domingo, 20 de setembro de 2009

Dever e solução como repressão de instintos

Numa pergunta de um usuário do orkut: Devemos reprimir nossos instintos? Reprimir nossos instintos primitivos resolve?

Há uma questão para o "dever de reprimir" e outra questão para a repressão ser a solução de algo que você não especificou mas que subentende-se por civilização.

Dever envolve um sistema ético e princípios morais, desenvolvido por Kant e é o fundamento do Direito atual, tem suas vantagens e desvatangens.

Na teoria do dever kantiano, devemos agir de tal que forma que nossas máximas sejam universalizáveis, tenham valor universal, sejam aplicáveis a todos, a humanidade, sem distinção de conteúdo, o chamado imperativo categórico. Respeitadas as críticas à teoria kantina (como conflitos de prioridades e conteúdo), para o princípio moral de repressão dos instintos para que se dê a boa convivência do grupo, eu devo reprimir meus instintos e os outros devem fazer o mesmo. "Deves porque deves" e não "Deves porque queres".

Nós da psicologia entramos aqui e na sua segunda questão, a repressão como solução para a civilização. Eu considero lacunar falar sobre isso sem assistir a alguns filmes que abordam esse assunto, como Ensaio sobre a Cegueira, Filhos da Esperança e Regras da Vida. Filmes que retratam a nossa civilização frágil e completamente sistêmica. Além da dificuldade já no conceito de instinto, principalmente após os estudos de Freud.

A repressão dos instintos resolve parcialmente. Parcialmente pois seria um erro considerar nossa evolução de forma restritiva e reducionista, sob o prisma da "doença" e "onde ela não se manifesta". E se formos pensar em civilização, repressão de instintos não é um conceito muito próximo de guerras, violência, sangue, destruição, ditadura, subjugação, desigualdade.


Numa outra pergunta dele sobre sermos personagens e não respeitarmos ninguém.

Uma premissa contradiz a outra. Viver como personagem teoricamente indicaria que seríamos todos falsos e suscetíveis.

Temos um monte de leis e dispositivos repressivos, respeitamos diferenças até demais, a tal ponto que desenvolvemos "doenças culturais" como o niilismo, estagnação cultural. Enfim, há conflito de deveres.

Inclusive, se nós fossemos menos "personagens" talvez respeitaríamos menos alguns absurdos e teríamos menos problemas com o niilismo.


Numa outra pergunta sobre o que fazer para quem não reprime...

Seja um "experimentador" e leia filosofia pré-socrática, Schopenhauer e Nietzsche rs


Texto integral no orkut.

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