domingo, 30 de agosto de 2009

Sobre relacionamentos amorosos - parte 2

O que eu não consigo entender é: pra que o casamento? É o tipo de coisa que a gente aceita como tradição cultural, mas esquece que criação também é cultural. Aparentemente é mais um contrato regendo nossa vida de formalismo, dever.

Isso me faz pensar também na nossa forma de lidar com os problemas e dificuldades: poucos enfrentam. O comum é tirar o time de campo, deixar quieto, desencanar, não esquentar a cabeça, tá ruim vai embora, ame-o ou deixe-o, e por aí vai. Também se critica e não se propõe outras soluções, formas de melhorar, sempre a grama do vizinho é mais verde e pra lá que eu vou.

Voltando na questão do relacionamento, a sua ausência, já comercializada em solidão, revela-se um martírio. Hoje as pessoas não sabem ser só. Não se propõe autonomia para essa questão, toma-se isso por inviável, nem se faz com que essa condição seja um pilar para crescimento de qualquer outra atividade. Você é só e é sofredor, perdedor. Todos os dispositivos institucionais estão ao meu favor.

Todas as novelas, ao longo de todos os capitulos, têm vários relacionamentos amorosos ou conjugais, com mais ou menos intimidade, brigas. Relacionamento amoroso é o grande objetivo. Não veremos solteiros se dando bem. Haverá neles algo fundamental "em falta", o outro, que não é que a própria possibilidade, potencialidade.

Nossa potencialidade é exatamente a nossa capacidade ontológica de fazer com que o outro se revele a nossa percepção, que tenhamos abertura para experienciá-lo. Não se possui um relacionamento, se experiencia. Não há posses, como se pensa em casamento, que consigam dar conta de "deter" o outro, agora você é meu.

Assim, acho uma análise coerente sobre o relato do rapaz que mantém um relacionamento com uma pessoa em que ele observa comportamentos desagradáveis, conflituosos, superficiais mas insiste nesse relacionamento, não se limitar a abordar como um erro, uma impossibilidade de "ter mais", atos de "cabeça-dura". Ele experienciou todos os momentos, doentio ou não, ele viveu o relacionamento. Poderia-se dizer assim como ele foi um "experimentalista", flertou, namorou, casou, brigou, chegou a hora de continuidade no devir, no fluxo que caracterizou até então sua existência. A instituição oficializada não pode ser um fim de vida. Seria interessante pensar assim, além da desconstrução do casamento mas a sua melhoria, o que se pode mais.

Isso me fez pensar no nosso comportamento: fica-se arrumado quando se está solteiro, pra ficar sossegado depois de casado ou somente após casado é que a pessoa "toma jeito"?

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Um comentário:

luciana*yoga disse...

Nossa Marcelo vc escreve muito bem , eu concordo plenamente , acredito que as pessoas não querem ´´ver o outro ``querer que ele se oculte , escape , transfiguram-no à medida que ele se desenvolve e tranformam-no ao que lhes bem agrade...
Luciana Moutinho