sábado, 5 de setembro de 2009

O que se busca num relacionamento?

Primeiro vc precisa definir a que tipo de relacionamento você está se referindo, amoroso, conjugal, familiar, animal.

A que pessoas você está se referindo, mulher, homem, adulto, criança, idoso.

Depois que tipo de orientação, sociedade, disposição socioeconomica e etc.

Como você já definiu "pessoas", é suficiente para demonstrar que estamos falando de interação, existência. Logo, definições evolucionistas como R sexo masculino (fecundação maior n de fêmeas) e r sexo feminino (cuidadora) não são suficientes para nos definir pois não é necessária a fecundação "in natura" para gerarmos um novo ser da nossa espécie. O que poderia se dizer é que somos autopoiéticos, recriamos a nós mesmos. Discute-se inclusive o quanto o homem é necessário em relação a isso. Por enquanto temos com certeza a biologia ao nosso lado pois é prazeroso para nós e todos os outros animais o acasalamento. Mas mais uma vez, com a capacidade superior humana de imaginação/racionalização, procuramos meios desse significado biológico ir por àgua baixo uma vez que o prazer está mais direcionado às maquinas que nós mesmos criamos do que ao sexo "em si".

Se você pretende buscar o relacionamento pelo prisma "universal", algo que seja comum para todos os povos independentemente das condições mencionadas acima, então você entra num campo mais comum da filosofia, que é o pensamento do todo, e provavelmente vai desembocar num conceito de ontologia humana embasado na filosofia voluntarista ou na filosofia existencialista que são as reações à metafísica e aos modos de conceber o humano ao longo do pensamento ocidental.

Para a psicologia, o que pode ter conexão direta de pesquisa são as formas de conceber esse relacionamento considerando todas as suas dimensões, por meio dos comportamentos e significados atribuídos ao longo da relação ou apenas pelos comportamentos num prisma anti-mentalista. Ou seja, nossa preocupação não seria tanto de procurar desvelar todos os fundamentos universais humanos mas como a potencialidade desses fundamentos se dá (já que eu sou abertura, o que é este outro para mim? - Dulce Critelli) nos relacionamentos que ela estabelece ao longo da vida. Vale lembrar por exemplo que isso envolve a concepção de coerência, ou seja, a pessoa manter comportamentos similares com pessoas e locais diferentes, ou então a criatividade, capacidade de inovar e flexibilizar sua conduta, chamado rapport erikssoniano.

Algo que eu li recentemente e tem fundamento na filosofia nietzschiana é o pensamento do corpo pelo corpo mesmo, ou seja, o que o corpo sente é o que queremos e o que estimulará nossa vontade de poder. Isso me faz pensar nas limitações que estabelecemos no relacionamento e na nossa vida como um todo e essa concepção é corrente em diversas teorias e práticas atuais na psicologia, principalmente nas que estudam a questão da liberdade e a ausência de causas para o existir humano.

Como vc pode ver, o caminho que pauta seu "o que" no relacionamento para uma relação de causa encontra lacunas e pouca autenticidade, uma vez que limita e desconsidera a capacidade intencional humana, como por exemplo na expressão da arte (fundamento humano para Nietzsche).

Com essa base, a minha resposta tem mais sentido: o que se busca do outro é existência. Eu ainda não tenho um embasamento sintético dessa resposta, mas é basicamente conceber o relacionamento não como causa (eu tenho relacionamento para ter isso e aquilo) mas como consequência/contingência (eu SOU relacionamento). Tudo o que eu faço é relacionamento. Um relacionamento de uma forma específica não pode ser determinado como necessidade, mas como mais uma possibilidade, em coerência ao conceito de factiticidade, humano como jogado na natureza e contingência sartriana. Mesmo que algo não exista ou que seja um evento não compartilhado eu me relaciono. Independentemente se estou num relacionamento amoroso, eu já estou me relacionando. Daí que as perguntas iniciais começam a ter um sentido mais nítido. Pois aí sim eu passo a considerar o relacionamento amoroso não como um fim, necessidade, preenchimento de falta, dever, mas como possibilidade e diversidade de com quem, quando, como, onde, por que, pra que. Aqui se revelam todas as barreiras teóricas e ideológicas que nós podemos ter.

Um comentário:

luciana*yoga disse...

Parabêns , o texto é lindo !
Para minha singela opnião você trancorreu muito bem não somente ao que se diga de relacionamentos mas sobre vida!
o existir enquanto potência ... paixão é vida , medo é morte ...muitos relacionamentos são pautados no medo paixão ...isso é triste , não existe vida que não seja pautada na paixão , não para o humano , para o humano isso é estado inorgânico...