segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Por quê nos acostumamos?

Chega uma hora em que nem apreciamos mais o raiar do dia , a beleza dos raios solares que irradiam -se por todos os lados misturando se às multiplicidades de azul no céu , nem observamos os movimentos das àrvores com o vento , o que dirá das filas de formiguinhas operárias que carregam alimentos com o triplo de seu tamanho em uma fila organizada (isso quando não as esmagamos).
Chega uma hora em que nos acostumamos com as pessoas , isso é triste , elas não nos causam mais nenhum deslumbramento , nem uma interrogação , dizemos :Ah estou acostumada com tal pessoa...ela é assim e pronto (como se soubessemos algo à respeito).
Parece muito igual todo dia , trabalho , faculdade , obrigações e mais obrigações , e a vida vai passando .Como vai seu dia? -Ah está tudo igual , vai indo!
Como podemos inventar um mundo estático e sem transformações , sem admiração? esse sim é um mundo que não existe .Como poderia uma experiência humana ser vivênciada duas vezes?já dizia um filósofo que não me recordo o nome no momento:´´Ninguém que entre em um rio poderá sair dele`` , isso por que ao sair a pessoa não será a mesma e o rio também não será o mesmo.
Quem já leu O mundo de sofia pode perceber como a atitude filosófica esta pautada no deslumbramento da vida , no olhar curioso , no despertar de uma criança que tudo quer saber e habita dentro de nós.
A vida é da ordem do acaso , a admiração é da ordem do belo , e pra quem tiver olhar é possível encontrar belo em tudo, em todos .
Todo dia , toda experiência , toda sensação , todo sentimento , cada segundo , é sempre novo , viver é a arte de apreciar aquilo que se nos mostra .

domingo, 27 de setembro de 2009

Há amor na terapia?

Nós somos máquinas de amor, amamos até o que não tem interação alguma conosco. É mais fácil encontrar as coisas em que não colocamos amor e ainda assim considerar investidas indiretas.

Só o fato da pessoa fazer psicoterapia, ir até o consultório, fazer o tratamento já implica amor, amor próprio. Ainda que não seja psicoterapia, mas terapia, como qualquer atividade que tenha como fundamento o "cuidar da alma", [i]terapon[/i], no sentido grego da palavra, já há amor subjacente.

sábado, 26 de setembro de 2009

Quando o que era relacionamento termina em suicídio


Algo que eu encontrei de muito interessante estudando sobre o suicídio, e que vale para outros comportamentos é: SE a pessoa precisa chegar ao nível de pensar em suicídio, já é motivo para precoupação.

Ainda que a pessoa não tivesse a capacidade de concretizar o ato, no mínimo pode ser entendido como um pedido de atenção. Aqui que ocorre o grande erro nos relacionamentos: "não vou dar o braço a torcer". Quando o intercâmbio não encontra complemento, começa esse jogo "quem prova mais?". Esse tipo de atitude foi a mesma que a namorada desse jovem chileno fez. Inclusive, para se chegar no pensamento de suicídio, já é prova cabal que não há diálogo de forma que se explicite as necessidades individuais, o que cada um quer e como se faz para alcançar isso. Considero boa prática ir além da "tacitacidade" dessas (de)limitações e falar abertamente sobre o que se quer no relacionamento.

É comum relativizar esses comportamentos, menosprezar, "psicologizar". Daí que vem a fala "as brigas são normais no relacionamento, nenhum é perfeito". E o que é discutido nas brigas? "Po***, eu odeio que vc fique fazendo isso e isso, que m****, por que que vc vive fazendo isso e isso? Já falei (na nossa última briga) que eu quero isso e isso".

Importante que essa prática não implica de maneira alguma voltar a ter/constituir o relacionamento, mas como pode algo que se estrutura ao longo de anos repentinamente terminar e as pessoas acharem que "tudo bem"? As pessoas utilizam o relacionamento como motivação, embasamento para ações, planos de vida, memória de momentos íntimos ou coisas em comum e para o lado negativo, co-dependência, muleta, culpado. Não há quem aguente essa mudança brusca e é interessante notar também que o rapaz tinha 26 anos, provavelmente formado, pelo menos com alguma profissão na carteira. Faixa alvo das estatísticas de suicídio.

É preciso segurar a onda e perceber que não foi fácil ter o relacionamento nem vai ser fácil sair (considerando relacionamento de vínculo forte, pois o "fast-relate" é tarefa artística levada a cabo pelos jovens nos encontros de massa via ranking de beijadas e encoxadas).

Respeitada as proporções, pensar e falar em se suicidar não é uma "cantada". Mesmo que isso se mantenha no relacionamento, não é "legal" nem de longe sinal de qualidade de um relacionamento ter a necessidade desse tipo de atitude, mostra inclusive como foi e se dá fracamente a forma como os envolvidos fomentam o bem estar do parceiro.

Tópico também no orkut.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Amizade entre homem e mulher

Um colega pergunta: Como a sociedade vê a amizade entre homem e mulher, sendo os dois heterossexuais? Há preconceito?

Engraçado que se pensa isso quando a questão é em relação ao sexo oposto.

Amizade já é uma situação em que há investimento de tempo, disposição, atenção, movimento, as "energias", pulsões, etc, seja qualquer for a ótica, científica ou não. Se pensarmos mais radicalmente, há relacionamentos de "amizade" para o qual o relacionamento conjugal da pessoa fica no chinelo.

Por que tal atividade humana só é considerada sob o prisma da "possibilidade de relacionamento de alto nível" (as 2,3,4,5 intenções) quando é para o sexo oposto? Quer dizer, partindo desse preconceito, uma pessoa que tem todo esse investimento para uma pessoa do mesmo sexo não trará considerações dos outros sobre a possibilidade de algo além da amizade.

Já na pergunta temos esse preconceito (que não é unanimamente negativo) implícito..."sendo os dois heterossexuais".

Essa amizade homem e mulher toma os contornos de algo "que pode mais" principalmente nos relacionamentos em que há "brechas" da parte de pelo menos um dos envolvidos. Existem situações em que não há nem a necessidade de se ter a amizade, um vínculo mais íntimo, tamanha a desconfiança, conflitos internos e carência de comunicação no relacionamento conjugal da pessoa.

Se formos considerar que a maioria dos casais encontraram seus parceiros no ambiente de trabalho, e iniciaram como colegas de trabalho, o pensamento é totalmente justificável.

Rogers no livro "Sobre o poder pessoal" relata um caso com uso da ACP em que o marido estava insatisfeito com o relacionamento e tinha interesse em se relacionar amorosamente com mais pessoas que tinham interesse também. Com o trabalho do Rogers, não só o marido como a esposa conseguirem outros relacionamentos e de quebra melhoraram o próprio relacionamento. Diálogo nesse caso fez toda diferença.

Eu faço parte de uma sala com 37 pessoas, sendo eu e mais dois "cuecas". Ou seja, tenho 34 mulheres como colega de sala. Chega a um ponto em que precisamos vencer as "determinações culturais" para o bom andamento do curso rs

Texto também em tópico no orkut.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Críticas ao texto da virtualidade nos relacionamentos


Crítica: "hoje em dia não precisamos mais dos inconvenientes de pessoas "reais" para vivenciar nossas fantasias"

Aí que tá a questão: as pessoas não precisam considerar o que o outro traz como inconveniente, vivendo as fantasias a dois, três, quantos forem, sem precisar ficar isolado em máquinas, exceto no caso em que a pessoa deliberadamente queira vivê-la "secretamente".

Ainda assim, há uma diferença entre querer vivê-la só e utilizar um instrumento para simular vivendo-a em conjunto, já considerando pela "via patológica", como restristo na sua relação com o outro, que é o que tentei empreender com o texto. A pessoa conhece perfeitamente uma modelo, ou seja, ele tem capacidade de conhecer e se relacionar com uma pessoa, mas essa pessoa ele jamais teve contato físico, jamais trocou palavras, sequer ela sabe de sua existência, ainda que ele conheça todos os meios de manuseá-la via o instrumento que a simula. Mas quando essas possibilidades são acessíveis e os únicos instrumentos são a própria pessoa, como no relacionamento eu-tu comum em que há reconhecimento da singularidade, desenvolvimento da sensibilidade, esse comportamento é simplesmente inexistente e inesperado.

domingo, 20 de setembro de 2009

Dever e solução como repressão de instintos

Numa pergunta de um usuário do orkut: Devemos reprimir nossos instintos? Reprimir nossos instintos primitivos resolve?

Há uma questão para o "dever de reprimir" e outra questão para a repressão ser a solução de algo que você não especificou mas que subentende-se por civilização.

Dever envolve um sistema ético e princípios morais, desenvolvido por Kant e é o fundamento do Direito atual, tem suas vantagens e desvatangens.

Na teoria do dever kantiano, devemos agir de tal que forma que nossas máximas sejam universalizáveis, tenham valor universal, sejam aplicáveis a todos, a humanidade, sem distinção de conteúdo, o chamado imperativo categórico. Respeitadas as críticas à teoria kantina (como conflitos de prioridades e conteúdo), para o princípio moral de repressão dos instintos para que se dê a boa convivência do grupo, eu devo reprimir meus instintos e os outros devem fazer o mesmo. "Deves porque deves" e não "Deves porque queres".

Nós da psicologia entramos aqui e na sua segunda questão, a repressão como solução para a civilização. Eu considero lacunar falar sobre isso sem assistir a alguns filmes que abordam esse assunto, como Ensaio sobre a Cegueira, Filhos da Esperança e Regras da Vida. Filmes que retratam a nossa civilização frágil e completamente sistêmica. Além da dificuldade já no conceito de instinto, principalmente após os estudos de Freud.

A repressão dos instintos resolve parcialmente. Parcialmente pois seria um erro considerar nossa evolução de forma restritiva e reducionista, sob o prisma da "doença" e "onde ela não se manifesta". E se formos pensar em civilização, repressão de instintos não é um conceito muito próximo de guerras, violência, sangue, destruição, ditadura, subjugação, desigualdade.


Numa outra pergunta dele sobre sermos personagens e não respeitarmos ninguém.

Uma premissa contradiz a outra. Viver como personagem teoricamente indicaria que seríamos todos falsos e suscetíveis.

Temos um monte de leis e dispositivos repressivos, respeitamos diferenças até demais, a tal ponto que desenvolvemos "doenças culturais" como o niilismo, estagnação cultural. Enfim, há conflito de deveres.

Inclusive, se nós fossemos menos "personagens" talvez respeitaríamos menos alguns absurdos e teríamos menos problemas com o niilismo.


Numa outra pergunta sobre o que fazer para quem não reprime...

Seja um "experimentador" e leia filosofia pré-socrática, Schopenhauer e Nietzsche rs


Texto integral no orkut.

sábado, 19 de setembro de 2009

Fatores filogenéticos e ontogenéticos

A grande dúvida que tem me batido esses anos é o quanto podemos atribuir de causas para o ser humano. Alguns genes não se manifestam no fenótipo, seja por questão de penetrância ou expressividade. Utiliza-se influência ambiental como critério nesses conceitos, em coerência ao conceito de adaptação ao meio via seleção natural da teoria darwiniana.

Mas até que ponto podemos nos delimitar nesse conceito uma vez que obtemos a capacidade de abstração elevada? Cada época cai por terra alguns paradigmas. A adoção, por exemplo, qualquer pessoa (respeitados os critérios) solteira acima de 18 anos pode adotar uma criança aqui no BR. Essa possibilidade de cria não mais direciona a matar as outras espécies humanas (os outros tipos de "homo" que não sapiens, não mais existentes) para território ou outros animais para comer pois não precisamos de carne na nossa dieta (considerando as exceções como vitamina B12). Nem o cuidado da cria visto que as babás e vós passam mais tempo com a prole do que os próprios pais. Nem sequer utilizamos métodos naturais (papai-mamãe) em função da probabilidade de erros genéticos, má formação.

Ok, mas aí você pode me perguntar sobre a tendência natural das pessoas se agruparem e desses grupos se institucionalizarem e buscarem/manterem o poder, desviando dos objetivos originais, no caso da guerra, ou de um hospital (mais preocupação com o salário e seguro-saúde do que salvar vidas), ou de uma escola (campo de treinamento para o vestibular), não seria isso resquício/nossas origens/causa?

Fiquei impressionado quando descobri que nascemos com uma cabeça (cérebro de 1300cm³) tão grande que nem conseguimos nos equilibrar até desenvolver força nos membros de sustentação. É uma "posição ontológica" considerar mais um fator do que o outro.

Este texto (com a participação de grandes colegas da área) também no orkut.

Determinismo e Homossexualidade

Existem vários determinismos: espiritual, racional, biológico, econômico, psíquico, ambiental, cultural, sistêmico, cognitivo. A interdisciplinaridade desses conceitos é praticamente impossível ou muito difícil pois nenhuma se firmou até agora nem foram pensadas de forma a interagirem. OU SEJA, se a biologia fala que é genético, mostra-se o gene gay e toma-se isso por base. Se for provado que o complexo triádico intrafamiliar é o que "causa gay" daí quem partilha dessa instrução e ontologia fala isso. Se for provado que existem gays por causa das propagandas de cerveja e brinquedos infantis, e assim por diante.

Atualmente pelo menos conseguimos impor leis e dispositivos repressivos que estabelecem a conduta a ser seguida de forma que se almeje universalidade e coerência aos princípios que regem o homem moderno (direitos humanos). ISSO QUER DIZER, há espaço para o gay independentemente de determinismos, ficando a critério das ciências e da filosofia o desenvolvimento desses conceitos.

ASSIM, partindo desses pressupostos e da pergunta "é escolha ou é determinado?", entra-se numa questão que tem fundamento no campo da teoria do conhecimento e sua discussão sobre a ontologia humana. Vale lembrar que é marcada por complexidade e conflituosidade, com consequências no campo da ética e da moralidade, principalmente com o fim das grandes narrativas e a contemporaneidade.

PORTANTO, ainda que se responda essas perguntas, já se estará implicado esse contexto filosófico, e para estudantes de psicologia e profissionais, tornam-se lacunares e até inúteis sem ter consciência desses fundamentos.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Comunicação entre homens e mulheres

Na teoria da comunicação, temos um axioma (cinco ao todo) que estabelece que toda comunicação tem aspectos referenciais (ou do conteúdo) e conativos (motivação/empenho/vontade/desejo), sendo que os conativos definem os referenciais. OU SEJA, a forma como se enuncia/interpreta a mensagem pode trazer outros significados. ASSIM, um conteúdo que nós homens entendemos como inútil e "fugaz" no caso das palavras singelas de uma mulher podem ter outro significado completamente diferente, de alta intensidade e utilidade para ela. Essa distinção de gênero não é regra, ainda que reforçada socialmente.

Cabe ressaltar que todos nós, não apenas fala, mas usa do chamado "não-verbal". Desde a forma de se vestir ao movimentar dos dedos e do corpo como um todo podem trazer vários significados.

Então, o que o senso comum tem por "Querer dizer uma coisa e fazer outra", "gostar e se fazer de difícil", "não tolerar erros iniciais", "ser ritualista e complexa", e assim por diante podem ser analisados sob esse enfoque de que todos são uma forma de comunicação (outro axioma, é impossível não comunicar), estão dentro de um contexto e antes de observar essas ações pela prisma da vantagem ("o que ganham"), do narcisismo ("o que querem"), da rigidez ("nunca toleram nada"), da sinuosidade ("outra coisa totalmente diferente") procurar perceber que nós (do ponto de vista masculino) temos parte nessa comunicação e nesse contexto, nós interagimos, a forma como nós damos continuidade/lidamos interfere nessa comunicação e no desenrolar do contato (outros 2 axiomas, a influência da pontuação na conversa e o intercâmbio de simetria ou oposição)

Nós também poderíamos analisar essas ações sob outras óticas, seja pelas competências interpessoais ou então por princípios "maquiavelianicos", mas eu acho essa muito mais positiva e engrandecedora, além de não precisar chegar aos excessos sexistas que abrem margem para várias intepretações e incoerências.



quinta-feira, 17 de setembro de 2009

´´Afinal qual o papel do Psicanalista em Lacan?``

Ultimamente tenho pensado muito no Luto que deve ser elaborado por parte do analista.
Se o analista tem que dar conta do recado do outro(ouvir , digerir e devolver) sem intervir com suas próprias questões subjetivas , ainda que faça análise e supervisão ele deve elaborar em sí sempre a morte do desejo . O desejo de responder exatamente de onde o analisando pede e não exatamente de onde o analisando precisa.
O fato é que de onde o analisando quer que o analista responda não necessáriamente significa o mesmo lugar de seu desejo( do analisando) , já que ele quer algo conscientemente e deseja outro algo que é o não dito , o analista vai fazer o trabalho de escutar exatamente aquilo que o analisando esta impossibilitado de dizer e intervir de onde o analisando precise para que possa falar , e em seguida perlaborar , ou mesmo o contrário.
O engraçado é que ao seguir o desejo inconsciente do analisando (sempre da ordem do não simbolizado ainda) o analista vai de encontro ao não querer consciente do analisando.
Seu trabalho deve ser o de implicar o sujeito com seu desejo , o de fazer o analisando que uma vez mal possuia saber ( consciente) sobre seu desejo , venha a poder se implicar com ele à fim de que não o precise repetir e possa o flexibilizar .
Pragmaticamente pode se parecer um trabalho bem cruel o do analista , e realmente assim pensando o é! Mas assim o é por ser necessário , de que outra maneira poderia o sujeito se haver com um mal gozar do inconsciente?Em um gozo que faz o Eu do sujeito sofrer?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"Patologia mental"

São necessárias 2 pessoas para existir as patologias mentais. Não podemos identificá-las via exame de sangue, nem por autopsia ou EEG no cérebro, menos ainda por alguma célula contaminada. Enquanto uma patologia biológica seria uma tosse, um catarro, na patologia mental isso ficaria circunscrito ao contexto das pessoas que se relacionam, especialmente uma querendo estigmatizar a outra pelo que ela pensa ou fala.

Não vejo que a "saída" seja abolirmos classificações como a do DSM (Manual Estatísticos e Diagnóstico de Doenças Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria) ainda que haja crítica suficiente para isso (doenças ali contidas como inventadas e não descobertas) pois elas nos são um norte e não tem a intenção de definir o conceito, apesar de ser usado assim e funcionarem como instrumentos repressivos, servindo por anos e anos como forma de maçonar indivíduos ao bel prazer dos senhores da razão e calcarem-se sobre solo epistemológico/ontológico lamacento.

Há uma grande diferença entre utilizar dados quantitativos e qualitativos para denominar os comportamentos comuns que caracterizam um contingente de pessoas, e outra é afirmar que as pessoas que se enquadram nesses quesitos são doentes. "Doenças são um mal funcionamento do corpo, nenhum comportamento é doença". Thomas Szasz

É interessante notar a única forma de se justificar o uso de tanta medicação, punições e a pseudomoralidade seja pelo diagnóstico de doenças mentais. Parte-se do pressuposto de que há algo dentro da pessoa doente, modelo que é herdado das ciências naturais. Há outras formas de ver a patologia, sem que seja necessário assumir esse pressuposto incoerente e determinista.

Recentemente, li sobre a teoria da comunicação humana, no contexto da teoria sistêmica, em que a patologia seria oriunda não de distúrbios e mal funcionamento do corpo e "da cabeça", mas da consequência de informações contraditórias passadas ao indivíduo, lógicamente impossíveis de serem obedecidas, como no caso do duplo vínculo, em que uma informação posterior é negativa e contrária à anterior, por exemplo, a situação em que uma mãe ameaça o filho: "se fizer isso vou te bater", e posteriormente dizendo ou agindo de modo a informar "eu não sou repressora", ou então a mãe pedindo "vá brincar com seus amigos" e posteriormente segurando o filho fisicamente ou pelo significado das palavras. Vale notar também que a teoria da comunicação propõe alguns axiomas, como a impossibilidade de não comunicar, a forma de dar continuidade e interpretar a comunicação.

Partindo desse aspecto que normalmente é introduzido pelo contexto da prática humanista seja por Rogers ou pela Daseinanalise, por que não procuramos ver todos nossos comportamentos sejam eles "diagnosticáveis" ou não pelo DSM como antes de tudo, uma forma de nos comunicar e interagir? Um pensar que é desaprovado socialmente tem fundamentos que por meio do "diagnóstico" são estigamatizados, como por exemplo, a homossexualidade que até pouco tempo atrás era doença como diabetes (¬¬) e até hoje tem seus resquícios.

Vídeo de referência - CCHR Speach:
http://www.youtube.com/watch?v=-P6_FwpVo_s

domingo, 13 de setembro de 2009

´´Perder o que sequer se possui``

A minha curta experiência Psicanalítica ( como estudante e como analisante) , cada vez mais me leva a perceber que fazer análise é perder algo que sequer se possui.Lacan fala do furo do real , e é neste furo do real que a análise se encontra , é nesta imcapacidade de o real conter um objeto imáginário, simbolizado pelo sujeito que a experiência analítica irá se dar . A frustração é tema central , ou seja o dano no imaginário causado por um agente real (analista). O dano no imáginário é exatamente este , a perda de algo que sequer se possui , este algo parece se materializar na pessoa do analista , ao que Lacan denomina de´´ objeto a `` causa do desejo.
Pode se pensar , pra que fazer análise se a perda , ou dano no imaginário é tão grande , visto que o esvaziamento de libido do ´´objeto a`` (final da análise) , é o resultado da própria perda deste objeto (imaginário)?Bom os ganhos também são grandes com certeza , e sentidos através de pequenas e grandes mudanças , ´´no discurso antes(mais) disconexo da vida`` , o analista esta fora da cadeia de significantes do analisando (objeto real), podendo intervir quando este mal-goza , atraves do corte da sessão.
O corte da cessão não é apenas uma barragem ao discurso desgovernado , ou repetido , o discurso ao qual o sujeito nem se dá conta , ela é o impulso que levará o sujeito a perlaborar seus sintomas , criando novas vias de acesso ao desejo , posto que ele sempre existirá , mesmo ao final da análise , o desejo é e sempre será a denuncia da falta do sujeito.
Se a análise realmente leva o sujeito a perder o que ele ao menos possui , o leva tambem a poder desejar , a se implicar com seu desejo e escolher de forma menos sintomatica os objetos parciais de acesso ao ´´bom gozo`` , este sim ignorado pelo analista .
Frente ao mau gozo o analista diz não , frente ao bom gozo o analista nada diz , este bom e mal não devem ser entendidos à maneira maniqueísta , eles devem ser entendidos como gozo perlaborado e gozo arcaico fruto da privação e desistituídos de uma implicação por parte do sujeito.
Por mais que seja um TRABALHO ao pé da letra se empenhar em um processo de análise , o ganho ( a despeito das perdas dos ´´lucros secundários da neurose``)tambem é muito grande , é o ganho de se implicar diretamente com a vida , o empoderamento , alem disso não entendo outra maneira de levar o sujeito ao auto-conhecimento que não seja o trabalho interior.

Tipos de abraço

É interessante perceber que há vários tipos de abraço. Cada um deles pode ter um significado e só ser executado para uma determinada pessoa. O abraço "de ombro" de pai/irmão, o abraço apertado para namorada, o abraço aconhegante da vó/mãe, o abraço mais extrovertido para os amigos, o abraço "político" para autoridades. Todos estes abraços têm sentimentos em comum e sentimentos particulares que expressam uma forma de se relacionar, de intimidade, de conduta (i.e., comportamento já culturalmente delineado).

O abraço envolve nós todos como corpo. Tudo o que sou e uso para me relacionar no mundo é usado no abraço. Mas nem sempre "sentimos" tudo que tocamos. Pensando em Augusto Boal, nossos sentidos vão sendo "atrofiados" na medida em que nos estabelecemos condições adversas e modos de nos relacionar limitados. Palavras têm tanto significado quanto o abraço, talvez até significados que não conheçamos significantes, mas deixamos escapar toda essa gama de expressividade, na medida em que nos tornamos mais automáticos, processados, "abstraindo seletivamente". Isso não se limita ao abraço. Será que realmente escutamos tudo o que ouvimos?

Provavelmente, meramente aprendemos a replicar o abraço pois queremos estabeceler algum rapport ou empatia. Não paramos para pensar sério sobre ele. Eu já tive experiências interessantes nesse sentido. Não sabemos a influência que exercemos no outro, e mesmo com algo que não tem muito som, ou use de elementos super decorativos, conseguimos obter efeitos invejáveis, como eu consegui com o primeiro abração na minha ex rs Num momento de despedida, sem conhecer muito bem a pessoa ou querer maiores comentários, abraços dão conta do recado.

Tópico com bons posts no orkut.

sábado, 12 de setembro de 2009

Para ter um sentido na vida é preciso co-existir?

"O único sentido íntimo das coisas / É elas não terem sentido íntimo nenhum". Alberto Caeiro (FP)

Isso para mim soa como ideologia. O fato de sermos "animais gregários", ou seja, deliberadamente nos juntarmos para facilitar as coisas que estão ao nosso redor, não justifica dizer que por isso teremos sentido de vida. O erro já começa do fato de não termos "vida", ainda que se convém usar o termo, pois somos existência. Utilizemos vida para os animais que são aprisionados numa única forma de viver e se relacionar. Eu, como humano, não passo a existir porque alguém está existindo comigo, agora, ainda que eu fosse sozinho no mundo, eu teria toda a forma de me relacionar com o outro, pois ontológicamente somos abertura.

Nascemos sós e morremos sós, e alguns entendem isso como abandono, com Sartre definindo esta forma de se relacionar como irresponsável. Quando se fala em sentido de vida e que isso envolveria "precisar de alguém", já definimos algo que não é inerente do humano que se caracteriza exatamente por não precisar de alguém para existir, se faz como existência independentemente do outro e sua vontade, e ter o nada como seu fundamento, daí então o conceito de intencionalidade, ele só é à medida em que é projeto, em que sua consciência é consciência DE alguma coisa.

Existe independemente do outro para ter moral e agir éticamente, conceito esse desenvolvido por alguns autores como Kant, Hegel, e os gregos clássicos, humano como autonomo, com capacidade de por ele mesmo e por meio de sua faculdade humana superior, a razão, ser dotado de princípios e uma conduta baseada com e pelo dever ou numa luta interior, "agonismo". Para Kant, a razão sozinha é suficiente para determinar e subjugar a vontade, agindo então não apenas de acordo mas pelo dever, de forma que sua máxima seja universalizável.


E o inconsciente? Já não é uma forma do relacionamento amoroso?

É importante deixar claro que aqui parte-se do pressuposto de que há uma entidade, um Eu alheio, dominante e encodificador que nos determinaria pelo que se constitui então psíquico. Até no mito intrafamiliar triádico, não há necessidade da presença física de um pai castrador ou de uma mãe acolhedora, pois, já em coerência com o contexto da Psicanálise, o que importa é representantes psíquicos.

Texto na íntegra no orkut.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O sentido da resistência ( se é que existe sentido )

´´O desejo é uma verdade para ninguêm até que seja decifrado``
Jacques Lacan
Ao iniciarmos o trabalho analítico , estudando ou fazendo Psicálise pessoal , logo nos deparamos com o conceito de resistência no primeiro caso e com sua vivência no segundo.
Podemos nos questionar por que tal resistência ocupa um lugar tão privilegiado na constituição de sujeito.Bom , porque inicialmente sem resistência o sujeito daria vazão aos seus instintos sexuais de forma desgovernada , a resistência é o reflexo da interdição do primeiro desejo que foi impossibilitado na tenra infância , o desejo de internalizar um objeto e aniquilar o outro . À isso Freud denomina complexo de édipo , fazendo alusão à tragédia grega de Sófocles èdipo Rei .Caso o sujeito não tivesse cursado naturalmente a interdição deste primeiro desejo , isso resultaria em um não sujeito , posto que a concepção de sujeito verifica seu inicio com o declinio do édipo dando lugar a uma gama de possibilidades ao sujeito para dar vazão ao desejo.
Embora o trabalho da Psicanálise precise´´ vencer as resistências uma a uma ``como nos diz Freud em as´´ Neuropsicoses de defesa -1894``, o sentido disto está em chegar ao núcleo arcaico do complexo edipiano que precisa ser resignificado , um núcleo patológico de projeção ou identificação que impossibilita o sujeito de viver seu desejo de forma menos sintomática.
As resistências não são ruuins em sí como podem parecer (um ultraje à própria análise) , elas são ontológicas do sujeito , e caso o analista saiba como manejar a transferência estabelecida à sua pessoa ele conduzirá a análise naturalmente , não vendo tais transferências como algo antagônico à analise , mas como a própria análise.

Papel do aluno, papel do professor

Paulo Freire desenvolveu a Pedagogia da Libertação em que há aprendizagem pelo diálogo e interação entre o professor e o aluno, utilizando-se temas contextualizados às vivências dos alunos.

Para mim, a aprendizagem tem de ser pautada na autonomia e no desenvolvimento de competências, ou seja, o aluno capaz de desempenhar um determinado papel em um determinado momento, eu ouso dizer, até sem o professor, ou mesmo nas deficiências deste. Isso quer dizer que um professor "ruim" não poderia ser desculpa para não aprender um conteúdo, nem que este falte na aula, ou que a metodologia de ensino não agrade, por mais difícil e desgastante emocionalmente que isso seja pois agora não há alguém guiando o caminho, e é claro que um professor que já tem experiência na matéria facilita e muito o percurso, além de mostrar uma visão do todo coerente de principio. Estudar por conta própria envolve mais responsabilidade, em decorrência da grande liberdade e autonomia visando o desenvolvimento da competência.

A aprendizagem não pode ser limitada a um professor, senão, como ficariam os autodidatas? Até me lembro de Bruce Lee numa entrevista dizendo que a melhor didática é aquela que você mesmo desenvolve, pois ela tem suas características. E isso está em coerência com sua metáfora "Be the water", "Seja a água!", em que a xícara seria limitada e a água se adaptaria à forma da xicara, ou seja, não seria fixa, rígida, mas seria flexível, indo por conta própria onde ela pudesse ir.

O aluno precisa ser a água. Isso passa longe de algumas instituições em que moldam o aluno de tal forma que se não houver professor, e acima de tudo, um bom professor, simplesmente não ocorrerá aprendizagem e pior, ocorrerá indignação, desilusões, perda na disposição, até selvageria. Apesar desses sentimentos serem perfeitamente compreensíveis e totalmente justificáveis, toda essa disposição em brigar, criticar, até essa vontade em fazer a pessoa desistir, toda essa vontade poderia ser melhor destinada se a pessoa a utilizasse para ler, simplesmente, ler. Nada muito complexo, até na própria língua em que a pessoa se alfabetizou. Até quem sabe, partindo para uma reunião, fazendo debates, usando a fala, escuta e posteriormente passando isso para escrita. Quem diria que algo tão simples fosse apelidado de "ideal".

Só o EAD já dá uma bela chacoalhada na necessidade de aulas presenciais, pois, o aluno lê, e sozinho. Nos bons cursos há audiovisual para tudo, ainda assim, sem ter o professor presente, fisicamente.

As críticas que eu já ouvi são inúmeras, e considero coerentes. Se pago, é pra ter aula. Ou seja, isso mostra o conceito que a pessoa tem de aula é institucionalizado. Eu pago e quero receber. Nada mais. Autonomia aqui não tem espaço, nada de adiantar conteúdo, pesquisar e debater previamente. Eu recebo na medida em que eu pago, coerente com o conceito de mercadoria, a aula como um produto adquirido, assim como a música e os livros comerciais. Aula é função do professor. Seminário nesse ponto já é um grande passo, daí o aluno "dá aula", recebendo o que deve receber. Novamente, considero coerente, tanto na crítica como no modelo. O que é importante destacar é o que eu chamo de "institucionalização voluntária" em que o aluno não tem como obter o conhecimento pelo simples fato de não ter tempo e no pouco tempo que tem, não há disposição. Novamente, coerente com o tipo de cidadão que queremos ter, limitado, cansado, dependente, endividado.

Papel do professor: acima de tudo, saber o que a classe dele quer, contextualizar. Não adianta passar algo super avançado, vangloriando-se de ter tal conhecimento se ninguém acompanha ou se o contexto de sua sala é limitado. Ele até pode fazer isso, mas sabendo que é nesse nível que ele quer que os alunos dele se dediquem e oferecendo as bases para chegar lá. Ou seja, um avanço consciente e coerente. Já mostrando inclusive o outro lado da moeda, não adianta o professor nivelar por baixo e porque a sala inteira está contente e acomodada, isso é ensino. Quanto de conteúdo não se está mostrando? É até legal pensar que o professor tem o papel de mostrar o tanto que o aluno não sabe e despertá-lo para o próprio aluno correr atrás, pois ele não vai ser professor pela resto da vida dele para aquela mesma sala, nas mesmas condições, sempre que surgir uma dúvida.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Medo ou Paixão ?

Para Jacques Lacan (Psicanalista Francês), o que faz do outro desejável é justamente a falta que ele denuncia ao sujeito . Podemos pensar ao Ler´´ Sobre o Narcisismo : uma introdução`` do Dr. Sigmund Freud -1914, que o sujeito enquanto fálico é a causa do desejo ´´o ego deseja incorporar este objeto ``.
Ao discorrer do mesmo texto Freud salienta que ´´A separação dos instintos sexuais dos instintos do eu , reflete a função dúplice do sujeito. Tal função dúplice seria a de dar vazão tanto aos instintos de plusão de vida quanto aos instintos de pulsão de morte.
Ao ler os textos de Freud , e através da própria reflexão que chegou como convite à minha psicanálise pessoal , tiro algumas conclusões precipitadas à partir daí ; A busca do sujeito pelo outro caso esteja direcionada à somente uma dessas duas instâncias que regem o desejo seria uma aniquilação das pulsões naturais .Ainda que saibamos que só é desejavel o que não se possui , aqui concordo com o texto de Marcelo Shiavo (postado no dia 7 de setembro) , o ser enquanto tal será sempre a denuncia da falta e não da posse do outro , ainda assim quanto mais amplamente o outro sugestionar que realizo no simbólico tais pulsões podemos crer que esta suprindo tal falta .

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Egocentrismo? Humanos individualistas?

Pra mim, egocentrismo seria considerar o humano como um ser faltante, carente, determinado pelas posses, que só se relaciona porque supostamente adquiriria posse e preencheria essa falta que se não fosse ontológica seria instalada pelos outros, daí então saber quem é feliz e quem não é. Essa concepção toma o ser humano por causa e estaria coerente com a afirmativa "eu TENHO relacionamento", "eu TENHO amor", "eu TENHO sexo". Uma maquina ideológicamente processada e enquadrada.

Eu parto de um princípio existencialista em que cada um faz para si mesmo, ser humano como projeto, transcendental, intencional. "Existência não é a necessidade. Existir, já está aí, simplesmente". Agir de forma individualista está numa dimensão "ôntica", contingencial a existência, relacionada à forma como a pessoa se relaciona com o mundo. Não posso ser eu e ela ao mesmo tempo, não haveria temporalidade e espacialidade que caracterizam a existência humana. Da forma como propõe, relacionamento estaria mais para um imperativo categórico, um dever universal, inquestionável sem qualquer distinção de conteúdo.

Relacionamento amoroso nem pela ética helenística (prazer) seria coerente considerá-lo uma vontade ou necessidade indispensável.

Este texto também no orkut.

"tranformam-no ao que lhes bem agrade."

Hoje, ao voltar de São Paulo, eu experienciei um desses momentos que as pessoas chamam de "mágico". Pra variar, fugaz, repentino, lacônico.

Uma vez, numa situação oportuna, a professora doutora Maria Tereza Nappi, junguiana, disse-me que percebeu um conceito de Jung chamado "sincronia" acontecer comigo. Basicamente, ela descreveu como numa mesma noite e horário, sem que houvesse um motivo claro, uma palestra sobre neuropsicologia e a minha palestra sobre Bandura, com assuntos um tanto relacionados, aconteceram uma após a outra, num mesmo local, sem que isso tivesse sido combinado, e ainda mais pela conhecidência de ocorrem tão proximamente para que fosse suficiente uma saber da outra.

Pois bem, ao ler o comentário da colega graduanda de Psicologia, Luciana Moutinho, sobre a ação humana manipuladora, eu pensei "por que não ampliar esse conceito para a ação humana manipuladora em massa, a instituição?" O momento mágico que eu introduzi na primeira fase do post se encaixa perfeitamente aqui.

Enquanto estava olhando as construções na Bernadino de Campos, perto da Paulista, próximo de parar em função do vermelho no faról, eu avistei um mendigo começando a atravessar a rua. Ele não atravessou na faixa, bem antes. O suficiente para ter de diminuir a velocidade do carro antes do normal. Daí que, pra mim, nesses momentos de contemplação, há as grandes oportunidades de trazer à tona uma grande reflexão. O mendigo...acho que eles se cadastram e recebem uma carteirinha para conseguir serem tão distintos. Esse mendigo que eu vi e me fez reduzir antes do normal não era normal. Andar sinistro, cabisbaixo, lento, com passos duros e cambaleantes, cabelo (bem) grande (para cima), carregava uma lata de tinta média e azul sem tinta com alguns utensílios indicerníveis dentro, um saco de batata cheio sem batata, beje com um fio branco e longo saindo pelo fundo do saco, um cobertor preto com listras brancas dobrado, vestindo uma roupa simples, jeans sujo com uma camiseta preta. A única coisa que veio espontaneamente no pensamento: "ele tá carregando a casa nas costas". Esse é livre, ele não tem uma casa pra ir, ele é um andarilho, vagando de cantos em cantos, jogado na natureza de pedra, não precisando de carro pra se locomover, nem de chave para abrir o que lhe pertence. Daí os "biases" cognitivos começaram a interferir no pensamento:

O índio é totalmente independente. Ele planta e faz sua própria comida, sua própria casa, tem a sua própria forma de se divertir, de se ritualizar e contemplar. Mas, e já direcionando para o objetivo do tópico, como pode o mendigo que partilha desse mesmo tipo de liberdade do índio estar numa condição totalmente diferente de saúde e vida? Por quê? A instituição.

Estamos mais dependentes do que nunca no meio social urbano. Parece até que continuamos como quando nascemos, com a cabeça maior que nosso corpo e não conseguindo nos equilibrar, precisando da papinha dos outros para sobreviver. Essa é a mesma condição do mendigo. Totalmente instituicionalizado, olhando para ele sinto como se visse um castelo de areia, esperando um vento para se desfazer.

O mendigo está como dependente, e no fundo, todos nós estamos como ele. Dependentes mais ou menos de salário e do que construímos, explorando ou não os outros, e ainda conseguimos dizer que somos "independentes", seja financeiramente ou amorosamente. Não, não somos. Nós nos desenvolvemos de forma dependente, de tudo o que nos cerca, estabelecendo ainda, ideológicamente, essas condições como necessárias, faltantes. Vamos sendo moldados, um explorando um pouco do outro e cada um se equillibrando com seus pedaços.

O que é irônico, pois nascemos só, e morreremos só. Essa é condição ontológica humana, Heidegger a descreve bem. Nosso estado de natureza é a simplicidade. Mas conseguimos à medida que crescemos, não apenas perder esse estado de natureza para um estado de dependência, como conseguimos a proeza de abandonar o que nós tivemos por bom na infância, por sonhos, por desejos e curiosidades. Diz-se até que isso é "infantil" para o adulto. Quer dizer, crescemos para deixar os sonhos para trás, para manter uma condição limitada, centrada, estressada, medrosa, preocupada. Eu pensava que crescer fosse exatamente fazer esses sonhos se tornarem realidade...

Sobre a instituição, utilizamos seus dispositivos para definir os outros, pior, para avaliar o humano. Isso não se limita ao relacionamento como abordei nos posts anteriores, mas a tudo que o indivíduo desenvolve em sociedade. Isso é basicamente a avaliação pelas posses. Imagine o quanto é necessário de ideologia para transformar a experiência numa posse. É a única forma de fazer com que a pessoa se limite e desconheça suas potencialidades.

sábado, 5 de setembro de 2009

O que se busca num relacionamento?

Primeiro vc precisa definir a que tipo de relacionamento você está se referindo, amoroso, conjugal, familiar, animal.

A que pessoas você está se referindo, mulher, homem, adulto, criança, idoso.

Depois que tipo de orientação, sociedade, disposição socioeconomica e etc.

Como você já definiu "pessoas", é suficiente para demonstrar que estamos falando de interação, existência. Logo, definições evolucionistas como R sexo masculino (fecundação maior n de fêmeas) e r sexo feminino (cuidadora) não são suficientes para nos definir pois não é necessária a fecundação "in natura" para gerarmos um novo ser da nossa espécie. O que poderia se dizer é que somos autopoiéticos, recriamos a nós mesmos. Discute-se inclusive o quanto o homem é necessário em relação a isso. Por enquanto temos com certeza a biologia ao nosso lado pois é prazeroso para nós e todos os outros animais o acasalamento. Mas mais uma vez, com a capacidade superior humana de imaginação/racionalização, procuramos meios desse significado biológico ir por àgua baixo uma vez que o prazer está mais direcionado às maquinas que nós mesmos criamos do que ao sexo "em si".

Se você pretende buscar o relacionamento pelo prisma "universal", algo que seja comum para todos os povos independentemente das condições mencionadas acima, então você entra num campo mais comum da filosofia, que é o pensamento do todo, e provavelmente vai desembocar num conceito de ontologia humana embasado na filosofia voluntarista ou na filosofia existencialista que são as reações à metafísica e aos modos de conceber o humano ao longo do pensamento ocidental.

Para a psicologia, o que pode ter conexão direta de pesquisa são as formas de conceber esse relacionamento considerando todas as suas dimensões, por meio dos comportamentos e significados atribuídos ao longo da relação ou apenas pelos comportamentos num prisma anti-mentalista. Ou seja, nossa preocupação não seria tanto de procurar desvelar todos os fundamentos universais humanos mas como a potencialidade desses fundamentos se dá (já que eu sou abertura, o que é este outro para mim? - Dulce Critelli) nos relacionamentos que ela estabelece ao longo da vida. Vale lembrar por exemplo que isso envolve a concepção de coerência, ou seja, a pessoa manter comportamentos similares com pessoas e locais diferentes, ou então a criatividade, capacidade de inovar e flexibilizar sua conduta, chamado rapport erikssoniano.

Algo que eu li recentemente e tem fundamento na filosofia nietzschiana é o pensamento do corpo pelo corpo mesmo, ou seja, o que o corpo sente é o que queremos e o que estimulará nossa vontade de poder. Isso me faz pensar nas limitações que estabelecemos no relacionamento e na nossa vida como um todo e essa concepção é corrente em diversas teorias e práticas atuais na psicologia, principalmente nas que estudam a questão da liberdade e a ausência de causas para o existir humano.

Como vc pode ver, o caminho que pauta seu "o que" no relacionamento para uma relação de causa encontra lacunas e pouca autenticidade, uma vez que limita e desconsidera a capacidade intencional humana, como por exemplo na expressão da arte (fundamento humano para Nietzsche).

Com essa base, a minha resposta tem mais sentido: o que se busca do outro é existência. Eu ainda não tenho um embasamento sintético dessa resposta, mas é basicamente conceber o relacionamento não como causa (eu tenho relacionamento para ter isso e aquilo) mas como consequência/contingência (eu SOU relacionamento). Tudo o que eu faço é relacionamento. Um relacionamento de uma forma específica não pode ser determinado como necessidade, mas como mais uma possibilidade, em coerência ao conceito de factiticidade, humano como jogado na natureza e contingência sartriana. Mesmo que algo não exista ou que seja um evento não compartilhado eu me relaciono. Independentemente se estou num relacionamento amoroso, eu já estou me relacionando. Daí que as perguntas iniciais começam a ter um sentido mais nítido. Pois aí sim eu passo a considerar o relacionamento amoroso não como um fim, necessidade, preenchimento de falta, dever, mas como possibilidade e diversidade de com quem, quando, como, onde, por que, pra que. Aqui se revelam todas as barreiras teóricas e ideológicas que nós podemos ter.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Casos de Saúde Pública

• Suicídio está entre as 10 maiores causas de morte no mundo, sendo a 3ª entre 15 e 34 anos e a primeira entre jovens dessa idade na China.

• 5 maiores países com índices de suicídio em número absoluto: EUA, Rússia, Índia, China e Japão.

• Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo são obesas, sendo mais de 65% da população americana obesa e mais de 40% da brasileira. Os EUA gastam cerca de US$147 bilhões por ano para tratamento da obesidade, 9,1% do total gasto em saúde.

• No Brasil, em 2003, 45,3% foi o gasto público do gasto total em saúde, índice baixo para países com sistema universal de saúde.
• Em 2006, 40 bilhões de reais foram destinados ao SUS, média de R$137 por habitante, 50 centavos/dia. Comparando com Canadá, dá menos de 10% do total investido em saúde pelo governo deste país que tem gasto público em saúde de 70% público do total. (dados da OMS)

• Na Argentina, 70,5% do gasto total em saúde é público. Cuba, 86,8%. Reino Unido, 85,7%.

• Nos EUA, 44,6% do gasto total é público, sendo 15% PIB (olha quanto, BR é 7,6%). Muita gasto e um dos menos eficiente. Quase 1 quinto do PIB deles é gasto em saúde e 47 milhões de cidadãos ou aprox. 10% não têm seguro-saúde.

• Nos EUA, o financiamento público é levado a cabo pelo Medicaid (crianças, grávidas, incapacitados) e Medicare (idosos, acima de 65 ou em estágio terminal). O primeiro é verba federal e estadual, sendo 17% do fundo total do estado investido só nele, o último é investimento apenas federal.

• De cada dólar gasto em saúde nos EUA, apenas 4 centavos são para estratégias de prevenção.

• França: 96% população é atendida pelo sistema público.

• Na Itália, o sistema público de saúde é acessível somente para os cidadãos italianos. Turistas precisam do seguro-saúde.

• Em Cuba, cada habitante recebe de saúde US$ 275 por ano pelo governo.

Referências:
Documentário SOS Saúde - Michael Moore
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/09/080910_suicidiochinafn.shtml
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_prevencao_suicidio_saude_mental.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Suicídio
http://portaldocoracao.uol.com.br/ansiedade-e-depressao.php?id=3501