domingo, 30 de agosto de 2009

A virtualidade das relações interpessoais atuais

"...Herdeiros são agora
Da virtude que perdemos...
Há tempos tive um sonho
Não me lembro, não me lembro..." Renato Russo

Ao mesmo tempo que a tecnologia proporcionou novas formas de se relacionar (como por exemplo um jovem com deficiência, sem poder andar e falar ser um dançarino requisitado no Second Life), ela também não limitou velhas formas de se relacionar? Dificilmente se tem brincadeiras "físicas", simples como pega-pega e esconde-esconde (aliás, isso é sexual...tomar cuidado e ensinar métodos contraceptivos, "já com pouco idade estão dando"...).

Não se pode abordar o assunto criticando o que a tecnologia nos trouxe, que é muito bom obrigado e estamos utilizando agora, mas o que ela nos tirou ou que no mínimo nos limitou a percepção (ou então nos faz emocionar ao ver recordações de brincadeiras, alimentos e programas no rádio ou na tv da infância).

Pensando de uma forma básica, quanto você costuma tocar uma pessoa ao longo do dia? Quanto você se toca ao longo do dia? Quanto você usa o seu corpo que não seja ficar sentado na frente do computador ou de pé num coletivo para se locomover a um local onde você possa ficar novamente sentado na frente do computador?

Essas perguntas acho que fariam mais sentido se fossem: Quanto você costuma tocar no "mouse" ao longo dia? Quanto você tocou no seu celular ao longo do dia? Nossos instrumentos tecnológicos, já nossos, MEU, são tão nossos que nós tocamos mais nele do que em nós mesmos ou em quem gostamos. É como se já nascessemos com o celular acoplado. Daí vem consequências danosas e ideológicas, como nascermos consumidores, competindo, quantos espermatozóides não lutaram para apenas um ser você? Você não tem celular ainda? De que planeta você veio?

Agora, com a tecnologia, a ilusão de relacionamento é mais forte do que nunca. Temos prazer em conseguir não mais em abraçar, em beijar, em conversar e paquerar, mas em ver compilação de todas as formas possíveis de sexo. Conhecemos bem uma atriz pornô mas temos dificuldade em falar sobre nossa colega de sala há uns 3 anos.

Essa síndrome de modernidade reflete bem nos anúncios de lojas de manutenção: "Evite solidão, consertamos seu playstation". O segredo atual está na virtualidade. É ela que está delineando nossa subjetividade e fazendo repensar os processos, até os programas de televisão estão utilizando da virtualidade para ter mais interação. Não que você interaja, como um exercício no teatro do oprimido, mas escrever um texto do celular significa que você existe. Você não é ninguém. Você agora tem nickname e mais, seguidores que você não faz a mínima ideia quem sejam.

Sempre que eu vejo músicas ou compilações dos anos 80 no YouTube, ou então slides em correntes por email, eu leio comentários saudosistas, pessoas realmente querendo voltar no tempo e vivë-lo novamente, pior, dizendo o quão ruim está atualmente, não apenas culturalmente mas no cotidiano, como andar nas ruas, o noticiário, a moradia e a sensação de segurança.

Fica então a dúvida: será que chegaremos num ponto em que seremos tão "virtualizados" que não mais nos preocuparemos se estamos tocando fisicamente mas o quanto estamos tocando subjetivamente uma pessoa? será que descobriremos que a balança está pesando mais de um lado que do outro e precisamos reavaliar o que temos por relacionamento e corporeidade?

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