sábado, 12 de setembro de 2009

Para ter um sentido na vida é preciso co-existir?

"O único sentido íntimo das coisas / É elas não terem sentido íntimo nenhum". Alberto Caeiro (FP)

Isso para mim soa como ideologia. O fato de sermos "animais gregários", ou seja, deliberadamente nos juntarmos para facilitar as coisas que estão ao nosso redor, não justifica dizer que por isso teremos sentido de vida. O erro já começa do fato de não termos "vida", ainda que se convém usar o termo, pois somos existência. Utilizemos vida para os animais que são aprisionados numa única forma de viver e se relacionar. Eu, como humano, não passo a existir porque alguém está existindo comigo, agora, ainda que eu fosse sozinho no mundo, eu teria toda a forma de me relacionar com o outro, pois ontológicamente somos abertura.

Nascemos sós e morremos sós, e alguns entendem isso como abandono, com Sartre definindo esta forma de se relacionar como irresponsável. Quando se fala em sentido de vida e que isso envolveria "precisar de alguém", já definimos algo que não é inerente do humano que se caracteriza exatamente por não precisar de alguém para existir, se faz como existência independentemente do outro e sua vontade, e ter o nada como seu fundamento, daí então o conceito de intencionalidade, ele só é à medida em que é projeto, em que sua consciência é consciência DE alguma coisa.

Existe independemente do outro para ter moral e agir éticamente, conceito esse desenvolvido por alguns autores como Kant, Hegel, e os gregos clássicos, humano como autonomo, com capacidade de por ele mesmo e por meio de sua faculdade humana superior, a razão, ser dotado de princípios e uma conduta baseada com e pelo dever ou numa luta interior, "agonismo". Para Kant, a razão sozinha é suficiente para determinar e subjugar a vontade, agindo então não apenas de acordo mas pelo dever, de forma que sua máxima seja universalizável.


E o inconsciente? Já não é uma forma do relacionamento amoroso?

É importante deixar claro que aqui parte-se do pressuposto de que há uma entidade, um Eu alheio, dominante e encodificador que nos determinaria pelo que se constitui então psíquico. Até no mito intrafamiliar triádico, não há necessidade da presença física de um pai castrador ou de uma mãe acolhedora, pois, já em coerência com o contexto da Psicanálise, o que importa é representantes psíquicos.

Texto na íntegra no orkut.

Um comentário:

luciana*yoga disse...

o que você definiria por co-existir?
bom , bou descrever o que tenho sentido muito intensamente nos últimos dias ; a existência chega a me arrepiar , caminhando sempre sozinha (com os meus outros imaginários)percebendo o quando de sentido tem a minha existencia , porem à despeito deste sentido ser algo inefavel , foi atravez de ensinamentos diversos que a ele cheguei. A cultura oriental revencia muito a figura do mestre , será possivel chegar lá sem um? será que a existência é tão ontológica que não necessita aprendizagem? não é isso que vejo transbordando pelo mundo , o que vejo é uma falta de sentido existencial sustentando a vida das pessoas .Não cheguei em algum lugar fixo , muito pelo contrário , aprendi a ser viajante , a me lançar , no entanto será que da vida sugaria tanta existencia se contasse apenas com minha ontologia , com minha tendencia a existir?