (2008), peguei um ônibus aqui de Santo André pra voltar pra casa. Depois de passar a catraca e procurar por um lugar para sentar, vi que havia um assento vazio no fundo do ônibus, o que era estranho pois havia algumas pessoas de pé por ali. Na época eu estava lendo bastante Bandura, agilizando uns slides. Conforme eu ia para o fundo do ônibus, deu pra ver que ao lado do assento vago tinha uma mulher que aparentemente falava em direção ao vidro (pra não dizer com o vidro rs). Pois bem, eu já pensei duas vezes antes de me sentar ao lado dela e comecei a reparar que algumas pessoas envolta a olhavam de forma estranha, como se tivessem visto um alienígena. Resolvi ficar de pé. A viagem era curta mesmo.

Ao parar nos outros pontos, algumas pessoas foram entrando no ônibus e numa dessas levas, uma jovem moça, aparentando uns 25 anos sentou-se no tal assento. A mulher que estava lá falando sozinha olhou para esta jovem moça assim que ela se sentou e começou a falar alto elogiando seu cabelo, seu corpo, perguntando o que ela passava e algumas coisas que eu não consegui entender, interessante também que ela olhava de forma profunda nos olhos da moça. A jovem começou a ficar preocupada e suas mãos começaram a tremer um pouco e seus gestos com uma bolsa que ela carregava ficaram mais duros e tensos. Ela permaneceu quieta, com alguns risos pequenos e menos de 1 minuto depois eu desci.

Esse é um tipo de situação estranha, com a qual não estamos acostumados, não faz (tanto) parte do nosso dia-a-dia. O que me deixou encucado: comecei a pensar uma forma de lidar metódicamente com a situação mas era difícil: a imprevisibilidade do comportamento da mulher falando sozinho era algo delicado de se lidar (o acaso é o terror dos racionalistas rs). Que auto-regulação ela tem? Auto-regulação na teoria de Bandura é ativada em ambiente social mas pode ser desativada em caso por exemplo de distorção da consequência do comportamento.

Engraçado que para Bandura, o objetivo último da terapia é o desenvolvimento da auto-regulação, seja por processo de julgamento, auto-observação, auto-reação ou auto-eficácia. MAS, por que a mulher não poderia estar falando sozinha? O que havia de doente nisso? Esse é um tipo de situação que eu não aprendi na faculdade. Com certeza poderia se hipotetizar e identificar ansiedade, QI baixo, uma limitação da flexibilidade da mulher principalmente na relação com o outro em espaço público. Mas quanto mais pensava na falta de "avaliação moral" da mulher, mais me afastava do que era falar sozinha para ela.
Hoje, eu percebo isso de forma mais densa, o comportamento dela está dentro de um contexto, com o histórico dela, com as relações que ela desenvolveu com ela mesma, com os outros, e acima de tudo, há a perspectiva de quem percebe. Os filósofos do século XIX confiavam cegamente que a razão resolveria seus problemas, seja técnicos ou existenciais. Hoje, estamos por outro lado, "o único sentido da vida é que ela não tem sentido".

Participei de uma palestra da Ana Bock e fica claro a crítica à psicologia que não abordou questões desse tipo, limitou-se ao pensamento elitista, de avaliação e separação, conformismo. No primeiro semestre de psicologia, ouço do professor de epistemologia numa aula sobre Nietzsche e pensamento trágico que "o psicólogo é o grande niilista das instituições". Ou então simplesmente tente andar por aí à noite, não há "liberdade de ir e vir", simplesmente há o medo controlando. Nietzsche diz que uma vida vivida com medo não tem sentido, mas estamos numa situação tão opressiva que estamos fazendo dessa limitação existencial um sentido, de tão complicada que é nossa situação. Isso porque não estamos em ditadura, bem longe dela, e temos até filósofos (Marcel Gauchet) discutindo a crise da democracia por causa do excesso de direitos humanos, individuais.

Essas questões mostram que a psicologia está bem longe ainda de onde precisa estar e já mudou muito pra direcionar a esse caminho, que deve ser, fundamentalmente, de utilidade. Não tem nexo as pessoas não saberem o que a psicologia, é de abismar um TV Diversidades que sai às ruas no centro de SP perguntar o que é psicologia.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Discutindo Psicologia

Opinar não depende de "embasamento científico". Antes de qualquer lógica, antes de saber o que é ciência e seus símbolos, existe uma experiência primeira de mundo, por exemplo, como a geografia é depende de uma experiência da floresta, praia, etc (Edmund Husserl, primeiros capitulos de Crise da ciência européia e Merleau-Ponty, prefácio de fenomenologia da percepção)

O que é interessante: Ciência, principalmente a psicologia como se configura atualmente, simplesmente não dá conta de lidar com a existência humana, pior, ela não está presente onde mais se precisa dela.

Ontem foi uma experiência nesse sentido, estava no trem, voltando de SP quando eu ouvi no banco de trás: "O sistema nervoso deve trabalhar legal". Eu achei engraçada essa frase (ainda que ela não tenha tido um significado direcionado ao que pensei), pois estamos muito além do sistema nervoso, jamais o sistema nervoso conseguirá explicar as multiplas possibilidades que eu posso experienciar, o que eu vivencio, a minha existência. Se quer algo que acontece de tal forma para uma pessoa se dá igualmente para uma outra (daí a crítica da ciência humana, não somos explicados, mas compreendidos, depende-se de percepção, da intenção do indivíduo, não há explicação causal).

Esse tipo de reflexão é complicado, eu costumava ler muito os psicólogos sociais cognitivos dos EUA, mas percebi o quanto a teoria deles é voltada para a cultura deles e que eu sempre era criticado por decorar as teorias dos livros e livros rigorosamente científicos e pragmáticos, estruturados. Lendo Bandura por exemplo, muitos "autos" precisam ser adaptados, não dá pra pegá-los diretamente e aplicar por aqui. Ou então Baumeister, "need to belong", relacionamento como fonte de felicidade e motivação fundamental.

Engraçado que nessas lidas, eu li um artigo/capítulo sobre cultura e o quanto havia de "downplay" no seu papel. Também comecei a pensar como era muito limitada uma visão que marcava os relacionamento próximos como uma necessidade e a alta probabilidade de desenvolvimento de psicopatologias, poxa, simplesmente eu não sou assim, conheço pessoas que não são assim. De que me adiantou essa ciência estruturadinha? A perceber a perspectiva do cientista e como Husserl tem sentido ao criticar a falta de fundamento da ciência factualista, fugindo desse entendimento e experiência de vida.

A referência deve vir quando há significado em trazê-la. Muitas reflexões que temos não são embasadas nos outros, mas em nós mesmos. Aqui entra um conflito: quais são os limites da replicabilidade em psicologia? Ainda assim, muito do "não-científico" percebemos como replicáveis. Ainda há muito o que se relatar "estruturadamente".

Isso também me faz pensar num filme da Halle Berry, Gothika, em que ela era uma psiquiatra com um bom emprego e relacionamento estável, etc, e num dado momento, ao dirigir voltando pra casa, ela "surta" com uma moça que aparece na rodovia. Após essa cena, ela encontra-se internada na própria instituição onde clinicava, acusada de assassinar o marido. Uma cena interessante pro tópico é com uma outra interna da instituição psiquiátrica, ex-paciente dela (Penélope Cruz), que começa a conversar falando mais ou menos assim: "Você está com medo? Qualquer coisa que você falar ninguém vai escutar. Agora você é louca."

Confiamos cegamente que o método resolverá nossos problemas, mas quantas vezes nos deparamos com situações em que só encontramos desespero e nos sentimos como incapazes? Não temos a pílula mágica, nem adianta tentar cobrir as pessoas de método ou então, pior ainda, trazê-las para o método, muitas vezes isso é ineficaz, ainda mais com toda a temporalidade e espacialidade que a pessoa tem, com o histórico dela. Eu percebo muito isso com os medicamentos, como que uma pessoa consegue pensar que o remédio será a solução? A densidade que existe nos conflitos que a pessoa tem, se são contornados, é com muito tempo, muito esforço próprio, do terapeuta, das pessoas próximas. Muitas vezes, pelo menos pelo que eu tenho vivido, a psicologia simplesmente não dá conta e eu encaro o conflito individualidade x sociedade um dos mais complexos que a psicologia tem para analisar e contribuir.

É preciso com certeza refletir sobre o uso da referência, não como dependência ou necessidade de embasamento, mas exatamente se ela é útil ou traz significado, ou seja o seu uso crítico. O melhor uso para mim é mostrar o quanto falta em uma teoria científica, que é, por fim, o método da ciência, isso não faz ela perder seu valor (como vi um cristão criticando num café filosófico) pelo contrário, a enriquece e aí sim ela tem significado de vida.


sábado, 6 de dezembro de 2008

Determinismo x Indeterminismo

Existir "livre-arbitrio" ou não é um tema ultrapassado. A única coisa que diferencia os humanos dos outros animais é liberdade, como tal, seu fundamento é o nada. Nada explica o ser humano, não sou um cérebro, não sou um receptor de neurotransmissor, nem sou uma explicação da sociedade ou do meu "psiquismo". Só sou enquanto me faço ser, sou tão-somente um conjunto dos meus atos, engajamentos, escolhas. Liberdade é a característica de nossa consciência. Projetiva, ou seja, se direciona, e transcendental, para o mundo. Não há nada "dentro", tudo o que nós somos (e o que nós sabemos), apenas somos em relação ao mundo. Como ser humano, não somos explicados, somos compreendidos. Não temos uma causa direta, como uma bola que bate na outra e esta se movimenta, tudo que se passa conosco depende de nossa intencionalidade, o significado que atribuimos às coisas.

Isso é basicamente existencialismo sartriano, daseinanalise de Boss e Heidegger e fenomenologia de Merleau-Ponty e Husserl.

Agora, a questão está em "de que forma somos influenciados?" Por mais que uma pessoa controle a outra e que as professoras psicanalistas insistam que o "adolescente não percebe as coisas para o futuro", não há como ter domínio absoluto sobre uma outra pessoa. Podemos influenciar, manipular, iludir, tentar de várias formas, mas a escolha de meramente de existir já é totalmente da própria pessoa. O que se discuti, principalmente na sócio-histórica, é "com $ se dá uma educação para o seu filho, com $$$ se dá outra educação". Ou seja, a iniquidade como fomentadora de restrição na relação que o indivíduo estabelece com o mundo. Enquanto uns se formam e vão viajar para países da Europa, outros nem se formam para carpir mato com os pais.

Psicanálise é determismo total pelo inconsciente, "determinismo psíquico", essa foi a forma que Freud encontrou para "quebrar" uma ontologia do homem, "ele não é dono de sua própria casa", contra o princípio cartesiano de racionalidade, razão como iluminadora e faculdade humana, engraçado que se saiu de um determinismo para entrar em outro. Agora eu não sou determinado pelo consciente, mas pelo "in"consciente. Boss crítica muito essa idéia, principalmente em análise de sonhos, não sabe/comprova o inconsciente, mas ele é utlizado na fabricação dos símbolos, afastando ainda mais o cliente de sua própria experiência e significados atribuídos.

Sobre a sócio-histórica, eu ACHO que ela é determinista, uma vez que somos um produto da sociedade, da cultura em que vivemos. Não sei se podemos pensar em linha meio determinista, apenas uma parte do indivíduo é "livre", a outra é "aprisionada". Poderia se pensar que o indivíduo é o que faz na sua relação com o mundo e a cultura o moldando, reciprocamente. O que eu considero delicado é o uso do marxismo para a construção da teoria, o uso do materialismo dialético, explicando as "funções psicológicas superiorores" pela história e pela cultura do indivíduo, iso superar então os dualismos mentalistas e naturalista. Assim, eu sou a cultura onde estou inserido e o que modifico nessa cultura se reflete em mim e no próximo, as minhas relações com outras pessoas me determinam, conforme vou "interiorizando".

Albert Bandura, linha social cognitiva, derivada do cognitivismo, pensa em "determinismo triádico", somos uma relação entre o que pensamos, nosso comportamento e o ambiente. Cada um influencia o outro bidirecionalmente. 'Revelando' então o papel da cognição no nosso comportamento, inicialmente na aprendizagem.

A teoria sistêmica, a autopoiese principalmente, tem uma abordagem interessante, somos conjunto de relações, dentro de um sistema. Como uma nota, sozinhos temos um significado, em conjunto, temos outro significado, não posso me considerar isolado. o ser humano como um todo, que é um dos fundamentos do conjunto de idéias "humanísticas", o humanismo. Assim, a tal "teia de relações". Uma peça fora do sistema altera o funcionamento das outras, então há um princípio de circulariedade, interdependência.


Até agora, o que me pareceu mais coerente é o indeterminismo sartriano. É uma das poucas que não pensa o ser humano como um eletrodoméstico, não se fala em "processos", "mecanismos", "aparelho", "sistemas", "instâncias". Só sou na minha relação com o mundo, nada determina o indivíduo, somos uma multiplicidade de possibilidades, não há determinismo no humano uma vez que ele é livre, é aberto ao mundo, aceitar qualquer tipo de determinismo é negar existência, é colocar o "ente" no lugar do "nada". Antes de saber que eu tenho bastonetes para captar luz e cones para definir a qualidade das cores, eu simplesmente vejo (não meus olhos vêem), eu não preciso ser científico para saber isso, nem a minha percepção é uma ciência de mundo, não é um ato deliberado, eu não escolho perceber agora e deixar pra perceber um pouco mais depois. Somos imanentemente ligados ao mundo e somente nos conhecemos nesse mundo, meu cérebro não tem nome nem você conversa com meu cérebro, você conversa com o que eu sou, com o que eu me faço ser, com o que eu faço como conjunto de atos. Quem dói sou eu, não meu dente, minha perna. Meu dente não é existência. Eu sou existência, eu sou um projeto direcionado ao mundo.

Este texto pode ser lido na íntegra:

O que é o outro?

Existência é liberdade. Nada nos determina. Por mais que se pense em sociedade, causas biológicas, psíquicas ou sociais, o ser humano é enquanto se realiza, enquanto escolhe. Ele é um conjunto de realizações. Eu não sou um receptor de neurotransmissor no meu cérebro, antes mesmo de saber que no meu olho possuo estruturas que captam a intensidade de luz, os cones, e a qualidade das cores, os bastonetes, eu vejo, eu percebo a cor, ela me traz significado. Não são meus neurotransmissores que decidem se hoje vou sair de blusa ou de sunga, é na minha relação com o mundo que decido, que escolho, tenho liberdade para ir de sunga onde quiser, tanto a responsabilidade pela escolha como a responsabilidade pela consequência são totalmente minhas.

Nossa condição original é o estar só, é a solidão e se mantém assim pela vida inteira. É EU quem faz ser para mim. Ninguém vive pelo outro, a experiência é individual, única. Isso não quer dizer que ela não possamos partilhar vivências, não quer dizer que ela não possa se assemelhar e encontrar coerência, como quando sentimos o que outro sente, ou tentamos compreender empaticamente o que é, o que pode ser isso que o outro expressa. Ainda que não tenhamos capacidade de fazer o outro rir ou que nossa tentativa não se concretize, há a possibilidade de fazê-lo rir.

Não podemos determinar alguém. Ninguém nasce casado. Ninguém nasce com uma namorada pré-determinada. Isso só acontece na relação com o mundo e tem-se a escolha de ter a namorada ou não tê-la. Mas, é vital a noção de que se pode ter ou não ter um relacionamento adulto de vínculo forte, a escolha cabe ao indivíduo, por mais que se queira delimitar o relacionamento, pareando com estatísticas de que sem relacionamento próximo há grande probabilidade de desenvolver psicopatologia, ainda assim, é a escolha do indivíduo, tanto para a escolha pela solitude como para o desenvolvimento da patologia, como sentir-se só, abandonado, desconsiderado. Encarar o outro como falta é, como Heidegger trabalha, um ser-com deficiente, mas, fica a pergunta, falta do quê? O que é esse outro que determina as patologias para a psicologia social cognitiva e a motivação de necessidade de pertencer? O que é esse outro que como Merleau-Ponty mostra em Fenomenologia da Percepção, é transformado em objeto para minha consciência e um objeto para a consciência do outro, atachado a nós antes da objetivação científica? Em que, se Sartre mostra-o como mal, enquanto me restringe, e como bem, enquanto me possibilita? Ou como Buber afirma, só há o Eu na relação com o Tu? Esse outro é o que, afinal? Um campo de possibilidades? Sim. Ironizar eternamente para uma maiêutica nos renderia um perguntar infinito, mais denso e sem direção, em que se aglomeram várias perguntas e se depositam esperanças sobrespostas. O outro é possibilidade, ele me permite fazer, ele me permite ser, mas ele não é Eu, eu não sou ele, ele me permite partilha, ele me permite troca, mas ele não me delimita, ele me permite conhecer o que eu desconheço em mim mesmo, mas ele não me determinará enquanto existência, minha essência é definida posteriormente, por mais que eu me sinta bem com a síntese do relacionamento e haverá síntese por mais tênue e humilde que seja, ele não será o estabelecimento em mim como abertura ao mundo, ele é, exatamente, o produto dessa abertura, ao me projetar ao mundo. Como delineia Merleau-Ponty, percepção não é um ato deliberado ou uma ciência de mundo. Nem eu escolho perceber, nem eu escolho a precisão do meu perceber, regulando um botão no meu cérebro. O outro é a minha conseqüência, o meu possibilitador no mundo, mas não é meu determinante, nem minha necessidade, nem meu fundamento ou razão de existir. Eu existo independentemente do outro e estarei condenado eternamente a existir, ainda que o outro não me esteja preenchendo com um não sei o que de possibilidade, ou podendo me olhar com um anel no dedo e o sentindo-o no meu mundo privado.

Relacionamentos Amorosos

Pergunta de um colega:
"Como equilibrar relacionamento amorosos monótonos, sem sentimento? Como trazer o gosto, o sentimento novamente? A resposta poderia ser simplemente mudar, transformar, renovar, recomeçar, mas como?"

O gosto e o sentimento já estão lá, tanto que ficar sem esse contato faz falta, aliás, até o contato sem intimidade pode trazer solidão ou falta de conexão emocional/afetiva, então, o outro e o que ele proporciona não são garantia da minha felicidade pois envolvem a forma como eu e ele reagimos e lidamos dentro de um relacionamento, isso envolve alter e auto-conhecimento, daqui que se pode pensar em equilíbrio e harmonia. A questão aqui é saber o que se quer do outro, o que se busca, saber o por quê de se estar junto desse outrem, essas perguntas encaminham para outras e sempre estarão ligadas com as iniciais.

Muitos estímulos e situações do dia-a-dia podem atrapalhar o relacionamento, ou seja, não é "culpa" da "falta" de sentimento, mas o estresse mesmo que atrapalha na forma de lidar com o outro, principalmente se afeta nosso humor. Nesse tipo de situação, o melhor é e sempre será o diálogo, pois é dele mesmo que se saberá se é preciso mais ou menos contato, inclusive de solitude, o "tempo". Fomentar o bem-estar do outro, como bom indexador na psicologia social, está atrelada nesse diálogo, eu não tenho como saber o que o outro quer de mim sem me comunicar com ele e vice-versa.

Outra questão é essa necessidade de "relacionamento 100%", estamos sempre insatisfeitos (afetiva e materialmente), somos verdadeiras máquinas de consumo, mais famintas e ferozes, invariavelmente, o relacionamento é indissociável dessa condição e passa por fases de incertezas, dúvidas, remanejamento e é excelente que se tenha tal situação, pois a conseqüência, se a questão é adequadamente abordada e trabalhada, é de fortalecimento do relacionamento. Portanto, não há relacionamento sem engajamento, é preciso responder às necessidades, elicitar as próprias e distinguir sua eficácia, tudo isso envolve cuidado de um para com o outro.



Reflexão de uma colega:
"Rotina só existe para quem não ama.
Quando existe amor,paixão e desejo não existe rotina que consiga acabar com um relacionamento."


Infelizmente, discordo. Há uma influência hormonal enorme nas nossas ações quando estamos apaixonados, e muita da nossa energia é direcionada ao outro, mudando nossa forma de experienciar o momento, até pela nossa tendência atualizante, já que muitas das nossas capacidades são desenvolvidas e ajustadas na presença do outro, tanto que estar com o outro, nessa situação, é muito bom obrigado. Com o tempo, é extremamente comum que o amor, por mais sublime e apaixonante que seja, caia numa espécie de rotina, ou que seja além da conta se considerarmos a auto-estima da pessoa. Vários aspectos da pessoa são descobertos e "acostumados", não há surpresas significativas, confrontadas com a velocidade e mutabilidade da "pós-"modernidade.

Penso que você encaminhou seu comentário numa forma interessante: "não há rotina se há desejo", a rotina é uma conseqüência natural, mas há formas de suplantá-la que aí sim, e já remetendo ao título do tópico, podem "esquentar" a rotina. Os exemplos mais fáceis são os mais significativos, todo casal tem costumes, "segredinhos", experiências românticas (não as idealizadas, mas o consumismo realizado e singularizado à experiência em comum) é daqui que encontramos tanto aquilo que pode reesquentar o relacionamento como eliminar os aspectos massantes, reviver essas experiências e destacar seu significado são ações que valorizam o relacionamento e a singularidade que ele adquiriu aos seus participantes.

Utilizo-me de um trecho de Musset que li num livro de Álvares de Azevedo, "Uma lembrança feliz é talvez, sobre terra, mais verdade que a felicidade." ou seja, são as construções do casal ao longo da vivência que fornecem sinais do que está em falta, do que precisa se aprofundar, do que deve ser eliminado.


Essa discussão pode ser lida na íntegra:
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=46802&tid=2595128244414627893&na=1&nst=1

Psicologia via internet

Para quem não conhece, no endereço abaixo há uma lista completa de TODA REDE DE SAÚDE MENTAL NO SUS em cada estado, separada por CAPS (incluindo NAPS, SENAPS, Hospital-Dia e Ambulatório), Residências Terapêuticas, Hospital Psiquiátrico (pois é, ainda existem) e Manicômio Judiciário (confinam os duplamente discriminados, "criminosos" e "loucos").

http://www.inverso.org.br/index.php/content/view/7.html

Um texto com tópicos bem definidos sobre o assunto pode ser obtido neste endereço:

Política de Saúde Mental, Álcool e Drogas
http://www6.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/saude/areas_tematicas/0007

Lembrando:
É proibido para qualquer psicólogo fazer psicoterapia via internet, salvo em caso de pesquisa e sem custos, com projeto aprovado por comitê de ética.

Em compensação, é permitido o aconselhamento e orientação profissional via internet em sites autorizados com o selo do CFP. A lista de sites aprovados no momento:
http://www.cfp.org.br/selo/SitesAprov.php

Reflexão sobre o sexo

Na "antiguidade", sobreviver era MUITO mais complicado do que é hoje em dia. Várias gêneros de "homo" (erectus, habilis) e outros gêneros, com suas adaptações específicas (neanderthalis, heidelbergensis, bolsei) -mais detalhes assista "Homem das Cavernas", documentário BBC Londres- impiedosamente padeceram, sendo que nós herdamos muita coisa deles, como cérebro grande, andar de pé, polegar opositor, etc, adaptações que facilitam nossa atividade e interferência no meio. Inclusive, na natureza, o tamanho do pênis está vínculado às necessidades/dificuldades de reprodução de cada espécie.
Nessa época antiga (para nossa temporalidade), o homem tinha um papel de fecundar o maior número possível de fêmeas e as fêmeas de cuidar da "cria" (algo que está mudando aos poucos, principalmente do final do século XX para a atualidade). Quer dizer, a sexo não tinha o "status" que tem hoje, visto que a função era a fecundação da fêmea e manutenção da espécie.

Para nós (homo sapiens), e principalmente vínculado ao cérebro de 1500cm³, nossa capacidade de abstração muito elevada, nossa autoconsciência (lógicamente anterior à consciência, noção de que tenho consciência, pré-reflexiva), o sexo atingiu uma característica, um status de tal forma que é utilizado ou para explicar partes de teorias (psicanálise, pulsões sexuais, sublimação) ou manter manipulação (religião), para se delimitar valor (castidade, virgindade, moralidade) ou como fetiche ("esconde-se que não há falo quando se transa com calcinha"), etc.

A questão é: sexo é fundamental ser discutido, quem pretende ser psicólogo tem obrigação/dever de saber e muito bem essa capacidade que o humano tem, e além de tudo, saber o que há ANTES E DEPOIS do sexo, do ato em si, MAS, é impressionante como conseguimos atribuir tal patamar ao sexo sendo que precisamos discutir e filosofar, construir teorias sobre a questão da aproximação, do contato, do relacionamento, do papel do outro na vida, na cognição, etc. Ou seja, sexo é fundamentalmente comunicação além do comportamento verbal (penetração, felação) e o status que se atribui ao sexo também deve ser atribuido à essa aproximação/relacionamento, sexo dentro desse contexto de comunicação.

Isso quer dizer, enquanto pensarmos o sexo isolado de um contexto com os outros comportamentos humanos, não apenas a velha associação religiosa de moralidade, caíremos sempre nessa concepção de biologizar, "patologizar" e/ou endeusar o sexo.

Peculiaridade: o sexo é tão endeusado que depois que já se "perdeu virgindade", que já se fez muito sexo, ele perde a tonalidade de "pressão" que inicialmente tinha, como o que guia uma vida, tanto que, em relacionamentos, é comum que o sexo torne-se mecânico e que se busque outras fontes de prazer, que até então, estavam obscurecidas pelo endeusamento do sexo, ou então, da descoberta de outras características no próprio corpo ou no corpo de outrem.

Sexo, dentro de um contexto, é mínimo, é um detalhe, que, ironicamente, revela vários outros detalhes existentes no relacionamento entre seres humanos. Detalhes esses que devem ser desvelados e aprofundados pelos psicólogos.