quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Papel do aluno, papel do professor

Paulo Freire desenvolveu a Pedagogia da Libertação em que há aprendizagem pelo diálogo e interação entre o professor e o aluno, utilizando-se temas contextualizados às vivências dos alunos.

Para mim, a aprendizagem tem de ser pautada na autonomia e no desenvolvimento de competências, ou seja, o aluno capaz de desempenhar um determinado papel em um determinado momento, eu ouso dizer, até sem o professor, ou mesmo nas deficiências deste. Isso quer dizer que um professor "ruim" não poderia ser desculpa para não aprender um conteúdo, nem que este falte na aula, ou que a metodologia de ensino não agrade, por mais difícil e desgastante emocionalmente que isso seja pois agora não há alguém guiando o caminho, e é claro que um professor que já tem experiência na matéria facilita e muito o percurso, além de mostrar uma visão do todo coerente de principio. Estudar por conta própria envolve mais responsabilidade, em decorrência da grande liberdade e autonomia visando o desenvolvimento da competência.

A aprendizagem não pode ser limitada a um professor, senão, como ficariam os autodidatas? Até me lembro de Bruce Lee numa entrevista dizendo que a melhor didática é aquela que você mesmo desenvolve, pois ela tem suas características. E isso está em coerência com sua metáfora "Be the water", "Seja a água!", em que a xícara seria limitada e a água se adaptaria à forma da xicara, ou seja, não seria fixa, rígida, mas seria flexível, indo por conta própria onde ela pudesse ir.

O aluno precisa ser a água. Isso passa longe de algumas instituições em que moldam o aluno de tal forma que se não houver professor, e acima de tudo, um bom professor, simplesmente não ocorrerá aprendizagem e pior, ocorrerá indignação, desilusões, perda na disposição, até selvageria. Apesar desses sentimentos serem perfeitamente compreensíveis e totalmente justificáveis, toda essa disposição em brigar, criticar, até essa vontade em fazer a pessoa desistir, toda essa vontade poderia ser melhor destinada se a pessoa a utilizasse para ler, simplesmente, ler. Nada muito complexo, até na própria língua em que a pessoa se alfabetizou. Até quem sabe, partindo para uma reunião, fazendo debates, usando a fala, escuta e posteriormente passando isso para escrita. Quem diria que algo tão simples fosse apelidado de "ideal".

Só o EAD já dá uma bela chacoalhada na necessidade de aulas presenciais, pois, o aluno lê, e sozinho. Nos bons cursos há audiovisual para tudo, ainda assim, sem ter o professor presente, fisicamente.

As críticas que eu já ouvi são inúmeras, e considero coerentes. Se pago, é pra ter aula. Ou seja, isso mostra o conceito que a pessoa tem de aula é institucionalizado. Eu pago e quero receber. Nada mais. Autonomia aqui não tem espaço, nada de adiantar conteúdo, pesquisar e debater previamente. Eu recebo na medida em que eu pago, coerente com o conceito de mercadoria, a aula como um produto adquirido, assim como a música e os livros comerciais. Aula é função do professor. Seminário nesse ponto já é um grande passo, daí o aluno "dá aula", recebendo o que deve receber. Novamente, considero coerente, tanto na crítica como no modelo. O que é importante destacar é o que eu chamo de "institucionalização voluntária" em que o aluno não tem como obter o conhecimento pelo simples fato de não ter tempo e no pouco tempo que tem, não há disposição. Novamente, coerente com o tipo de cidadão que queremos ter, limitado, cansado, dependente, endividado.

Papel do professor: acima de tudo, saber o que a classe dele quer, contextualizar. Não adianta passar algo super avançado, vangloriando-se de ter tal conhecimento se ninguém acompanha ou se o contexto de sua sala é limitado. Ele até pode fazer isso, mas sabendo que é nesse nível que ele quer que os alunos dele se dediquem e oferecendo as bases para chegar lá. Ou seja, um avanço consciente e coerente. Já mostrando inclusive o outro lado da moeda, não adianta o professor nivelar por baixo e porque a sala inteira está contente e acomodada, isso é ensino. Quanto de conteúdo não se está mostrando? É até legal pensar que o professor tem o papel de mostrar o tanto que o aluno não sabe e despertá-lo para o próprio aluno correr atrás, pois ele não vai ser professor pela resto da vida dele para aquela mesma sala, nas mesmas condições, sempre que surgir uma dúvida.

3 comentários:

luciana*yoga disse...

nossa , isso que vc comentou sobre a agua eu aprendi em um templo budista;A água não escolhe recipiente ela se adequa à qualquer local , para a agua n existem barreiras , ela atravessa qualquer uma , a agua tambem nos lembra a transitoriedade de tudo , uma hora liquida em outra gasosa em outra ainda sólida( a vida É transitoriedade).
POis bem deveriamos ser como a agua mesmo.

Marcelo Schiavo disse...

Luciana, adorei seu comentário. E você lembrou muito bem o conceito fundamental de transitoriedade da água que é o que nos torna humanos, sempre projeto, sempre devir. Isso poderia ser aplicado da seguinte forma na educação: jamais seremos eternamente alunos, eternamente professores, e quanto mais descobrimos e conhecemos, mais sabemos que não há coisas que não sabemos e que nossa forma de pensar não é aplicável a todos, sempre temos novos paradigmas, novas turmas com caraterísticas distintas.
Outra coisa legal que você pensou no na capacidade de não apenas se adequar ao local mas atravessá-lo. Por mais morosa que seja, sua ação provoca mudanças. E nós somos verdadeiras máquinas de modificar tudo que nos cerca, até coisas que para o outro pode não ser compartilhadas/não existir.

Na minha opinião, já somos água. rs Mas somos tão únicos e tão complexos que chegamos num ponto em que precisamos recuperar/resgatar essas caraterísticas fundamentais. Não apenas no recriamos uns aos outros como nos destruímos uns aos outros, de várias formas, sadios ou não, o que a teoria sistêmica da autopoiese classifica como um sistema doente.

Agradeço seu comentário perspicaz.
Marcelo Schiavo

luciana*yoga disse...

Marcelo , eu que agradeço estou adorando fazer parte do blog , e eu nem gostava de blog rsrs .
Olha isso que você falou sobre todos aprenderem uns com os outros me lembra um saber muito oriundo do oriente , é um aforisma que diz o seguinte;
´´Todos são mestres``
Será que estamos aguçados o suficiente para perceber a maestria de todos os seres ?quando estamos podemos aprender até com um mendigo não é mesmo Marcelo , rs

Abraço