quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Discutindo sonhos

Há uma distinção entre as ciências naturais e humanas. Como o Merleau-Ponty escreveu no prefácio da Fenomenologia da Percepção:
"a ciência não tem e não terá jamais o mesmo sentido de ser que o mundo percebido, pela simples razão de que ela é uma determinação ou uma explicação dele."

Tem uma análise dessas considerações e outras no artigo A geografia e a experiência do mundo - Profa. Dra. Amélia Regina. Descobri procurando esta frase no google e achei bem interessante esse artigo. O prefácio desse livro do Merleau-Ponty é muito bem escrito, didático e pega o cerne da questão metafísica.

Isso envolve dizer que não podemos meramente considerar que uma vai substituir a outra pois mesmo que a neurociência descubra que os sonhos são feitos "disso e disso" e servem pra "isso e isso", continuaremos com a discussão do "die Traumdeutung" ou entendimento dos sonhos, que pra Freud é "die Traumauslegung", interpretação.

O método fenomenológico envolve acima de tudo uma atitude fenomenológica, resultando na redução fenomenológica, que seria, enfim, "colocar em parenteses" as considerações prévias sobre o fenômeno, assim como os achados neurocientíficos que seriam uma explicação do fenomeno, daí que permanecemos na análise da experiência vivida e sua compreensão. As explicações científicas então são secundárias e têm isso como base.

A diferença está na questão que Boss levanta: interpretar envolve verificar a simbologia, descriptar a bizarrice do sonho (no caso de Freud) ou utilizar a bizarrice como componente da simbologia e não algo a ser deixado de lado (Jung). Boss partindo do "zu Sachen selbst" de Husserl, "às coisas mesmas", atem-se ao que está lá, à experiência e intencionalidade da pessoa, dessa forma, um chapeu não quer dizer um símbolo fálico, mas de fato, um chapéu, nada "realmente" além disso.

Sobre o aspecto no consciente, foi por meio do "Waking Life" que eu entrei em contato com a teoria de que a atividade neural que "cria" o mundo em vigília é a mesma do sonho, com diferença que a reação e veracidade no sonho não é a mesma acordado, consequencia da adaptação ao meio.

O que eu considero incrível dos sonhos lúcidos é exatamente poder criar o que quiser. Quanta coisa que eu nunca tive na vida eu já pude experienciar sonhando, até mais do que esperava e ainda voltar pro sonho e conseguir viver de novo e mais intensamente (interessantemente eu conseguia isso bem facilmente quando era criança e tinha muita criatividade) Não obstante, são me fornecidas dicas para como aplicar isso na minha vida desperta e compartilhada.

Acho que essa é uma característica que temos a oportunidade de fazer e considero essencial: fazer dos sonhos realidade, uma espécie de Epicurismo, "fazer da vida uma obra de arte". Pois se fazemos arte em tetos de igreja e telas de pano, por que não com nós mesmos?

Eu já tive sonhos muito bons mas que não lembro detalhes que sejam suficientes para recriá-los, o que eu lembro é que eu me senti muito bem. Que mais podemos querer? Não existe droga melhor rs

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