quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"Patologia mental"

São necessárias 2 pessoas para existir as patologias mentais. Não podemos identificá-las via exame de sangue, nem por autopsia ou EEG no cérebro, menos ainda por alguma célula contaminada. Enquanto uma patologia biológica seria uma tosse, um catarro, na patologia mental isso ficaria circunscrito ao contexto das pessoas que se relacionam, especialmente uma querendo estigmatizar a outra pelo que ela pensa ou fala.

Não vejo que a "saída" seja abolirmos classificações como a do DSM (Manual Estatísticos e Diagnóstico de Doenças Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria) ainda que haja crítica suficiente para isso (doenças ali contidas como inventadas e não descobertas) pois elas nos são um norte e não tem a intenção de definir o conceito, apesar de ser usado assim e funcionarem como instrumentos repressivos, servindo por anos e anos como forma de maçonar indivíduos ao bel prazer dos senhores da razão e calcarem-se sobre solo epistemológico/ontológico lamacento.

Há uma grande diferença entre utilizar dados quantitativos e qualitativos para denominar os comportamentos comuns que caracterizam um contingente de pessoas, e outra é afirmar que as pessoas que se enquadram nesses quesitos são doentes. "Doenças são um mal funcionamento do corpo, nenhum comportamento é doença". Thomas Szasz

É interessante notar a única forma de se justificar o uso de tanta medicação, punições e a pseudomoralidade seja pelo diagnóstico de doenças mentais. Parte-se do pressuposto de que há algo dentro da pessoa doente, modelo que é herdado das ciências naturais. Há outras formas de ver a patologia, sem que seja necessário assumir esse pressuposto incoerente e determinista.

Recentemente, li sobre a teoria da comunicação humana, no contexto da teoria sistêmica, em que a patologia seria oriunda não de distúrbios e mal funcionamento do corpo e "da cabeça", mas da consequência de informações contraditórias passadas ao indivíduo, lógicamente impossíveis de serem obedecidas, como no caso do duplo vínculo, em que uma informação posterior é negativa e contrária à anterior, por exemplo, a situação em que uma mãe ameaça o filho: "se fizer isso vou te bater", e posteriormente dizendo ou agindo de modo a informar "eu não sou repressora", ou então a mãe pedindo "vá brincar com seus amigos" e posteriormente segurando o filho fisicamente ou pelo significado das palavras. Vale notar também que a teoria da comunicação propõe alguns axiomas, como a impossibilidade de não comunicar, a forma de dar continuidade e interpretar a comunicação.

Partindo desse aspecto que normalmente é introduzido pelo contexto da prática humanista seja por Rogers ou pela Daseinanalise, por que não procuramos ver todos nossos comportamentos sejam eles "diagnosticáveis" ou não pelo DSM como antes de tudo, uma forma de nos comunicar e interagir? Um pensar que é desaprovado socialmente tem fundamentos que por meio do "diagnóstico" são estigamatizados, como por exemplo, a homossexualidade que até pouco tempo atrás era doença como diabetes (¬¬) e até hoje tem seus resquícios.

Vídeo de referência - CCHR Speach:
http://www.youtube.com/watch?v=-P6_FwpVo_s

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